Pesquisar no Blog

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Compartilhar fotos da mulher flagrada com morador de rua pode ser crime

Falamos com o advogado Robert Beserra sobre as imagens que tem sido compartilhadas na rede e o que fazer em casos parecidos.

 

Durante o mês de Março, o caso do marido que flagrou a esposa em relações sexuais com um morador de rua em Planaltina-GO tornou-se um dos assuntos mais comentados do ano, rendeu assunto em capas de jornais, programas de televisão e viralizou na internet. 

 O morador de rua Givaldo de Souza ficou conhecido como ‘’Mendigo de Planaltina’’, deu entrevistas, conquistou admiradores e revelou até mesmo convites para ingressar na política.  Ele também  foi abordado por famosos e influenciadores com convites para festas e viagens. 

 Mas este tema, que acabou sendo abordado de forma tendenciosa e recebida com bom humor na internet, tem desencadeado uma série de violências e exposições contra a mulher que foi flagrada pelo marido, além de causar muito constrangimento para as famílias envolvidas. Mas além de constrangimento, essa prática também é criminosa e pessoas que ajudam a compartilhar a imagem da mulher nas redes sociais podem sofrer consequências judiciais. Como este caso tem tido uma sequência longa na mídia e internet, cada vez mais pessoas compartilham estes conteúdos. 

 Embora o marido tenha vindo a público, em entrevista ao jornalista Léo Dias, para revelar que a mulher passou por um surto psicótico, que está em tratamento e que ele não a abandonará, Givaldo, o morador de rua, voltou à mídia para descrever com detalhes como teria acontecido o envolvimento sexual, reforçando ter sido um ato consensual. Mais tarde ele se desculpou em outra entrevista‘’com todas as mulheres’’ por ter descrito os fatos com tantos detalhes. 

 Estes novos capítulos semanais deste escândalo, prolongam e reforçam as violências quanto à imagem, honra e privacidade da mulher envolvida no caso, que tem tido sua imagem compartilhada centenas de milhares de vezes pelas redes sociais em conteúdos totalmente desonrosos. Atualmente a mulher passa por um tratamento psiquiátrico e ainda não sabe da repercussão do caso no país todo. 

 O Hospital Universitário de Brasília, onde ela está internada, divulgou um laudo com diagnóstico de Bipolaridade. O documento detalha que a mulher, desde que deu entrada no hospital, apresenta alucinações auditivas, "delírios grandiosos e de temática religiosa", hipertimia, alteração de humor, falso reconhecimento, além de "comportamentos desorganizados e por vezes inadequados" envolvendo "gastos excessivos, doação de seus pertences, resistência em se vestir e hiperreligiosidade".

 Nós conversamos com o advogado Dr. Robert Beserra para saber mais sobre o que pode acontecer legalmente com quem compartilha conteúdos em casos assim. Veja o que ele nos contou:  

1. Robert, em casos como este, em que internautas estão compartilhando as imagens da mulher envolvida no escândalo, isso pode ser considerado um crime? Quais são as consequências legais? 

 A depender da situação, poderá estar cometendo o crime previsto no art. 218-C do Código Penal, que pune com pena de reclusão, de 1 a 5 anos, o fato de a pessoa divulgar ou compartilhar cenas de estupro, que faça apologia a essa prática, bem como o fato de repassar foto ou vídeos de cenas de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento da pessoa – isso sem prejuízo da vítima buscar uma reparação no âmbito civil contra quem realizou o compartilhamento das imagens sem a sua autorização. 

 

2. E quando a divulgação é feita pelo marido, namorado ou alguma pessoa envolvida com o conteúdo? 

 Se o marido, ou mesmo qualquer pessoa que mantenha (ou mantinha) relação íntima de afeto com a pessoa do vídeo ou da fotografia divulgada, compartilhar as imagens, poderemos estar diante do chamado “revenge porn”, que é a pornografia de vingança, de revanche, prática essa que infelizmente acontece muito, quando aquela pessoa inconformada com o término da relação resolve expor o antigo companheiro ou companheira. Nesse caso, incide uma causa especial de aumento de pena, além da possibilidade da vítima propor uma ação buscando a reparação cabível em face dele ou de quem quer que seja.

 

 3. E quanto a outras vítimas em casos parecidos, que tenham fotos suas expostas e compartilhadas na rede contra sua vontade. O que pode ser feito?  

Em primeiro lugar, elas devem registrar um boletim de ocorrência relatando tudo o que está ocorrendo e juntando as imagens e provas que tiverem do ocorrido, que a própria autoridade policial irá investigar os fatos e enviar a conclusão do inquérito policial ao Ministério Público, para que dê o andamento cabível na seara criminal. Independentemente disso, a vítima pode procurar a justiça – e nesse caso eu sempre aconselho que busque o auxílio de um bom advogado – e poderá ajuizar uma com pedido de tutela de urgência para que o juiz fixe multa ou outra medida cabível visando cessar o compartilhamento das imagens e, na mesma ação, poderá requerer ao juiz que lhe fixe uma indenização pelos danos materiais e morais que tenha sofrido. 

 

4. O Givaldo de Souza, o morador de rua, pode sofrer alguma implicação judicial por suas recentes falas em relação a mulher?  

Nesse caso vai depender muito da vontade da vítima, já que crimes como difamação e injúria são de ação penal privada, então depende dela dar início a um processo criminal, ou não, assim como depende dela ajuizar uma ação para fins de reparação civil, como dissemos anteriormente, visando ser indenizada pelo ocorrido. Mas no caso específico com Gilvaldo, por se tratar de um morador de rua, dificilmente uma condenação no âmbito cível surtirá algum efeito, pois, ainda que venha a ser condenado, pode ser que não tenha como pagar pela condenação que lhe foi imposta, seja com dinheiro ou com bens, já que talvez não os tenha, ao menos neste momento.



DIA DA MENTIRA: CONHEÇA MITOS E VERDADES SOBRE A SAÚDE DOS PETS

 A idade humana de um cão é sete vezes a idade do animal?

