Aproveitando o
Setembro Amarelo, médico ressalta que a chave da prevenção ao problema é o
diálogo
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos de suicídio poderiam ser evitados. De acordo com a entidade, o problema figura como a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.
"Percebo que cerca de 80-90% dos jovens que atendo, após tentativa de suicídio, não manifestaram esse ideal antes aos familiares e amigos. A fala principal deles é 'fui engolindo dores e angústias, fui escondendo que estava mal e de repente me vi fazendo aquilo contra minha vida' ", conta Dr. Ygor Czovny, psiquiatra da Clínica Maia.
Para o médico, principalmente os adolescentes têm dificuldades em dar nomes a muitos sentimentos e situações que ocorrem em seu estado emocional. Não gostam de falar do que sentem, e, muitas vezes, não sabem como efetivamente se expressar da melhor maneira.
Desse modo, aproveitando o Setembro Amarelo, o mês de prevenção ao suicídio, o especialista explica que é preciso mais espaço para falar sobre os sentimentos e mostrar que a melhor escolha sempre é a vida e que pedir ajudar é a única solução. "Para notarmos efetivamente se o adolescente apresenta risco de suicídio, é vital abrir mais o diálogo, sobretudo em casa, e ajudá-lo a expressar esses sentimentos de angústia e desespero. As famílias estão se comunicando pouco, não há muita orientação, conselho, conversa, o que há, infelizmente, no dia a dia é bastante trabalho, tarefas, longos períodos só navegando no celular, e pouco tempo para sentar e ouvir o outro", alerta.
A psicóloga, também da Clínica Maia, Iara Santos, afirma que o suicídio, que é a maior consequência da depressão, tem aumentado significativamente entre os jovens, e, segundo ela, as redes sociais podem também estar ligadas a isso. "A depressão é uma doença multifatorial, mas existem gatilhos para desencadeá-la. As redes sociais, por exemplo, se tornaram um fator agravante nesse contexto, devido à exposição de ideais de vidas inacessíveis para a maioria da população, principalmente o jovem, que, cada vez mais, busca aprovação contínua e utiliza as redes para atingi-la. Ao não conseguir, sentem-se extremamente frustrados, e é aí que eles ficam deprimidos e com a autoestima lá embaixo, o que faz com que se sintam sem esperança e sem perspectiva de futuro", esclarece.
Ygor complementa e destaca que dentro do consultório, a depressão é um dos transtornos mais comuns entre pessoas na faixa etária juvenil. "Cerca de 70% dos adolescentes que atendo apresentam sintomas da doença. E, por isso, é importante sempre estar atento há alguns sinais de alerta, como perda do interesse no ambiente escolar, muitas vezes com abandono da rotina, isolamento social e ausência de autocuidado", enfatiza.
Iara cita também falta de apetite, explosões de raiva e irritabilidade. "De alguma forma, a pessoa sinaliza que algo não vai bem e é importante dar atenção a isso. É essencial observar principalmente as mídias sociais, onde os jovens verbalizam muito seus sentimentos negativos e, em muitos casos, pensamentos e planejamentos de atentar contra a própria vida", ressalta.
Para os especialistas, o problema, que ainda é um grande tabu, pode não ser previsível, mas ele pode, muitas vezes, ser "prevenível". De acordo com o psiquiatra, o adolescente precisa perceber que possui uma rede de apoio forte que inclua familiares, amigos e também a instituição escolar. Esse é um aspecto fundamental na recuperação da saúde mental.
"Os adolescentes e jovens adultos têm, em sua maioria, maior facilidade de encarar novos desafios, são mais propícios a novas possibilidades e novas formas de viver. Nomeamos isso de 'neuroplasticidade cerebral', que é a capacidade que o cérebro tem de se reconstruir e remodelar, o que beneficia muito o desenvolvimento do tratamento do problema. E é claro: a família e a escola são duas estruturas que precisam trabalhar em conjunto com o paciente nesse processo", completa.
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