Quem nunca viu o primeiro balanço suspenso
por cordas amarradas em um galho perfeito de árvore como a imagem da infância
mais pura e divertida? Quem já subiu na árvore para colher frutos e comer na
companhia dos amigos da juventude?
Talvez muitos moradores das cidades de
concreto não tiveram essa experiência como rotina, mas pelo menos já viveram a
expectativa de passar um feriado em um ambiente com forte presença de natureza:
praia, chácara, hotéis fazenda ou mesmo querer ver sucesso ao cuidar de uma
plantinha.
E todos já perguntaram ou responderam a
famosa pergunta: será que vai chover hoje? Está chovendo aí? Aqui está!
Começamos a nos acostumar com a ausência de chuva. O reflexo é observado pelo
consumidor quando os alimentos encarecem. E no bolso, para os agricultores. A
influência não é só ligada ao dólar, mas a falta de chuva na plantação dos mais
de 5 milhões de agricultores no Brasil (CENSO, 2019).
As árvores oferecem alimentos e produtos
puros, acessíveis e diversificados. Quem já analisou mercados, buscou
empreender, percebe a influência do clima para alcançar resultados nos
projetos. O capital natural é a maior riqueza neste planeta que tem evidenciado
mudanças climáticas gigantes.
A árvore é a protagonista do mercado de
carbono, que foi alavancado pelo Protocolo de Kyoto em 1994, por representar
uma tecnologia natural de captação do gás CO2 que provoca o efeito estufa.
Desde então, as indústrias de países
desenvolvidos têm de neutralizar as emissões atmosféricas e os países em
desenvolvimento são o foco para receber a transferência de tecnologia
para captação de carbono. Com a vantagem de extensão territorial tropical do
Brasil, ele é um dos principais players deste mercado.
Como incentivar a preservação e plantio das
árvores? O que mudaria a chave de pensamento das pessoas?
Presença de indústrias nas cidades é sinônimo
de emprego, melhoria do padrão de vida, do poder de aquisição e
dignidade. E como ficam as questões ambientais? Estas são primordiais
para manter-se a qualidade de vida e a saúde ambiental.
A regularização das operações industriais
sustentáveis tem crescido. Através de monitoramento obrigatório de emissões
atmosféricas, da emissão de ruídos, contaminação de solo, tratamento de
resíduos, tratamento de efluentes e de água. Órgãos ambientais estaduais e
federais fiscalizam e emitem pareceres sobre os empreendimentos. Na Inglaterra,
estima-se crescimento de 85% de empregos relacionados a sustentabilidade nos
próximos 10 anos2. Os executivos com mentalidade sustentável
se destacam. Adequam seus conhecimentos de processo com o desenvolvimento limpo
para manter-se na função.
As empresas correm por lucros crescentes, mas
precisam reduzir as emissões de carbono. Uma das ferramentas é a melhoria dos
processos e desenvolvimento de catalisadores. Outra ferramenta ascendente é
a economia circular, em que um resíduo tratado retorna à cadeia produtiva
como matéria-prima.
As emissões individuais e as emissões
provenientes das indústrias aumentam conforme o mercado consumidor aumenta.
Reduzir as emissões pode vir do reaproveitamento das embalagens, sistemas
de refil de preenchimento, consumo de produtores regionais para reduzir
emissões do setor logístico, por exemplo. Para um mercado ético, seria
necessário um sistema regulatório que centralize informações de moradia,
deslocamento, valores de mercado entre consumidores e produtores. A
concorrência internacional e dentro de casa seria forçada a ser revista quanto
aos valores de mercado. O mundo ganharia com esse sistema. O consumidor
preferindo produto regional acumularia créditos de carbono, pois as emissões
seriam reduzidas.
Conforme as avaliações positivas sobre custo-benefício
de um determinado fornecedor, ele pode receber produtos oriundos da economia
circular. É uma nova moeda, crédito de carbono compra produtos.
Como calcular as emissões? Cada atividade ou
transformação química tem um fator de emissão de gás de efeito estufa. Estes
fatores são utilizados em plataformas desenvolvidas por engenheiros ambientais
como o CarbonZ (www.carbonzappp.com.br ) criado pelo Grupo
Ambipar primeira empresa ESG do mercado . Ao final de calcular seus consumos, o
aplicativo oferece o serviço de plantio, instalação de um código QR para
monitoramento da localização e a quantidade correspondente de árvores que
precisam ser plantadas para neutralizar suas atividades naquele período. Por
exemplo, cada árvore neutraliza em média 163,4 Kg de CO2.
A seleção de área de plantio das árvores está
associada aos programas de recuperação de mananciais, protegendo o Aquífero
Guarani e o Grande Amazônia. É um trabalho que tem atraído muitas empresas
parceiras que visam entrar no sistema idealizado para atribuição de
crédito de carbono oferecendo vantagens na aquisição de seus produtos.
Com necessidade de investimento internacional
e territórios a serem recuperados no Brasil , o mercado de carbono tem
aqui o melhor pátio para se desenvolver. A riqueza existente no solo deve ser
administrada conforme os programas sustentáveis de plantio.
O governo aumentou presença militar na
Amazônia, colocando no comando do Ministério da Defesa a agenda de proteção do
ecossistema. Através do projeto Verde Brasil 2. Um aporte de R$ 530
milhões oriundos dos acordos da Lava-Jato, foi repassado para o projeto, por
determinação do STF. Está sendo criado o Cadastro Nacional de Serviços
Ambientais, que regulamenta o pagamento de conservação da biodiversidade, a
proteção do solo e das águas e a regulação do clima, segundo informações da
Agência Brasil.