Saiba os mitos e verdades sobre os pets e garanta mais saúde e bem-estar a eles

 

Chegou 1º de abril, data em que é permitido contar mentiras para pregar peças em amigos e familiares. A tradição é conhecida em muitos lugares do mundo como o “Dia da Mentira” e não há uma versão única de como surgiu a brincadeira, porém a teoria mais aceita diz que sua origem teve início na França, no século XVI, com uma mudança de calendário realizada por ordem do rei Carlos IX, que nem todos aceitaram. As pessoas que se recusaram a seguir a nova data passaram a ser chamadas de Poisson d’Avril -- os “tolos de abril”. A partir daí, a graça se espalhou para muitos países. 

Neste dia, até gatos e cães podem sofrer as consequências de pegadinhas, por isso, aprenda a desvendar as inverdades contadas sobre os pets para garantir mais saúde a eles.

 

A idade humana de um cão é sete vezes a sua idade. 

Mentira! Os tutores gostam de saber quanto a idade dos pets representaria em idade humana, porém não há como simplesmente multiplicar a idade do cão e obter o equivalente. Cada cão é único e possui sua fisiologia de acordo com variáveis como porte e raça. Portanto, de acordo com o porte, um cão pode se tornar adulto aos 8, 12 ou até 24 meses! Por fim, a idade de um cão pode ser “comparada” com a idade humana quando você considera a fase da vida do pet, mas, mesmo assim, é apenas uma maneira aproximada -- e não necessariamente real.

 

Alimentos úmidos engordam. 

Mentira! Ao contrário do que se imagina, os alimentos úmidos têm menos calorias do que os alimentos secos. O alto teor de umidade (>70%) “dilui” as calorias presentes no alimento, por isso são aliados na manutenção de peso. Um ponto importante para evitar que os pets ganhem peso é seguir a quantidade de alimento recomendada na embalagem ou prescrita pelo Médico-Veterinário, inclusive na combinação do alimento seco com o úmido, e estimular a atividade física de gatos e cães. Outro benefício dos alimentos úmidos é a quantidade de água que eles detêm, que podem auxiliar na ingestão hídrica, ou seja, no consumo de água diário e hidratação do pet.

 

Os croquetes dos alimentos não interferem na mastigação dos animais.

Mentira! Os “grãos dos alimentos”, chamados de “croquetes”, podem ser desenvolvidos de acordo com o tamanho e formato da mandíbula dos animais, além de considerar forma de preensão e força de mastigação encontradas em diferentes portes, raças, idade, condição física, entre outros. Na ROYAL CANIN®, os alimentos têm textura diferenciada e croquetes desenvolvidos para estimular sua mastigação, além de elevada palatabilidade.

 

Gatos são exigentes para comer. 

Verdade! Os gatos, por possuírem um paladar menos desenvolvido do que o de cães e humanos, acabam escolhendo sua refeição não apenas pelo “sabor” em si, mas principalmente pelo aroma, sensação do alimento na boca, textura e formato. “Como a preferência alimentar do gato é multifatorial, é preciso fazer testes com as diferentes texturas dos alimentos para ver qual é a que o animal mais se adapta”, explica Natália Lopes, Médica-Veterinária e Gerente de Comunicação Científica da ROYAL CANIN. 

Os gatos também bebem naturalmente pouca água. Por isso, os alimentos úmidos são excelentes aliados e são disponibilizados em diversas texturas, por exemplo: pedaços ao molho; Jelly, que se caracteriza por uma textura mais gelatinosa e rica em fibras; e o alimento na versão Patê. As diferentes texturas são importantes para o desenvolvimento e estímulo do paladar do gato, e é sempre importante a introdução dos alimentos úmidos desde o início da vida do filhote, para que haja uma maior aceitação quando adulto.

 

Gatos e cães podem apresentar tártaro nos dentes. 

Verdade! O tártaro ou cálculo dental é o acúmulo de placa bacteriana na superfície dos dentes dos animais, com deposição de cálcio sobre esse biofilme, formando uma camada rígida. Seus sintomas são perceptíveis para os humanos através do mau-hálito e das manchas que podem ser amareladas ou até mais escuras próximas à gengiva. 

A formação de placa bacteriana não tem como ser interrompida, por isso, a escovação diária dos dentes deve ser feita para evitar o acúmulo e a formação do tártaro. Faz parte do portfólio da linha para Sensibilidades Específicas da ROYAL CANIN®, o alimento Cuidado Dental, que ajuda a reduzir em 69% a formação de tártaro em cães. Os croquetes apresentam uma textura específica com ação mecânica de atrito sobre os dentes durante a mastigação. Com resultados comprovados, possui uma substância quelante de cálcio (“sequestradora”) que impede o cálcio salivar de aderir no biofilme, reduzindo, assim a formação do tártaro.


 
ROYAL CANIN®

Mars, Incorporated

 

As possibilidades de se reinventar e realocar-se no mercado profissional

De acordo com o palestrante Alexandre Slivnik, é preciso realizar uma análise de diversos pontos antes de tomar uma decisão definitiva


Com o mercado de trabalho cada vez mais agressivo, se realocar e ir em busca de uma nova função parece um desafio gigantesco. Mas com as ferramentas corretas e sede por conhecimento, é possível alcançar o cargo dos seus sonhos.

Para Alexandre Slivnik, vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), que realiza cursos e palestras há vinte anos, a crise mundial causada pela pandemia de Covid-19 traz contrapontos positivos e negativos para quem quer se realocar no mercado. “Momentos de crise acabam dificultando as coisas, principalmente porque o número de vagas diminui. Mas durante esse período, as melhores e mais competidas oportunidades aparecem no mercado. Os profissionais que têm uma melhor preparação e a capacidade de resolver problemas complexos, normalmente, conseguem as vagas mais desejadas nesse momento de incertezas”, revela.

O palestrante alerta que profissionais devem seguir em constante busca por inovação e conhecimento, principalmente porque o mercado continua criando profissões inovadoras a cada ano. “Em dado ponto, a experiência que você já possui pode se tornar irrelevante, e o que começa a ser importante é a sua disposição para aprender aquilo que você ainda não domina. Pesquisas apontam que 65% das crianças que estão no colégio primário, no futuro, irão trabalhar em empregos que ainda não existem. Isso mostra que precisamos criar uma flexibilidade para adaptações, visando uma constante evolução e o melhor entendimento sobre si mesmo”, aconselha.

