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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

ÁRVORES COMO MOEDA NO MERCADO DE CARBONO

Quem nunca viu o primeiro balanço suspenso por cordas amarradas em um galho perfeito de árvore como a imagem da infância mais pura e divertida? Quem já subiu na árvore para colher frutos e comer na companhia dos amigos da juventude?

Talvez muitos moradores das cidades de concreto não tiveram essa experiência como rotina, mas pelo menos já viveram a expectativa de passar um feriado em um ambiente com forte presença de natureza: praia, chácara, hotéis fazenda ou mesmo querer ver sucesso ao cuidar de uma plantinha.

E todos já perguntaram ou responderam a famosa pergunta: será que vai chover hoje? Está chovendo aí? Aqui está! Começamos a nos acostumar com a ausência de chuva. O reflexo é observado pelo consumidor quando os alimentos encarecem. E no bolso, para os agricultores. A influência não é só ligada ao dólar, mas a falta de chuva na plantação dos mais de 5 milhões de agricultores no Brasil (CENSO, 2019).

As árvores oferecem alimentos e produtos puros, acessíveis e diversificados. Quem já analisou mercados, buscou empreender, percebe a influência do clima para alcançar resultados nos projetos. O capital natural é a maior riqueza neste planeta que tem evidenciado mudanças climáticas gigantes.

A árvore é a protagonista do mercado de carbono, que foi alavancado pelo Protocolo de Kyoto em 1994, por representar uma tecnologia natural de captação do gás CO2 que provoca o efeito estufa.

Desde então, as indústrias de países desenvolvidos têm de neutralizar as emissões atmosféricas e os países em desenvolvimento são o foco  para receber a transferência de tecnologia para captação de carbono. Com a vantagem de extensão territorial tropical do Brasil, ele é um dos principais players deste mercado.


Como incentivar a preservação e plantio das árvores? O que mudaria a chave de pensamento das pessoas?

Presença de indústrias nas cidades é sinônimo de emprego, melhoria do padrão  de vida, do poder de aquisição e dignidade. E como ficam as questões ambientais? Estas são primordiais  para manter-se a qualidade de vida e a saúde ambiental.

A regularização das operações industriais sustentáveis tem crescido. Através de monitoramento obrigatório de emissões atmosféricas, da emissão de ruídos, contaminação de solo, tratamento de resíduos, tratamento de efluentes e de água. Órgãos ambientais estaduais e federais fiscalizam e emitem pareceres sobre os empreendimentos. Na Inglaterra, estima-se crescimento de 85% de empregos relacionados a sustentabilidade nos próximos 10 anos2. Os  executivos com mentalidade sustentável se destacam. Adequam seus conhecimentos de processo com o desenvolvimento limpo para manter-se na função.

As empresas correm por lucros crescentes, mas precisam reduzir as emissões de carbono. Uma das ferramentas é a melhoria dos processos e desenvolvimento de catalisadores. Outra ferramenta ascendente é a  economia circular, em que um resíduo tratado retorna à cadeia produtiva como matéria-prima.

As emissões individuais e as emissões provenientes das indústrias aumentam conforme o mercado consumidor aumenta. Reduzir as emissões pode vir  do reaproveitamento das embalagens, sistemas de refil de preenchimento, consumo de produtores regionais para reduzir emissões do setor logístico, por exemplo. Para um mercado ético, seria necessário um sistema regulatório que centralize informações de moradia, deslocamento, valores de mercado entre consumidores e produtores. A concorrência internacional e dentro de casa seria forçada a ser revista quanto aos valores de mercado. O mundo ganharia com esse sistema. O consumidor preferindo produto regional acumularia créditos de carbono, pois as emissões seriam reduzidas.

Conforme as avaliações positivas sobre custo-benefício de um determinado fornecedor, ele pode receber produtos oriundos da economia circular. É uma nova moeda, crédito de carbono compra produtos.

Como calcular as emissões? Cada atividade ou transformação química tem um fator de emissão de gás de efeito estufa. Estes fatores são utilizados em plataformas desenvolvidas por engenheiros ambientais como o CarbonZ  (www.carbonzappp.com.br ) criado pelo Grupo Ambipar primeira empresa ESG do mercado . Ao final de calcular seus consumos, o aplicativo oferece o serviço de plantio, instalação de um código QR para monitoramento da localização e a quantidade correspondente de árvores que precisam ser plantadas para neutralizar suas atividades naquele período. Por exemplo, cada árvore neutraliza em média 163,4 Kg de CO2.

A seleção de área de plantio das árvores está associada aos programas de recuperação de mananciais, protegendo o Aquífero Guarani e o Grande Amazônia. É um trabalho que tem atraído muitas empresas parceiras que visam  entrar no sistema idealizado para atribuição de crédito de carbono oferecendo vantagens na aquisição de seus produtos.

Com necessidade de investimento internacional e territórios a serem recuperados  no Brasil , o mercado de carbono tem aqui o melhor pátio para se desenvolver. A riqueza existente no solo deve ser administrada conforme os programas sustentáveis de plantio.

 O governo aumentou presença militar na Amazônia, colocando no comando do Ministério da Defesa a agenda de proteção do ecossistema.  Através do projeto Verde Brasil 2. Um aporte  de R$ 530 milhões oriundos dos acordos da Lava-Jato, foi repassado para o projeto, por determinação do STF. Está sendo criado o Cadastro Nacional de Serviços Ambientais, que regulamenta o pagamento de conservação da biodiversidade, a proteção do solo e das águas e a regulação do clima, segundo informações da Agência Brasil.

