Em 31 de outubro de 2018 foi publicada pelo World Bank
Group a nova edição (2019) do relatório Doing
Business. Trata-se de um importante documento anual sobre a
facilidade de se fazer negócios em diferentes economias no planeta, que
apresenta análises e classificação (ranking) para 190 países selecionados. O
relatório é bastante utilizado por empresas, por pesquisadores acadêmicos e
pelos governos interessados no entendimento do ambiente de negócios em regiões
diversas. Ao dissecar o contexto em que as empresas atuam nos países, o
documento fornece insights para estratégias de
negócios, ações empresariais e mudanças nos quadros regulatórios e
institucionais que afetam os mercados e o próprio processo de crescimento
econômico. Nesta última edição houve ênfase analítica para a relação entre
reformas (nos marcos regulatórios) e melhorias possíveis nos ambientes
nacionais de negócios. No Brasil, observou-se melhoria de posição no ranking
geral (Ease of doing business rank): saltamos de 125ª para 109ª,
entre os 190 países analisados.
A nova posição do Brasil no ranking geral está
ligada, entre outros fatores, ao desempenho do país no quesito Starting a
business (iniciando um negócio), em que fomos da posição 175ª
(edição anterior) para 140ª (atual), representando melhora significativa. Esse
item busca mensurar tempo, etapas e custos para se abrir uma empresa nas
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que, por sua vez, vem adotando
procedimentos online para estimular a abertura
de novos empreendimentos. Em São Paulo, com a adoção do programa “Empreenda
Fácil”, iniciativa que visa simplificar e acelerar os processos de abertura,
licenciamento e fechamento de empresas na cidade, houve expressivo avanço
nestes campos a partir de 2017. Outro quesito em que o Brasil apresentou avanço
foi Trading across borders (negócios transfronteiriços),
que procura mensurar o tempo, o custo e as dificuldades burocráticas para
realização de negócios internacionais e comércio exterior no país. Neste item,
fomos da posição 139ª (edição anterior) para a 106ª (atual), salto positivo,
motivado pela crescente adoção no país do Certificado de Origem Digital (COD)
que proporciona ao comércio exterior brasileiro maior confiabilidade,
simplicidade e agilidade, reduzindo seus custos operacionais e tempo de realização.
Não há dúvida de que tais quesitos - Starting a business e Trading
across borders - foram os principais responsáveis pela recente
e positiva mudança de posição do Brasil no ranking geral do Doing
Business.
Já no quesito Paying taxes (Pagamento
de impostos), que reflete o impacto do sistema tributário sobre o ambiente de
negócios do país, continuamos amargando a 184ª posição (ante 190 países
analisados), a mesma obtida na edição passada do relatório. A posição do Brasil
neste quesito reflete a complexidade e as inúmeras distorções - sociais e
produtivas - provocadas pelo atual regime tributário brasileiro, que opera como
um real obstáculo ao aumento da produtiva e da competitividade empresarial, bem
como limita o avanço do empreendedorismo formal no país. Para ilustrar o fato,
o relatório mostra que empresas brasileiras gastam um tempo médio de 1958 horas
por ano em atividades ligadas a preparação (cálculo, interpretação da
legislação, registro de informações contábeis, etc.), arquivamento (solicitação
de restituições, etc.) e pagamento (online ou pessoalmente) de três categorias
de impostos: de renda, trabalhistas e sobre consumo e vendas. Apenas para
comparação, na Argentina são usadas 311,5 horas por ano nas mesmas práticas, no
Chile são 296 horas, na China são 142 horas, e no Japão são 129,5 horas. Temos,
neste quesito, uma das principais justificativas para a posição ruim do Brasil
no ranking geral do relatório.
Assumimos aqui o argumento de que países com
ambientes de negócios precários, rígidos, excessivamente burocráticos, hostis e
desorganizados apresentam maior dificuldade em gerar impulsos sustentáveis ao
crescimento econômico no atual cenário de uma economia global. Em razão disso,
a necessidade de reformas, modernização, revisão e desburocratização, em
especial de certos marcos regulatórios que afetam os negócios e do sistema
tributário, se faz urgente no país. Algo preconizado inclusive na atual edição
do relatório do World Bank Group, como recomendação
geral. Que venha então 2019 e que seja capaz de trazer
melhorias efetivas ao ambiente de negócios brasileiro: a produtividade, a
geração de empregos, o investimento produtivo e, em decorrência, o crescimento
econômico agradecem.
Professor Anderson Pellegrino
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