Para Slivnik, a tecnologia é um elo fundamental para quem visa uma realocação no mercado de trabalho. “Os países mais desenvolvidos, por exemplo, estão ensinando crianças a programar. E não é para que possam trabalhar com os computadores no futuro, e sim porque a lógica da programação vai ajudar em diversas áreas de atuação daqui algum tempo. Aprender tecnologia não é simplesmente aprender a manusear um equipamento, mas ter conhecimento sobre como aquele gadget funciona de forma geral.”, pontua.

E essa necessidade por conhecimento e novas tecnologias deve fazer parte da vida de qualquer profissional que queira evoluir em sua carreira. “É comum ver pessoas de 80 ou 90 anos de idade fazendo faculdade, principalmente porque a perspectiva de vida é cada vez maior. Se podemos viver mais, também podemos seguir em busca de conhecimento e evolução profissional. Nunca é tarde para mudar e fazer aquilo que você ama”, relata o palestrante.

De acordo com Slivnik, não se deve manter o foco em aprimorar pontos fracos, pois são as virtudes que o diferenciam como profissional. “Ao fazer uma análise e identificar suas fraquezas e virtudes, potencialize aquilo que você faz bem. Focar no que você tem de melhor é mais importante para alcançar reconhecimento e estabilidade profissional”, finaliza.


Alexandre Slivnik - reconhecido oficialmente pelo governo norte americano como um profissional com habilidades extraordinárias na área de palestras e treinamentos (EB1). É autor de diversos livros, entre eles do best-seller O Poder da Atitude. É diretor executivo do IBEX – Institute for Business Excellence, sediado em Orlando / FL (EUA). É professor convidado do MBA de Gestão Empresarial da FIA / USP. P Palestrante Internacional com experiência nos EUA, EUROPA, ÁFRICA e ÁSIA, tendo feito especialização na Universidade de HARVARD (Graduate School of Education - Boston / EUA). www.alexandreslivnik.com.br


quinta-feira, 31 de março de 2022

Dia da Mentira: professora dá dicas para evitar fake news nas redes

Alunos recebem orientações para buscar informações em fontes com credibilidade


Lembrado no primeiro dia do mês de abril, o 1º de abril é também uma data para refletir sobre o grande volume de notícias falsas que circulam nas redes sociais. A avaliação é da professora de Ciências do Colégio Marista Ribeirão Preto, Thais Pileggi, que trabalha com os alunos o tema fake news, em uma parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto FFCFRP - USP. 

A professora esclarece que momentos de grandes disputas e comoção social, como ocorre na pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, são propícios para a disseminação de conteúdos e imagens falsas por meio das redes sociais. “O grande alcance desses ambientes são facilitadores para os oportunistas de plantão”, alerta.

Thais ressalta, no entanto, que o próprio ambiente digital oferece ferramentas para desviar as pessoas das notícias falsas e orienta os alunos a buscar a informação em fontes que possuam credibilidade e assim evitar que a desinformação se propague de forma exponencial nas redes sociais.  

O Dia da Mentira surgiu na França do século XVI, quando o Rei Carlos mudou o calendário passando a celebração do Ano Novo de 25 de março para 1º de janeiro. Alguns franceses resistiram e mantiveram a data anterior, encerrando as festividades em 1º de abril. No Brasil a data começou a ser difundida em Minas Gerais. O jornal Mentira, lançado em 1º de abril de 1828, noticiou a morte de Dom Pedro e desmentiu a informação no dia seguinte.  

Veja algumas dicas da professora para não cair em fake news:

1.   Desconfie de tudo que você recebe e que seja espetacular. No geral, as fake news abordam o assunto de forma sensacionalista para atrair a atenção.

2.   Cheque se a informação está em sites de notícias nacionais e internacionais. A imprensa tem, por dever, checar as informações antes de publicá-las.

3.   Questione as informações com a fonte que te enviou a notícia. Temos que agir como pesquisadores e não apenas consumidores de notícias.

4.   Use agências de checagem de notícias. Nas chamadas fact checking (exemplo: Lupa, Aos fatos, Fato ou Fake, Comprova e FactCheck) é possível averiguar a veracidade tanto do texto quanto das imagens.

5.   Evite influenciadores: busque informações com pessoas estudiosas no assunto e não com aquelas que são conhecidas pelo número de seguidores nas redes sociais.

 

Colégios Maristas

www.colegiosmaristas.com.br

 

Dia da Mentira: Golpes e decepções amorosas podem desencadear traumas e fobias

Professora de Psicologia do UniCuritiba explica o que é a pistantrofobia e como o medo de confiar nas pessoas pode arruinar a convivência social

 

As plataformas de streaming estão repletas de documentários, séries, minisséries e filmes que revelam como golpes e mentiras podem afetar seriamente o emocional das vítimas. “O Paraíso e a Serpente”, “Dirty John”, “O Golpista do Tinder”, “Inventando Anna” e “The Dropout” são algumas produções que abordam o estelionato emocional – a prática de se aproveitar de uma pessoa para obter lucros e vantagens. 

Em muitos casos, o prejuízo vai além da questão financeira e está longe de ser apenas uma mentira ou “brincadeira leviana” de 1º de abril (oficialmente, o Dia da Mentira). Experiências amorosas negativas e frustrantes, situações perigosas ou relacionamentos tóxicos colocam em risco a coragem das vítimas e as impede de voltar a se apaixonar ou se relacionar socialmente. 

Esse medo exacerbado de confiar nas pessoas tem nome: pistantrofobia. A supervisora do Serviço-Escola de Psicologia do UniCuritiba (instituição que faz parte da Ânima Educação, uma das maiores organizações educacionais de ensino superior do país), psicóloga Daniela Jungles, explica que são várias as causas para o medo irracional de estabelecer um relacionamento pessoal ou íntimo com alguém. 

“A confiança é frágil, difícil de conquistar, mas muito fácil de quebrar. Quando vivenciamos uma traição ou decepção, algo muda dentro de nós. Isso acontece com todo mundo, porque não queremos mais ser vulneráveis e deixamos de nos abrir por certo tempo. No entanto, para quem sofre de pistantrofobia, confiar novamente em alguém fica completamente fora de questão”, explica. 

