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domingo, 4 de março de 2018
Como o mapeamento genético vai revolucionar o tratamento do autismo?
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) atinge cerca de um a cada 68 indivíduos, de acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. No entanto, o avanço das tecnologias na área da saúde e da medicina personalizada vem mudando este cenário.
Recentes estudos epidemiológicos têm demonstrado que os fatores genéticos são os mais importantes na determinação das causas e origens do TEA. Embora fatores ambientais, como problemas ainda na gravidez (uso de drogas, bebês prematuros, infecções virais, entre outros), também estejam associados ao risco para o desenvolvimento do TEA, hoje já se sabe que o risco é majoritariamente genético.
Apesar desses avanços, ainda é um desafio para a ciência definir genes e variantes genéticas de relevância clínica associadas ao TEA. Isso porque, assim como outras desordens neurológicas e psiquiátricas, o autismo não é fruto de alterações em um único gene, pelo contrário, envolve distúrbios moleculares complexos em múltiplos genes. Por outro lado, a evolução do conhecimento genético permitiu que muitos genes envolvidos no TEA fossem identificados. Atualmente, de acordo com a Simons Foundation Autism Research Initiative (SFARI), temos 722 genes descritos, mas muitos ainda são desconhecidos.
O primeiro teste recomendado pela Academia Americana de Genética Médica e Genômica no estudo de crianças com suspeita de síndromes genéticas, anomalias congênitas, atraso de desenvolvimento e linguagem e Transtorno do Espectro do Autismo é o CGH-Array ou hibridização genômica comparativa baseada em microarranjos.
Exames como o CGH-Array, que é uma metodologia de citogenética molecular capaz de identificar alterações cromossômicas desbalanceadas (duplicações, deleções e/ou microdeleções) que não podem ser vistas através do exame de cariótipo convencional, esclarecem e direcionam em torno de 20% das suspeitas de síndromes e estão no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde).
Já o sequenciamento do genoma completo é o método que fornece informações genéticas completas dos pacientes. Em países desenvolvidos ele já vem sendo utilizado como segundo exame a ser realizado após o CGH-Array. Apesar de ainda ter um custo elevado, ele está rapidamente se tornando mais acessível e nos próximos anos será uma ferramenta muito importante no diagnóstico do autismo, já que o teste pode encontrar pistas para um tratamento mais adequado de acordo com as mutações genéticas de cada indivíduo.
Recentemente, pesquisadores do Sick Children Hospital e da Universidade de Toronto apresentaram um estudo bastante otimista sobre o sequenciamento completo do genoma no Canadá e sua contribuição para os cuidados de saúde convencionais no futuro. Esse estudo faz parte do Projeto Genoma Pessoal, que começou em 2005, na Escola de Medicina de Harvard, onde os pesquisadores analisaram o sequenciamento completo do genoma de 56 participantes. Em troca de sua contribuição para a ciência, eles receberam informações clínicas relevantes de seus genomas e aconselhamento genético para contextualização dos resultados, integrando os dados obtidos nos sequenciamentos às informações de saúde de cada participante (inclusive seus históricos pessoal e familiar). Após a realização do estudo, foi possível observar que 25% dos pacientes tinham informações genômicas que indicavam potenciais riscos para doenças futuras e variantes genéticas importantes para as próximas gerações. Além disso, o estudo também foi direcionado para informações sobre problemas na eficácia de medicamentos e risco de efeitos adversos, revelando que em 23% dos participantes foram identificadas alterações genéticas associadas a risco severo de efeitos colaterais (muitos deles envolvendo risco de vida).
No Brasil, a TISMOO é a única empresa que oferece essa tecnologia para identificação das alterações genéticas especificamente para o Transtorno do Espectro do Autismo e para síndromes relacionadas. São três tipos de mapeamento genético: o T-Array, uma triagem genômica capaz de identificar perdas (deleções) e ganhos (duplicações) de material genético com alta resolução; o T-Exom, análise do exoma, que corresponde a 2% do genoma; e o T-Gen, mencionado acima, que realiza a análise do genoma completo.
Na startup ainda contamos com uma plataforma de bioinformática, especialmente construída para o autismo, chamada GENIOO, que funciona como uma base de dados completa sobre todas as publicações científicas relacionadas ao Transtorno do Espectro do Autismo. Após a realização do mapeamento genético, a plataforma compara os resultados das variantes genéticas encontradas no paciente com bancos de dados do mundo todo a fim de identificar e classificar essa variante, além de também verificar se já existe algum tratamento mais adequado para aquela mutação. E ainda, como esse serviço é contínuo, no caso de surgirem novas pesquisas ou testes, esta ferramenta nos permite atualizar o médico e a família dos pacientes.
Desta forma, com o avanço da medicina personalizada, o mapeamento genético pode vir a ser uma das ferramentas mais importantes para ampliar os estudos, diagnóstico e tratamento do autismo em um futuro próximo, impactando positivamente os indivíduos que sofrem de distúrbios neurológicos, bem como suas famílias.
Dra. Graciela Pignatari - bióloga molecular e cofundadora da startup de biotecnologia TISMOO, primeiro laboratório do mundo exclusivamente dedicado à medicina personalizada com foco no Transtorno do Espectro do Autismo e outros transtornos neurológicos de origem genética.
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