A expectativa é grande. Talvez maior do que todos
os inícios de anos letivos que cada um dos alunos e professores tenha sentido
em suas vidas. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 1,3
bilhão de estudantes tiveram suas aulas interrompidas em razão da pandemia da
Covid-19. No Brasil, a estimativa é de cerca de 47 milhões de alunos sem poder
frequentar as escolas.
As previsões mais pessimistas logo no início da
pandemia estimavam um retorno às aulas no início deste segundo semestre de
2020. Agora, o assunto sumiu das notícias e, de forma muito velada, fala-se em
setembro, talvez outubro. De qualquer forma, quando for seguro retomar as
atividades - seja qual for a definição de “seguro” – haverá, ainda,
naturalmente, uma volta das atividades presenciais.
Uma vez que esse regresso também é muito recente
nos países que tiveram que lidar com a pandemia antes do Brasil (já que a
retomada é realizada aos poucos), o “novo normal” das escolas têm envolvido
distanciamento, hábitos de higiene mais rígidos e a falta de abraços, Até aqui,
todos nós, por algum tempo, estaremos operando desta forma, seja escola ou em
qualquer local.
Uma das soluções encontradas por países como
Espanha, Itália e alguns grandes centros do EUA, como Nova York foi, de modo
geral, evitar a repetência dos alunos. Outras nações, por sua vez, estão
adotando estratégias de recuperação antecipada para reduzir os danos à
aprendizagem. No Brasil, talvez em virtude do nosso calendário escolar com uma
diferença de seis meses da Europa e da América do Norte, ainda não há
sinalização oficial dos governos sobre como lidaremos com essas questões.
Ao falarmos de defasagens de aprendizagem,
ampliação de desigualdades por falta de educação - ou do seu resultado - e até
mesmo de repetência, entra o contato com a realidade no retorno às aulas.
Teremos que lidar com essas situações. Pensar, por exemplo: qual seria a melhor
estratégia, uma vez que existem conteúdos a cumprir dentro das 800 horas
obrigatórias por lei, para o Ensino Básico? E os conteúdos necessários para o
Enem, como preparar os estudantes? Diante de tudo isso, como lidar com a
ansiedade de alunos, pais e professores? Afinal, todos já estamos tentando
aprender a lidar com o cotidiano, enfrentando crises de todos os tipos.
Urge pensar em algumas estratégias que, desde já,
podem ajudar em uma transição mais suave e em uma redução de danos, em especial
para a saúde mental de todos os envolvidos. Todos os índices educacionais e a
aprendizagem sofrerão reduções e não será possível trabalhar a quantidade de
conteúdos prevista. Essa deve ser a realidade. Colocar pressão sobre alunos e
professores para que se dê conta deste ano letivo, como se fosse normal, seria
como tentar correr uma maratona usando uma estratégia de 100 metros rasos, cujo
resultado seria não apenas não cumprir a prova, mas sair dela com lesões
difíceis de serem tratadas.
No retorno às escolas será preciso receber alunos,
professores e pais como heróis que sobreviveram bravamente a dificuldades
inimagináveis. Eles precisarão do apoio de todos para retomarem a vida,
imbuídos de uma vontade enorme de fazer um mundo melhor. E, estou certo, muitos
dos alunos buscarão aprender mais sobre a ciência e nela farão carreiras se
tiverem oportunidade, para que nunca mais tenhamos que enfrentar uma pandemia.
Marcos Paim - professor e diretor do programa STEM
Brasil da ONG Educando.
Educando
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