Sofrer de pistantrofobia pode arruinar rapidamente a vida de uma pessoa. Isso porque, seja no trabalho ou na vida pessoal e amorosa, a confiança no outro é fundamental. “A babá que cuida dos nossos filhos, um colega de escritório, a parceira ou parceiro amoroso... A lista de laços que exigem confiança é extensa e, evidentemente, entrar em um relacionamento é sempre um risco”, diz Daniela. 


Como estabelecer a confiança

Para estabelecer níveis de confiança é preciso colocar à prova, por um certo tempo, as primeiras impressões sobre outra pessoa e testar sua confiabilidade. A questão, comenta a professora de Psicologia do UniCuritiba, é que essa aceitação do risco só é concebível para aqueles que, originalmente, têm autoconfiança suficiente para não reagir violentamente em caso de decepção. 

A desconfiança é útil se praticada em pequenas doses e com sabedoria, porque alerta sobre possíveis perigos à integridade física e emocional. O problema está quando essa reação natural toma proporções incontroláveis e invade a esfera afetiva. “Sem confiança, nenhum relacionamento amigável, romântico ou profissional é possível”, avisa Daniela Jungles. 

Quem tem pistantrofobia se convence de que, mais cedo ou mais tarde, será traído ou desapontado novamente e, por isso, nega a si qualquer chance de aproximação com outras pessoas. Nestes casos, o pessimismo crônico se confunde com cautela.

 

Sinais corporais e tratamento

De acordo com a psicóloga, a pistantrofobia gera um medo crônico de confiar nos outros e, para se proteger, o indivíduo evita situações que desencadeiam esse temor. Como consequência, essa situação fóbica aumenta a ansiedade, que pode vir acompanhada por sinais corporais, como sudorese, tontura, respiração rápida ou taquicardia. 

Não há idade para se tornar fóbico e a origem das fobias pode estar enraizada nos primeiros laços emocionais. “Nosso passado constitui uma linha divisória entre segurança e insegurança afetiva, mas ela nem sempre é clara ou imediatamente identificável. Quanto mais o passado é marcado pela perda, abandono ou negligência, menos seguros são os apegos”, avisa a especialista. 

O tratamento das fobias é possível desde que as causas – geralmente múltiplas - sejam identificadas. Daniela Jungles explica que o transtorno fóbico não é mais percebido pelo campo médico como um simples “conflito intrapsíquico”, pois resulta de múltiplas causas. “Os métodos para tratar a fobia variam de acordo com suas origens. A orientação é procurar um psicólogo para avaliação e indicação do tratamento mais adequado.”

 

Um olhar para o passado

As causas de problemas como a pistantrofobia podem estar relacionadas ao passado. Pais superprotetores, por exemplo, reforçam a sensação de desconfiança. Avisos como "Cuidado, não confie em ninguém" e “Não aceite doce de estranhos” são necessários para a segurança das crianças, mas devem ser moderados. 

“Uma criança sufocada por pais superprotetores tende a perceber o mundo exterior como algo aterrorizante e povoado por potenciais agressores”, adverte a professora. Por outro lado, quando não são os pais que transmitem desconfiança é a própria vida que cuida disso: a traição de um colega ou parceiro, um amigo que abusa da generosidade ou até mesmo cair em um golpe. 

Segundo Daniela, em alguns casos esse sentimento negativo se transforma em fobia e leva à crença de que “ninguém é digno da minha confiança, então preciso desconfiar de todos a todo tempo.”

 

Prevenção

É importante que vítimas de golpe ou traição não deixem o medo irracional tomar conta. Ao perceber os primeiros sinais é necessário marcar uma consulta com um psicólogo que, de acordo com o perfil da pessoa fóbica, saberá como conduzir o tratamento. “Em geral, a pessoa tem que enfrentar sua dor e aceitá-la ao invés de rejeitá-la, porque fugir de um problema nunca foi a solução. A prevenção depende, acima de tudo, do manejo precoce desse transtorno”, finaliza a psicóloga.

  

UniCuritiba


Dia da Mentira: você vive a vida real ou vive de aparências?

 Em tempos de internet, muitas pessoas vivem no mundo da fantasia. O que diferencia a mitomania da mentira ocasional é que o mitômano vive uma vida baseada em mentiras e histórias extraordinárias.

 

O dia 1º de abril é conhecido como o Dia da Mentira, embora não seja algo tão bom de celebrar, uma vez por ano, está liberado pregar uma peça nos amigos. O problema é que muitas pessoas vivem no mundo da fantasia todos os dias, criando tantas mentiras que acabam acreditando nelas. É aí que mora o perigo! 

Uma pessoa que é viciada em mentir, é considerada “um mitômano”, esse distúrbio está associado ao modo como a pessoa quer ser vista. A Mitomania não é considerada uma doença ou um transtorno, mas sim um comportamento crônico que pode estar acompanhado de outros transtornos ou até mesmo de outros comportamentos compulsivos. 

De acordo com a psicóloga da Iron Telemedicina, Bettina Vostoupal, o que diferencia a mitomania da mentira ocasional é o fato de que, ao contar uma mentira, a pessoa busca alguma vantagem com aquela história, enquanto o mitômano vive uma vida baseada em mentiras e histórias extraordinárias, sem ter uma motivação identificada. Nesses casos é necessária uma intervenção de tratamento para a pessoa aprender a gerenciar as frustrações que a levam a mentir. 

“Dificilmente um mitômano vai buscar ajuda sozinho, pois realmente tem uma dificuldade de compreender que as mentiras que conta são mentiras de fato, porém é recomendado que seja realizada a psicoterapia, onde o paciente irá identificar e compreender o seu comportamento e o que o leva a agir de tal forma. Sendo assim, poderá identificar alguns gatilhos que o levam a este comportamento e, deste modo, agir para mudar a forma de reagir a determinadas situações”, explica. 

O terapeuta e filósofo clínico, Beto Colombo, esclarece que muitas pessoas não percebem a sutileza entre o mundo virtual e o real. A internet hoje é um “local” ideal, onde parece não haver espaço para a realidade. Usualmente a dicotomia entre a vida real e a vida virtual aparece evidenciando um distanciamento entre o que a pessoa vive de fato e o que posta nas redes sociais, o que pode gerar uma série de transtornos mentais. “Por algum tipo de insatisfação pessoal e social, a pessoa sente a necessidade de mentir e isso pode se tornar uma compulsão”, avalia. 

