Talvez
nem tudo aconteça na infância, embora seja o período de maior rapidez linear do
crescimento. Nossos órgãos ainda estão em estágios de desenvolvimento plástico.
Nós temos mais gordura do que quaisquer outras espécies, talvez para manter
nossos cérebros prodigiosos funcionando em tempos de fome.
Todos os dias fazemos grandes saltos
em termos de desenvolvimento neurocognitivo, motor e social. Ainda somos
dependentes de alguém para nos alimentar e para locomoção. Desta forma, não
devemos nos surpreender que o que acontece nos primeiros meses de vida possa
ser essencial para o nosso estado nutricional ao longo da vida.
Em um estudo, com
513.501 mulheres e seus 1.164.750 filhos foi observado uma associação
consistente entre ganho de peso na gravidez e peso ao nascer. Os bebês de
mulheres que ganharam mais de 24 kg durante a gravidez foram mais pesados ao
nascer do que os bebês de mulheres que ganharam de 8 a 10
kg. A chance de dar à luz uma criança com peso superior a 4000 g foi bem maior para mulheres
que ganharam mais de 24 kg durante a gravidez, em comparação com mulheres que
ganharam apenas 8–10 kg.
Outro fator importante é o peso ao nascer. No geral, a
preponderância das evidências epidemiológicas indica que o maior peso ao nascer
está associado ao aumento do risco de adiposidade na infância e na idade
adulta, conforme refletido pelo IMC (índice de massa corporal). Esses estudos
apoiam observações epidemiológicas que influenciam na vida fetal ou
pós-natal precoce, especificamente o excesso de nutrientes e a exposição à
insulina, podem ter impacto de longo prazo na regulação do peso corporal.
Da
mesma forma, vários estudos demonstram a associação de bebês com baixo peso ao
nascer com maior prevalência de obesidade central posterior, resistência à
insulina e síndrome metabólica.
O aleitamento materno protege o bebê
da obesidade infantil, independentemente do status de diabetes ou do peso
materno. Esses dados fornecem suporte para todas as mães amamentarem seus bebês
para reduzir o risco de excesso de peso na infância. Da mesma forma, crianças
que receberam mais leite materno do que a fórmula infantil ou que foram
amamentadas por períodos mais longos apresentam menor risco de excesso de peso
durante a infância e a adolescência.
A
introdução precoce da alimentação complementar não oferece vantagens para
a saúde dos bebês, podendo ser extremamente prejudicial. Entre os bebês
amamentados, o momento da introdução de alimentos sólidos não está associado
com a probabilidade de obesidade. Entretanto, entre os bebês alimentados com
fórmula ou bebês desmamados, antes dos quatro meses de idade, a introdução de
alimentos sólidos está associada ao aumento da chance de obesidade aos três
anos de idade.
Um novo paradigma de prevenção emergiu nos
últimos anos, evoluindo da noção de que fatores ambientais no início da vida e
no útero podem ter profunda influência na saúde ao longo da vida. Um grande
número de estudos demonstrou relações entre experiências fetais e riscos
posteriores para doenças crônicas em adultos, incluindo doenças cardiovasculares
e seus fatores de risco, câncer, osteoporose, diabetes, desfechos
neuropsiquiátricos e doenças respiratórias.
O ganho de
peso materno durante a gravidez aumenta o peso ao nascer independentemente de
fatores genéticos. Em vista da aparente associação entre peso ao nascer e peso
adulto, os esforços de prevenção da obesidade direcionados às mulheres durante
a gravidez podem ser benéficos para os filhos
Dr.Hugo da Costa
Ribeiro - pediatra especializado em doenças metabólicas e infecciosas, Fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de
Cornnel em New York e professor Associado do Departamento de Pediatria da FMB
da Universidade Federal da Bahia. Tem
experiência na área de Medicina, com ênfase em Nutrologia Pediátrica. Também
foi consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da
Saúde
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