Escreveu-me,
certa feita, um avô: “Hoje minha neta estava estudando para a
prova de História de amanhã. Tema da prova: o período dos governos militares de
1964 a 1985. Como eu vivi esses anos todos como estudante e professor, muita
coisa para mim é memória, enquanto para ela é história. Comecei a lhe explicar
os motivos da ascensão dos militares ao governo do país, as encrencas que os movimentos
ditos sociais arranjaram com os militares, etc. etc. Ela me interrompeu: ‘Vovô,
o livro de História que eu tenho que estudar é petista, o professor é petista!
Eu quero que você me explique o que eu devo responder para o professor me dar
nota! A verdade você me conta depois!’".
Este país, aos poucos, vai acordando de
um sono letárgico. O predomínio da esquerda, iniciado na Constituinte de 1988,
nos conduziu a anos de chumbo do intelecto brasileiro, causando gravíssimas
sequelas. Entramos numa nebulosa cultural onde nem em bilhões de anos se
produziria vida inteligente. A sociedade se desagregou e brutalizou, a
violência se instalou, a criminalidade – pasmem! – teve reconhecido seu viés
revolucionário e ganhou salvaguardas do politicamente correto. Dcadas de
tortura da razão, da verdade, do bem.
Duas gerações de brasileiros foram, em
boa parte, submetidas a isso por professores que, diante do espelho, se veem
como ativistas de um projeto revolucionário. O que aconteceu com o ensino de
História daria causa, fosse ela sujeito menos passivo, a um processo de
reparação por danos. Outro dia, falando a um grupo de estudantes, perguntei se
algo lhes havia sido ensinado, em aula, sobre a Revolução Russa. Todos estavam
a par dos motivos sociais, do absolutismo monárquico dos czares e do triunfo
dos bolcheviques em 1917. E por aí terminavam as dissertações! Nada lhes fora
informado sobre o totalitarismo comunista, o genocídio e o verdadeiro
laboratório de taras políticas proporcionadas pelo regime ao longo das décadas
subsequentes. Ocultação sumária dos
acontecimentos!
Gradualmente, nos últimos anos, a
sociedade foi acordando de sua letargia para perceber o desastre em curso. O
movimento e o projeto Escola Sem Partido refletem esse despertar. A reação a
ele tem sido mais vigorosa do que a própria mobilização pelo projeto. Enquanto
a mobilização é civilizada, a oposição tem o nível de uma campanha política
petista, com direito a mistificação e histeria. Mobiliza pessoas que têm pela
verdade da sala de aula o mesmo desapreço que têm pela verdade na História.
Olavo tem razão. Não há, mesmo,
doutrinação porque sequer saberiam como promovê-la. Há pura e simples enganação
e ocultação. Sepultamento de fatos e autores. Cuidadosa construção de versões.
Glorificação de camaradas e companheiros. Ao mar da ignorância as cinzas
inconvenientes.
É claro que, sob tais circunstâncias, a
ideia de registrar em vídeo ocorrências de sala de aula passa a ser vista (aí
nova inversão da realidade), como forma de “opressão do aluno sobre o
professor”... Toda mente formada fora dessa cápsula ideológica, sabe que o
verdadeiro opressor é o professor militante, ativista, abusador cotidiano de
seu poder, e que o registro de imagem é mera atitude de defesa dos colegiais e
de suas famílias. O cérebro esquerdista, porém, anda por caminhos e traça
sulcos num deserto onde só existe o querer revolucionário. Por isso, o discurso
do pluralismo, da diversidade e da infinita tolerância (com as pautas de seu
agrado) e a ação absolutamente intolerante para com tudo que o contrarie.
Nessa
perspectiva, o que o professor manipulador diz e faz, constrói e destrói em
sala de aula precisa ser tão secreto quanto os contratos de financiamento
proporcionados por Lula e Dilma aos camaradas ditadores mundo afora. Sigilo na
sala de aula. Juras de cumplicidade. O que aqui se diz, morre aqui.
Dê
uma olhada no Google. Procure por Escola Sem Partido e peça para ver imagens.
Você terá ali verdadeira aula sobre os interesses em jogo. Noventa e cinco por
cento, ou mais, dos cards, memes, gravuras e cartazes sustentam a ideia de que
a escola, sem partido, emudece o professor e emburrece os alunos. E esperam que
todos concordem.
Imenso
respeito aos bons professores! Também eles são vítimas dessa crise a que não
deram causa. Teimosamente abrem, todos os dias, as portas do saber e da arte de
viver.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no
país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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