Segundo ele, algumas pessoas são na internet, quem elas gostariam de ser, e não quem verdadeiramente elas são. 

“Para alguns a vida perfeita das redes sociais é o que mantém a pessoa motivada para encarar a dura realidade de um ônibus lotado, de um dia difícil de trabalho, de um chefe rude e de um salário magro. A rede social é um ambiente onde muitas pessoas se realizam, conseguem ir além do seu ambiente e viver uma felicidade, ainda que virtual”.

O filósofo clínico argumenta que algumas pessoas não conseguem se observar, não se conhecem o suficiente e com o tempo, e por não fazer divisão começam a acreditar que são o próprio personagem que elas inventaram e postam nas redes sociais. “Esse pode ser um transtorno mental para algumas pessoas e reflexo de um vazio existencial. Para outros o mundo real é frio, feio, escuro e o ambiente virtual é um escape da vida real, é um mundo de possibilidades”.

 

Dia da Mentira: em que momento da infância o mentir se torna preocupante?

O adulto deve estar atento ao contexto e buscar ouvir a criança
Divulgação

Especialistas explicam sobre a dificuldade de distinguir imaginação e mentira e como lidar com o tema na primeira infância


Uma criança pequena mente ou apenas imagina? Como estabelecer a diferença entre essas duas coisas? Não à toa o hábito da mentira é considerado um grande desafio para pais, mães e educadores, pois não é tão simples identificar uma mentira intencional.

“A imaginação é um dos instrumentos mais poderosos da infância e do aprender, por isso é preciso ter muito cuidado nesse processo, pois na intenção de impedir a mentira o adulto pode acabar tolhendo a experimentação e a criatividade da criança”, explica Dayse Campos, diretora da Escola Interpares, de Curitiba/PR.

Por outro lado, segundo ela, é possível perceber sinais da mentira. “A partir de uma determinada fase da vida, as crianças já são capazes de entender que a mentira também pode ser poderosa e útil. E um adulto atento verá que ela está usando esse artifício como atalho para escapar de conflitos ou obter ganhos”, completa. 

A mentira se torna mais intencional por volta dos sete anos de idade, fase em que a criança já carrega valores adquiridos no meio social e familiar. É nessa idade que a atenção do adulto precisa ser redobrada, mas sempre com acolhimento.

 “A mentira é um fenômeno que envolve relações, está sempre endereçada ao outro. Neste sentido, ao invés de simplesmente censurar ou corrigir, mais vale nos perguntarmos o que leva a criança a fazer uso deste artifício”, diz a psicóloga Verônica Salvalaggio, do Plunes Centro Médico, também de Curitiba.

Ela explica que é preciso reconhecer que a narrativa mentirosa é um recurso que permite colocar em palavras aqueles enigmas e debates que acontecem intimamente. “A mentira, e também a fantasia, cumprem uma função reveladora destes conflitos e embates internos. Por isso a mentira merece ser acolhida, em lugar de ser repreendida”, afirma.

Verônica concorda que, do ponto de vista cognitivo, na primeira infância é muito difícil distinguir entre mentira e fantasia. “Ambas são produções de natureza subjetiva, que envolvem relações imaginárias, tanto quanto simbólicas, pois é no campo da palavra e da linguagem que elas são construídas e se expressam”, explica.

Segundo ela, crianças pequenas, até os seis anos de idade, ainda estão construindo conceitos. “Se até mesmo os adultos por vezes têm dificuldade de conceituar verdade, mentira e fantasia, como exigir isso daqueles que estão dando seus primeiros passos na vida?”.

Na Escola Interpares, a condição fundamental para lidar com a mentira nessa fase da infância é proporcionar um ambiente seguro para a criança, com liberdade para expressão, interesses e pensamentos, sem julgamentos – mas com observação atenta.  

O ambiente acolhedor da escola exerce um papel libertador tanto para a criança quanto para os educadores. “Notamos que muitas vezes uma criança que aparenta estar mentindo – e às vezes realmente está – quer apenas ser ouvida. Dê voz a ela e você receberá todas as informações verdadeiras que precisa para lidar com a situação”.

Para a diretora da escola, que é sócio-interacionista, quanto mais diversidade de experiências a criança encontrar em suas interações sociais, mais segurança e autonomia terá para se desenvolver socialmente sem precisar mentir. "Na Interpares buscamos sempre observar o contexto em que a eventual mentira acontece e também atuar em parceria com a família." 


De onde vem o Dia da Mentira

Também conhecido como Dia dos Bobos, o 1º de abril “brinca” de celebrar a mentira, brincadeira que surgiu na França do século 16 por conta das comemorações de Ano Novo, que iam de janeiro a abril.

Quando o calendário foi ajustado para o dia 1º de janeiro, algumas pessoas que insistiam em celebrar na data antiga e foram considerados bobos, por acreditar em algo tido como uma mentira. E dessa forma, como uma brincadeira, a data foi introduzida no calendário brasileiro.


Crianças sem internet? Professora propõe atividades que não precisam de conexão

 

As conexões estabelecidas entre os alunos do período integral do Colégio Marista Glória são apenas entre os amigos

 

Há muita brincadeira além da tecnologia. Partindo dessa premissa, a professora Bruna Macêdo  de Miranda, do Colégio Marista Glória, localizado na Zona Central de São Paulo (SP), propôs aos alunos do Integral 5 - 26 crianças com idade entre 8 e 9 anos - algo diferente. A proposta é resgatar brincadeiras e brinquedos que não precisam de conexão com a rede,apenas de criatividade e bom relacionamento em grupo.

“Sugerimos atividades como pular corda, telefone sem fio, produzir bonecos de argila, andar em pés de lata. Eles adoraram a ideia e passaram a percorrer o colégio em busca de materiais para construir os brinquedos”, revela a docente.

Com barbantes, elásticos, cordas, latas e argila, as crianças partiram para a construção dos brinquedos e da diversão. Produzir o próprio passatempo estimula a rápida solução para problemas complexos e também a convivência e o trabalho em equipe. “A turma ficou atraída pela atividade devido a interatividade, o trabalho manual e, claro, pela folia”, afirma Bruna.

