Estudo mostra que aplicativo gratuito identifica doenças congênitas com
80% de eficiência e até 15 meses antes do exame convencional.
No Brasil 70% dos casos de perda da visão na infância
estão relacionados às doenças congênitas desenvolvidas durante a gestação:
glaucoma, catarata, alguns casos de estrabismo e retinoblastoma ou câncer
ocular. De acordo com o oftalmologista
Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier estas doenças devem ser identificadas logo após o parto. O
diagnóstico é feito pelo "teste do olhinho" ou exame do reflexo
vermelho realizado com um oftalmoscópio, espécie de lanterna que joga luz na
pupila do bebê. “Em olhos saudáveis o reflexo da luz no olho é vermelho e
contínuo. Quando aparece uma leucocoria, reflexo esbranquiçado ou descontínuo
da retina, indica alguma doença
congênita”, explica.
O problema é que a última PNS (Pesquisa Nacional de
Saúde) realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que pouco mais da metade dos
bebês brasileiros, 51,1%, passaram pelo teste do olhinho
antes de completar o primeiro mês de vida. Isso porque, o exame só é
obrigatório no Distrito Federal e em 16 dos 26 estados brasileiros.
Um
dia inesquecível
Queiroz
Neto ressalta que pode acontecer da doença congênita passar despercebida no
teste do olhinho. Este foi o caso de Eduardo Rodrigues. A mãe, Ana P. M.
Rodrigues desconfiou que o filho não estava enxergando bem e o levou ao oftalmologista. Queiroz Neto o
diagnosticou com catarata congênita nos dois olhos. A do olho esquerdo estava
bastante desenvolvida e por isso não era possível saber qual o resultado da
cirurgia de catarata já que os olhinhos poderiam ter outras doenças que nem
sempre podem ser visualizadas pelo médico quando a catarata está avançada.
Quando Eduardo acordou da operação já estava identificando um quadro na parede.
“A cirurgia foi um sucesso. Nunca vou me esquecer deste dia”, afirma Ana. O cuidado da mãe salvou a visão da criança,
salienta Queiroz Neto. O acompanhamento oftalmológico na primeira infância,
mesmo quando o teste do olhinho não apresenta alterações, é muito importante,
alerta.
Aplicativo
A boa notícia é que de acordo com um estudo inédito
divulgado na revista Science Advances agora os pais podem usar a câmera
fotográfica do celular para registrar importantes informações sobre a visão do
bebê, além dos melhores momentos da primeira infância. Para isso, quem tem bebês em casa deve baixar
gratuitamente o aplicativo americano CRADLE ou White Eye Detector criado
por Bryan Shaw, professor da Universidade
Baylor
(Texas) e começar a tirar fotos da criança com o smartphone independente do
resultado do teste do olhinho na maternidade. Os pais podem confundir um leve
embranquecimento do reflexo na pupila, mas o aplicativo tem algoritmos que
detectam até a mais sutil leucocoria.
Prova disso são os resultados do estudo. O White Eye
Detector identificou com 80% de eficiência os casos de leucocoria
em mais de 50 mil fotos de 40 crianças tiradas em situações casuais. Para os
pesquisadores esta eficácia é maior que a do exame convencional. Isso porque, a
manipulação do oftalmoscópio demanda colaboração do bebê, distância adequada e
controle de muitas outras variáveis.
Além disso o tempo para notar que um bebê não tem boa visão pode significar uma vida inteira sem
enxergar. O estudo também revela que a dificuldade em perceber que a visão
encontra obstáculos na primeira infância faz com que a identificação pelo
aplicativo anteceda em média 15 meses o diagnóstico tradicional.
Teste online
Queiroz Neto afirma que a primeira consulta oftalmológica
geralmente é feita aos 2 anos quando os pais usam óculos e aos 3 anos quando
não usam. Para viabilizar o acesso das crianças de todo o país à triagem visual
o hospital disponibiliza no site www.penidoburnier.com.br testes
online autoexplicativos. O oftalmologista ressalta o aplicativo White Eye
Detector e os testes online facilitam a identificação dos problemas de
visão na infância, mas não substituem a consulta. Crianças de até 3 anos,
explica, devem ser submetidas à triagem com a carta de Snellen figuras. Nas de
4 e 5 anos pode ser utilizada a carta de Snellen de ganchos e a partir dos 6
anos a carta com o abecedário. "Nossa integração com o meio ambiente
depende em 85% da visão. Estudos mostram que a maior causa de evasão escolar é
a dificuldade de enxergar. Proteger a visão das crianças é apostar num futuro
melhor", conclui.
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