Desde que os investimentos alemães e
noruegueses foram suspensos do FUNDO AMAZÔNIA, mais de 68 milhões de euros
deixaram de entrar no país em 2019. A manutenção dos 103 projetos em andamento
contínua para controle do desmatamento e preservação do patrimônio mundial, mas
não são eficazes diante da imensidão da área. A Petrobrás contribui com 1% do
que era investido no FUNDO e não é suficiente para aprovar novos projetos. Após
um ano desta suspensão o quadro de focos de incêndio para abrir áreas de
cultivo agrícola e na maioria dos casos, grilagem em território público, aumentaram.
Em 2019, foram 30900
focos de incêndio, enquanto que 29.307 focos só em agosto de 2020. O segundo
maior número dos últimos dez anos, de acordo com o INPE. O Pantanal
apresentou 5935 focos neste mês, tão alto quanto agosto de 2005, 5993 focos. Em
área atingida, mais de 15% do que desmatou em 2019. O mês de agosto é conhecido
pelos fortes ventos, que alastram ainda mais as queimadas.
Se o desmatamento não reduzir, a Europa e
Reino Unido ameaçam paralisar a importação de produtos agrícolas brasileiros, o
que acarretaria uma redução da exportação de mais de 10 bilhões de euros, dos
quais 1,5 bilhão provém da exportação da soja.
De 2004 a 2012, o desmatamento reduziu 80% de
acordo com o INPE e, em seguida retrocedeu. Se Alemanha, Noruega e países
desenvolvidos estivessem presentes financeiramente e ainda aplicando seus
conhecimentos tecnológicos, talvez estaríamos progredindo para biocompostos
anti-chama aplicados previamente ao mês dos ventos, afirma a engenheira
bioquímica Bianca Ayres. Outro exemplo de desenvolvimento, oriundo de
investimento privado, é o drone Atobá de 500 Kg, e autonomia de 250km,
produzido pela startup carioca Stella Tecnologia. É um passo para auxiliar na
fiscalização das atividades de grilagens. Os investimentos noruegueses e alemães
que não entraram poderiam ser fonte de projetos de progresso como esses, com
resultados significantes para o mundo e retornos para o IDH
regional.4
Os interesses imediatistas de grandes
grileiros e o baixo IDH de uma população aproximada de 30 milhões de pessoas na
Amazônia Legal é combustível para a degradação da riqueza mundial instalada no
Brasil. Enquanto essa gangorra de interesses regionais não for alicerçada para
a sustentabilidade e preservação, a causa-raiz continuará aumentando os focos
de incêndio.
Acordo de Paris e as Contribuições
Nacionalmente Determinadas (NDC, em inglês)
Em 21 de setembro de 2016, o Brasil entregou
as NDC para a ONU comprometendo-se a reduzir as
emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030.
Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia
sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030,
restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar
uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz
energética em 2030.
O reflorestamento não está acontecendo na
devida proporção e o desmatamento emitindo mais gases de efeito estufa está
contribuindo negativamente. Programas associados ao mercado de carbono são um
caminho para incentivar a colaboração dos setores econômicos.
As queimadas aceleram as mudanças climáticas.
Como reverter isso com compromisso em território brasileiro?
Há flora com 200, 300 anos na Amazônia e
preservá-la é infinitamente mais vantajosa do que reflorestar. Florestas
nativas contém valores de enraizamento incomparáveis a florestas replantadas.
Mesmo com o solo arenoso da Amazônia, a mata nativa prevalece exuberante. .
Esse patrimônio incomparável que o Brasil tem, o qual pode gerar riquezas
sustentáveis, depende das diretrizes governamentais e das ações e projetos dos
movimentos no país.
O processo de proteção de mananciais e
reflorestamento inicia com plantio de mudas pioneiras, que crescem rapidamente
para sequencialmente se plantar as mudas mais dependentes de sombra. Perante um
cenário de reflorestamento, a umidade relativa do ar é mantida e o ciclo da
água garantido.
Recuperar florestas é uma maneira
relativamente fácil e altamente eficaz de contribuir para a redução dos efeitos
das mudanças climáticas, garantindo os ciclos de chuva e o retorno da
biodiversidade que é, sem dúvida, o grande patrimônio nacional.
É fundamental portanto que
empresas e cidadãos assumam seu papel de responsabilidade com o futuro
saudável.
Consumidores devem procurar marcas que primam por políticas
sustentáveis, selos nas embalagens que indicam participação em programas de
plantio e preservação. E calcular sua pegada de carbono através de aplicativos
que mostram quão necessário é aumentar as árvores no planeta e reduzir seu
perfil consumidor, optando por caminhos mais verdes.
Gabriel Estevam Domingos -
Engenheiro Ambiental, Sócio-fundador da startup GED Inovação, hoje
multinacional Ambipar Group onde ocupa o cargo de Diretor, possui dezenas de
prêmios reconhecidos no setor dentre eles o de Jovem Embaixador Ambiental da
ONU em 2011.
Referências:
1) https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/the-paris-agreement
2) The Association for Renewable Energy & Clean Technology. https://www.r-e-a.net/green-jobs-could-increase-85-in-10-years-with-government-support/
4) http://www.stellatecnologia.com/
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