Para Amanda Parra Magnani, uma das crianças que participaram da aula, é muito melhor brincar com o grupo, interagir e se comunicar. “Nós pesquisamos e criamos com recicláveis os nossos brinquedos.  Melhor usá-los, do que os eletrônicos, pois fazemos exercícios, o que ajuda nosso corpo a se fortalecer”, destaca.

Já Rafael Poletine Videira elegeu como preferido o “telefone sem fio”. “O que construímos tem muito mais valor do que os brinquedos que já vem prontos, pois criamos do jeito que a gente quer”, finaliza. 

 

 

Colégios Maristas

www.colegiosmaristas.com.br

 

"Coisa de adulto?" Entenda por que precisamos falar com as crianças sobre guerra e outros assuntos polêmicos

Para o professor do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, essa é uma boa oportunidade para abordar sentimentos e pensamentos conflituosos, além de contribuir para a formação do caráter de meninos e meninas

 

Quantas vezes, na infância, você se interessou por um determinado assunto que viu na televisão ou ouviu outras pessoas comentarem e recebeu um rápido e singelo “é coisa de adulto”? Até pouco tempo atrás, esse tipo de resposta era muito comum. Isso porque dificilmente a criança era vista como indivíduo, pelo contrário, a regra geral era ter suas emoções e até mesmo opiniões silenciadas, ignoradas e menosprezadas. Mas, felizmente, vivemos hoje outra realidade, na qual o “é coisa de adulto” já não basta.

Com o acesso à informação cada vez mais fácil e rápido, inclusive a crescente disseminação de notícias falsas, é urgente falar com as crianças sobre assuntos polêmicos como a atual guerra entre Rússia e Ucrânia. Agora, se já é difícil para os adultos entenderem o conflito, como explicá-lo para meninas e meninos? 

Para o professor e coordenador de Ensino Religioso do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, ao conversar com crianças sobre esse tema, cuidadores e professores têm a oportunidade de abordar sentimentos e pensamentos que talvez estejam causando algum conflito interno. Sem contar que pode ajudar a formar o caráter desses futuros adultos.

“Em tempos tão difíceis, é fundamental criar um ambiente de respeito às dúvidas e opiniões das crianças, bem como de acolhida aos seus sentimentos, seja em casa ou na sala de aula”, orienta o professor. Nesse sentido, alguns fatores podem facilitar essa tarefa, tais como: oferecer abertura para o diálogo desde os primeiros anos de vida da criança, estar atento às dúvidas dela, não ocultar a verdade dos fatos e transmitir confiança, proteção e segurança. 


Como falar sobre guerra com crianças

Em primeiro lugar, Douglas orienta que o assunto deve partir do interesse e questionamento da criança. “Ao adulto cabe conduzir a conversa pelo caminho do acolhimento, do respeito, do amor e da atenção. Dessa forma, não há uma idade mínima recomendável, dependerá do interesse ou da dúvida da criança, sempre partindo daquilo que ela ouviu ou leu sobre a guerra”, ressalta. 

Formado em Filosofia, Teologia e Metodologia do Ensino Religioso, o professor do Colégio Bom Jesus acredita que o tema ainda afugente muitos pais e cuidadores por envolver temáticas polêmicas como morte, violência, medo e tristeza. Porém, segundo ele, é preciso vencer esse tabu. “É importante que as crianças estejam cientes de que as coisas acontecem e como acontecem, sempre com o devido cuidado no modo como o tema é abordado para não gerar traumas”. 

Outra recomendação do professor é evitar impor juízo de valor sobre o assunto, isto é, apontar quem está certo ou errado em um contexto de guerra. “No diálogo com as crianças, é interessante reforçar a ideia de que o mundo é muito melhor sem as guerras, ressaltando a importância dos direitos das pessoas, da paz, da tolerância, da empatia e da solidariedade”, acrescenta. 

Na sala de aula, para elucidar o tema de forma didática, ele aconselha contextualizá-lo aos alunos, abordando elementos que abrangem os dois lados do conflito. Para isso, é possível utilizar recursos como mapas, histórias infantis, animações, produção de desenhos e pinturas, entre outros.

Dentro e fora da sala de aula, no entanto, é imprescindível que pais, cuidadores e professores ajam como filtro, evitando que as crianças tenham acesso a conteúdos mais pesados sobre a guerra ou informações e notícias falsas que destoam da realidade. 

 

Transtorno bipolar: estigma social ainda é uma barreira ao diagnóstico e tratamento adequado

Segundo o psicólogo, muitas pessoas com essa psicopatologia ou outras doenças mentais não recebem ajuda

 

Desde o início dos isolamentos por conta da pandemia, aumentou a preocupação de especialistas com a saúde mental. Casos de ansiedade e depressão cresceram 25 %, diz a Organização Mundial de Saúde (OMS). Contudo, já faz cinco anos que o Brasil é considerado o país com maior índice de pessoas com transtornos mentais em todo o mundo.

Segundo o psicólogo Davi Sidnei de Lima, muitas pessoas com essa psicopatologia ou qualquer outra doença mental não recebem tratamento para os seus transtornos. "O estigma social é mais nocivo do que os transtornos mentais e a bipolaridade em si. A saúde mental deve ser tratada com a mesma intensidade dada às doenças do corpo”, explica ele, que é especialista em avaliação e reabilitação neuropsicológica e professor do curso de Psicologia do Unibagozzi, em Curitiba (PR). 

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, o transtorno bipolar é uma condição psiquiátrica caracterizada por episódios críticos e intensos de alterações de humor, com flutuações que vão da euforia à depressão e remissão. A bipolaridade não tem cura, mas pode ser controlada com tratamento e acompanhamento adequados, permitindo significativa melhora da qualidade de vida.

“Atendo pacientes em meu consultório que me perguntam: ‘e se eu te encontrar na rua, o que faço?’ Porque ao encontrá-lo na presença de alguém corre o risco de revelar sua condição”, conta Lima, que além da docência no Unibagozzi faz atendimento e acompanhamento psicoterapêutico na perspectiva da terapia cognitivo-comportamental de crianças, adolescentes e adultos. 

