Este tempo de transição nos
têm obrigado a rever nosso modelo de relação com o mundo, com as pessoas e
conosco. Somos provocados diariamente a reconsiderar uma certa forma linear de
pensamento para uma abordagem sistêmica e complexa de lidar com as situações
mais rotineiras.
Nas organizações, os tempos
parecem ainda mais desafiadores. Um ambiente de incertezas, ambiguidade e
complexidade, no qual temos que lidar com um alto nível de estresse cotidiano,
numa busca frenética pelo atingimento de mais resultados no menor tempo
possível.
Esse cenário contribui
imensamente para uma incapacidade de relacionamentos conectados e autênticos.
Nesta emergência, na qual parece não haver mais o tempo da Presença, da
Reflexão, do Diálogo ou da Empatia, nos perdemos em nossos sentimentos, nas
expectativas, nos julgamentos, nas necessidades, percepções e ações.
Vivemos ainda hipnotizados
pela tecnologia, que nos permite estar em vários lugares ao mesmo tempo. Tudo é
muito rápido, com distanciamento, individualismo, superficialidade nas relações
e ilusão de que somos separados uns dos outros. Enfim, são muitos os fatores
que provocam relações conflituosas.
Personificamos os
conflitos” e “coisificamos” as pessoas
O conflito está presente nas
relações humanas, é natural e pode ser compreendido como positivo ou negativo,
de acordo com cada experiência. Os aspectos negativos do conflito são bastante
conhecidos para todos nós e tomam corpo efetivamente quando o espírito da
competição supera o da cooperação, transformando os personagens do conflito em
adversários e inimigos.
Personificamos os conflitos e
“coisificamos as pessoas” quando mergulhamos nas polaridades, aumentando o grau
de agressividade e violência. Seja por vaidade, interesses pessoais, agendas
ocultas, ignorância, percepções equivocadas, cristalização dos pontos de vista,
falta de contato com nossas próprias necessidades e sentimentos ou, ainda,
ausência de empatia, gerando uma grande desconexão entre as pessoas.
Entretanto, também é possível
experimentar o conflito como uma experiência positiva e transformadora, na qual
liberamos poderosas energias criadoras que podem ser convertidas em diferentes
resultados e gerar oportunidades nas organizações.
O conflito gerando
oportunidades nas organizações
Em uma organização que
necessita do trabalho coletivo para o atingimento de objetivos comuns, a
abordagem positiva de conflitos oportuniza diálogos mais abertos e autênticos.
Considera a ambiguidade, a complexidade a volatilidade, as incertezas e as
múltiplas inteligências.
O conflito é vivenciado como
uma janela de oportunidade para um pensar mais avançado. Convida a decisões mais
compartilhadas e inclusivas. Com isto, promove a busca criativa por soluções
mais abrangentes. Uma cultura que acolhe o conflito como uma possibilidade de
aprender promove relações de confiança e maturidade.
Em uma de suas obras, o
economista Friedrich Glasl afirmou que somente quando as pessoas forem hábeis
em conflitos, conseguirão trabalhar construtivamente com diferenças, atritos e
tensões. Ele aponta as seguintes habilidades como imprescindíveis para uma
convivência positiva com conflitos:
1 - Perceber claramente, o
quanto antes, fenômenos de conflito em si mesmo e nos arredores (observar-se e
observar o outro com curiosidade, suspendendo julgamentos)
2- Entender os mecanismos que
ajudam a intensificar os conflitos e conduzem ao envolvimento (arrebatamento)
3- Saber utilizar métodos para
expressar os próprios objetivos (cuidando para não piorar a situação)
4- Conhecer caminhos e saber
utilizar métodos que ajudem a esclarecer pontos de vista e situações
(compreendendo as várias facetas, inclusive as emocionais)
5- Reconhecer bem os limites
do próprio conhecimento e da aptidão, percebendo quando será necessário buscar
ajuda externa.
O potencial transformador e
positivo do conflito passa por sua desmistificação. Por refletirmos amplamente
sobre suas causas e efeitos, exercitarmos a suspensão de julgamentos,
compreendendo pontos de vista diferentes.
Passa por mudar a visão do
outro como um adversário para um parceiro de conflitos. Por aprender a
dialogar. Por ouvir mais e falar menos. Por investigar mais e responder menos.
Pelo autoconhecimento.
Passa, enfim, por “abrirmos
mão, pelo menos temporariamente, das nossas flechas envenenadas”, e
conversarmos, conversarmos, conversarmos... Curiosos por buscar um ponto de
solução e reconciliação para as relações que seguem na organização.
Vivian
Wolff - Coach de Vida e Carreira pelo Integrated Coaching Institute (ICI);
formada em Mindfulness pela Georgetown University Institute for
Transformational Leadership, Washington DC; com MBA em Marketing Estratégico
pela University de Catalunya, Barcelona.
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