Desde que os investimentos alemães e noruegueses foram suspensos do FUNDO AMAZÔNIA, mais de 68 milhões de euros deixaram de entrar no país em 2019. A manutenção dos 103 projetos em andamento contínua para controle do desmatamento e preservação do patrimônio mundial, mas não são eficazes diante da imensidão da área. A Petrobrás contribui com 1% do que era investido no FUNDO e não é suficiente para aprovar novos projetos. Após um ano desta suspensão o quadro de focos de incêndio para abrir áreas de cultivo agrícola e na maioria dos casos, grilagem em território público, aumentaram.

Em 2019, foram 30900 focos de incêndio, enquanto que 29.307 focos só em agosto de 2020. O segundo maior número dos últimos dez anos, de acordo com o INPE. O Pantanal apresentou 5935 focos neste mês, tão alto quanto agosto de 2005, 5993 focos. Em área atingida, mais de 15% do que desmatou em 2019. O mês de agosto é conhecido pelos fortes ventos, que alastram ainda mais as queimadas.

Se o desmatamento não reduzir, a Europa e Reino Unido ameaçam paralisar a importação de produtos agrícolas brasileiros, o que acarretaria uma redução da exportação de mais de 10 bilhões de euros, dos quais 1,5 bilhão provém da exportação da soja.

De 2004 a 2012, o desmatamento reduziu 80% de acordo com o INPE e, em seguida retrocedeu. Se Alemanha, Noruega e países desenvolvidos estivessem presentes financeiramente e ainda aplicando seus conhecimentos tecnológicos, talvez estaríamos progredindo para biocompostos anti-chama aplicados previamente ao mês dos ventos, afirma a engenheira bioquímica Bianca Ayres. Outro exemplo de desenvolvimento, oriundo de investimento privado, é o drone Atobá de 500 Kg, e autonomia de 250km, produzido pela startup carioca Stella Tecnologia. É um passo para auxiliar na fiscalização das atividades de grilagens. Os investimentos noruegueses e alemães que não entraram poderiam ser fonte de projetos de progresso como esses, com resultados significantes  para o mundo e retornos para  o IDH regional.4

Os interesses imediatistas de grandes grileiros e o baixo IDH de uma população aproximada de 30 milhões de pessoas na Amazônia Legal é combustível para a degradação da riqueza mundial instalada no Brasil. Enquanto essa gangorra de interesses regionais não for alicerçada para a sustentabilidade e preservação, a causa-raiz continuará aumentando os focos de incêndio.

 

Acordo de Paris e as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, em inglês)

Em 21 de setembro de 2016, o Brasil entregou as NDC para a ONU comprometendo-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030.

O reflorestamento não está acontecendo na devida proporção e o desmatamento emitindo mais gases de efeito estufa está contribuindo negativamente. Programas associados ao mercado de carbono são um caminho para incentivar a colaboração dos setores econômicos.

As queimadas aceleram as mudanças climáticas. Como reverter isso com compromisso em território brasileiro?

Há flora com 200, 300 anos na Amazônia e preservá-la é infinitamente mais vantajosa do que reflorestar. Florestas nativas contém valores de enraizamento incomparáveis a florestas replantadas. Mesmo com o solo arenoso da Amazônia, a mata nativa prevalece exuberante. . Esse patrimônio incomparável que o Brasil tem, o qual pode gerar riquezas sustentáveis, depende das diretrizes governamentais e das ações e projetos dos movimentos no país.

O processo de proteção de mananciais e reflorestamento inicia com plantio de mudas pioneiras, que crescem rapidamente para sequencialmente se plantar as mudas mais dependentes de sombra. Perante um cenário de reflorestamento, a umidade relativa do ar é mantida e o ciclo da  água garantido.

Recuperar florestas é uma maneira relativamente fácil e altamente eficaz de contribuir para a redução dos efeitos das mudanças climáticas, garantindo os ciclos de chuva e o retorno da biodiversidade que é, sem dúvida, o grande patrimônio nacional.

É fundamental portanto que empresas e cidadãos assumam seu papel de responsabilidade com o futuro saudável.

Consumidores devem procurar marcas que primam por políticas sustentáveis, selos nas embalagens que indicam participação em programas de plantio e preservação. E calcular sua pegada de carbono através de aplicativos que mostram quão necessário é aumentar as árvores no planeta e reduzir seu perfil consumidor, optando por caminhos mais verdes.

 

 



Gabriel Estevam Domingos - Engenheiro Ambiental, Sócio-fundador da startup GED Inovação, hoje multinacional Ambipar Group onde ocupa o cargo de Diretor, possui dezenas de prêmios reconhecidos no setor dentre eles o de Jovem Embaixador Ambiental da ONU em 2011.

www.gabrielestevam.com.br

 

 

 

Referências:

1) https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/the-paris-agreement

2) The Association for Renewable Energy & Clean Technology. https://www.r-e-a.net/green-jobs-could-increase-85-in-10-years-with-government-support/

3) https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/food-farming-fisheries/farming/documents/agrifood-brazil_en.pdf

4) http://www.stellatecnologia.com/


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