Segundo ele, muitas vezes os pacientes vão escondidos ao seu consultório porque não querem ser descobertos por colegas de trabalho indo a uma sessão de terapia.


Estigma social em torno das doenças mentais 

Muitas vezes, as pessoas evitam ou atrasam a procura de tratamento por medo de serem tratadas de forma diferente e perder seus empregos e meios de subsistência. Isso porque estigma, preconceito e discriminação contra pessoas com doença mental ainda são um grande problema.

“O estigma é uma âncora que impede o movimento, o dinamismo característico da vida. Pensar em saúde mental precede uma questão de dinamismo, de movimento” enfatiza o psicólogo. 


Boas práticas para evitar o estigma social em torno da bipolaridade

Segundo Lima, a história da psiquiatria está intimamente ligada com as questões de moralidade, de higiene social, elementos que agravam os estigmas sociais. O Transtorno Bipolar afeta 2 a 3% da população mundial. No Brasil, o estigma social prejudica inclusive a pesquisa em torno dos transtornos mentais.

Com apenas alguns cliques é possível encontrar memes, humor e sátiras em torno da bipolaridade. Nesse sentido, o professor Davi ressalta que brincar com essa condição e qualquer outra relacionada à saúde mental, é um despropósito. 

O psicólogo chama a atenção para o papel da mídia para vencer o estigma através da influência positiva e conscientização. “A mídia tem impacto para movimentar essa âncora e tirar essa paralisia. Um estigma vai criando camadas sobre a realidade a ponto de torná-la inacessível. O movimento de colocar a saúde mental em pauta e dar o tratamento adequado, coloca a saúde mental como uma dimensão da vida”, afirma. 

O Dia Mundial do Transtorno Bipolar e o Março Roxo, por exemplo, são oportunidades para falar abertamente sobre saúde mental e uma boa prática para reduzir o estigma em torno dessa condição. Além disso, as pessoas que convivem com sujeitos acometidos de alguma patologia mental, têm a chance de aprender mais sobre os recursos existentes para lidar com os seus efeitos na vida cotidiana. 

 A qualidade da formação dos profissionais da saúde mental, entre eles o psicólogo, é um fator importante para a compreensão biopsicossocial da realidade humana. “A proposta do Unibagozzi é trazer para o centro da sociedade esse pensar o ser humano, formar profissionais com uma visão humanista para o sujeito”, diz o professor. 

 Também recomenda o cuidado que devemos ter como sociedade para não aumentar o estigma involuntariamente usando o diagnóstico de forma equivocada, ou classificar qualquer alteração de humor como bipolaridade ou tratar como loucura.

O psicólogo faz um alerta sobre os nossos julgamentos cotidianos a respeito do humor das pessoas que não podem substituir o diagnóstico profissional. “O sofrimento faz parte da vida, é algo inevitável, nós vamos ter variações, desde tristeza até momentos de alegria, mas quem vai caracterizar esses sofrimentos como uma psicopatologia, não são os julgamentos cotidianos, mas o acompanhamento especializado psiquiátrico e psicológico”.


Sintomas, diagnóstico e tratamento

O Transtorno Bipolar exige tratamento psiquiátrico, o que permite manejo adequado do tratamento farmacoterápico. Em geral se faz associações de medicamentos ansiolíticos, antidepressivos e estabilizadores do humor para tratar as questões do humor, depressão e ansiedade. 

Em geral, os sintomas incluem alternância de humor intensa, frequentes e que duram mais tempo do que o normal. A euforia exacerbada, irritabilidade, depressão, tristeza profunda e a presença de episódios de mania ou hipomania que alteram o comportamento do sujeito.  

O especialista alerta sobre o diagnóstico e tratamento, essenciais para tratar a doença, além de medicamentos corretos e a aderência do paciente são determinantes para alcançar o êxito. Se um sujeito com transtorno bipolar não fizer o tratamento adequado ou má associação medicamentosa - seja por falta ou excesso - poderá ter um agravamento da bipolaridade, inclusive a falta de tratamento pode levar o paciente a atentar contra a própria vida, resultado do autoestigma, preconceito e desconhecimento da doença. 

É recomendável um olhar humanístico para o indivíduo com bipolaridade e não apenas enquadrá-lo em critérios e diagnósticos, é observar suas alterações de humor e até que ponto isso prejudica o seu entorno, a vida biopsicossocial desse sujeito.

O acompanhamento psicológico é aliado do tratamento, uma condição para o sucesso na retomada da qualidade de vida. “Eu não tenho bons prognósticos de pacientes que não fazem acompanhamento psicológico diante do diagnóstico de transtorno bipolar. A psicoeducação e a psicohigiene aos aspetos no entorno do paciente, assim como a terapia familiar, melhoram a qualidade dos vínculos, confiança e harmoniza as relações”, finaliza Davi de Lima.


Consequências da pandemia que merecem atenção

Com a pandemia, a saúde mental ficou muito prejudicada e trouxe questões sobre transtornos ao debate. Uma delas está relacionada à pesquisa de doutorado do psicólogo Davi de Lima. O foco de sua tese se dá em torno da avaliação e reabilitação neuropsicológica.

 A pesquisa, que se desenvolve na Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem como objetivo avaliar os impactos diretos e indiretos da Covid-19 no neurodesenvolvimento infantil. Está em observação, os casos de crianças que nasceram de mães que contraíram a doença desencadeando fatores, como, por exemplo, o nascimento prematuro e condições que afetam a saúde da mãe. A Covid-19 pode agravar condições preexistentes, além de aumentar significativamente o número de óbitos no parto nesse período da pandemia.


O que acontece em nosso cérebro na hora da morte?


A compreensão da atividade cerebral durante uma experiência de quase morte ainda intriga os neurocientistas. A ideia lógica é que o cérebro se encontra num estado de hipoatividade nessas circunstâncias, porém estudos em modelos animais apresentaram dados opostos. Os pesquisadores observaram que após a parada cardíaca ocorre um aumento da atividade cerebral, principalmente das ondas gama, resultado de um aumento na hipercapnia (PaCO2) e da parada do suprimento sanguíneo ao cérebro após a parada do coração.

Estudos anteriores sobre a atividade cerebral já associaram um aumento da atividade talamocortical somado ao aumento das ondas gamas em indivíduos saudáveis relativas à percepção num estado consciente. As ondas alfa, por sua vez, são o tipo mais comum no nosso cérebro, e são importantes para o processamento de informações, principalmente no córtex visual. 

O padrão de ondas delta possui uma função inibitória sobre as vias neuronais que não são essenciais quando executamos tarefas. Já o padrão theta é importante para a evocação de memórias, especialmente em tarefas que recrutam memória verbal e espacial, inclusive durante a meditação.

A atividade cerebral pode ser medida através da eletroencefalografia, e estudos que avaliaram diversos padrões dessas atividades permitiram concluir que todos esses tipos de onda interagem e são responsáveis pela comunicação neuronal, percepção e memória.

É até meio óbvio dizer que estudos com a finalidade de compreender essa atividade cerebral em humanos são bastante limitados. Mas nas últimas semanas um artigo publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience vem movimentando a internet a respeito desse assunto.

Trata-se de um relato de caso de um paciente que morreu durante a eletroencefalografia. Já é bem estabelecido nos livros e artigos da área médica que 6 minutos após a parada cardíaca, e da cessação do suprimento sanguíneo para o cérebro, ele morre. Então, a perda das funções cerebrais chega a um ponto sem retorno e a consciência – nossa capacidade de sentir que estamos aqui e agora, e de reconhecer os pensamentos – se perde.

Mas a pergunta permanece - será que alguma atividade residual permanece, pelo menos por alguns minutos após a morte?

Experimentos foram realizados na tentativa de entender melhor os relatos de pessoas que tiveram uma experiência de quase morte. Esse fato tem sido frequentemente associado a eventos fora do corpo, uma sensação de profunda felicidade, relatos de chamados, a visão de uma luz brilhando acima, mas também de sensações de extrema ansiedade, vazio e silêncio.

Vale salientar que esses estudos possuem inúmeras limitações, talvez a principal delas seja o fato dessas pesquisas focarem mais na natureza dessas experiências do que no contexto que as precede.

Outra limitação importante é a ética do estudo. É muito difícil conseguir permissão para estudar o que realmente acontece no cérebro durante os últimos momentos de vida. O artigo de Raul Vicente e colaboradores, avaliou a atividade elétrica cerebral de um paciente de 87 anos, que devido a uma queda desenvolveu um hematoma no lado esquerdo do cérebro, resultando em diversos episódios convulsivos e parada cardíaca.

 Essa é a primeira publicação da história a coletar esses tipos de dados dessa fase de transição entre vida e morte. Os padrões de onda cerebral percebidos no paciente após a morte foram muito parecidos aos padrões da atividade cerebral quando um indivíduo saudável executa uma tarefa, sobretudo quando a evocação de memórias acontece.

O estudo relata que durante 30 segundos antes e depois da morte, foi possível observar mudanças em diferentes tipos de ondas cerebrais, incluindo ondas cerebrais alfa e gama. É sabido que a conexão entre esses padrões de onda cerebrais está relacionada com a memória e processos cognitivos em indivíduos saudáveis. A visualização desse padrão de ondas no paciente do estudo permitiu aos pesquisadores especular se essa atividade poderia ser justificada como uma última lembrança da vida, que pode ocorrer nesses poucos segundos no estado de quase morte.

Ou seja, de acordo com esse estudo isolado, os filmes de Hollywood podem estar certos: é possível que nossa vida passe diante dos nossos olhos momentos antes da morte.

Contudo, é válido destacar que esses dados são baseados na observação de um único paciente. Por isso a equipe da pesquisa pede cautela com a extrapolação dos resultados, pois outros fatores como as próprias lesões cerebrais traumáticas apresentadas pelo paciente podem afetar o padrão de ondas cerebrais, inclusive a medicação usada no paciente, que incluía um anticonvulsivante, pode apresentar tais mudanças.

O que chamou tanto a atenção a respeito dessa pesquisa é o fato desses dados desafiarem a compreensão de quando exatamente a vida termina, o que acaba gerando diversas outras questões.

Um estudo em animais demonstrou que poucos segundos após a parada cardíaca, a consciência já é perdida, e em até 40s, a maior parte da atividade neuronal já desapareceu. Outros estudos relatam que durante o "desligamento" do cérebro, ocorre liberação de serotonina, um neurotransmissor envolvido com os sentimentos de felicidade e excitabilidade.

Existem algumas teorias tentando explicar o motivo da vida passar diante dos olhos de alguém enquanto o cérebro se prepara para morrer.

I) Efeito artificial associado ao súbito aumento da atividade neural quando o cérebro começa a desligar;

II) Último mecanismo de defesa do organismo tentando superar a morte iminente;

III) Reflexo enraizado, geneticamente programado, para manter a mente "ocupada" enquanto o evento mais angustiante da vida se desenrola.

Afirmar qual é a verdadeira não é possível. Nem se somente uma está correta ou se todas estão corretas, ou ainda, se não é o caso de nenhuma delas. Pesquisas futuras nessa área, com medidas mais prolongadas da atividade cerebral pós-morte, incluindo exames de imagem, talvez possam responder essa questão.

Nesse estudo de Vicente et al. (2022), os pesquisadores conseguiram identificar que mesmo após a supressão da atividade neuronal em ambos os hemisférios, foi possível observar uma redução da atividade das ondas alfa, beta, delta e theta e um aumento da atividade das ondas gama nesse paciente.

Esse estudo fornece a primeira evidência da atividade cerebral de um paciente em processo de morte, e reforça a hipótese de que o cérebro humano pode possuir a capacidade de gerar atividade durante uma experiência de quase morte.

 

Dra. Marissa Schamne - Doutora em Psicofarmacologia e co-fundadora da Escola Rigor Científico. Acesse www.rigorcientifico.com.br para conhecer outros artigos sobre ciência e saúde. 

 

Referências

Vicente, R., Rizzutom N., Sarica, C., et al. Enhanced interplay of neuronal coherence and coupling in the dying human brain. Frontiers in Aging Neuroscience, v. 14, 2022.

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnagi.2022.813531/full

 

Posts mais acessados