O
trânsito é a principal causa de morte acidental de crianças e adolescentes no
Brasil. Entenda mais sobre a importância de promover a cultura de prevenção
para evitar esse tipo de acidentes.
O
trânsito é a principal causa de morte por acidente de crianças e adolescentes
de zero a 14 anos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Só no ano de 2016,
morreram 1.292 meninas e meninos brasileiros em decorrência de acidentes no
trânsito (Datasus/2016). O dado reflete a importância de governo e sociedade
pensarem em formas de garantir mais segurança nesse ambiente e também que é
urgente focarmos na
prevenção.
Neste
texto, vamos falar sobre o porquê a criança é um dos atores mais frágeis no
trânsito e também expor os principais fatores de risco que resultam em tantos
acidentes nas vias.
Acidentes de trânsito em números
Das
1.292 crianças e adolescentes que morreram em 2016 por acidente de trânsito,
469 (36,3%) ocupavam veículos, seguido por 386 (29,9%) na condição de pedestre
e 137 vítimas de motocicletas (10,6%).
As
maiores vítimas, em qualquer situação, são meninos e meninas de 10 a 14 anos,
que representaram 545 mortes só em 2016. Como nesta faixa etária a criança já
adquiriu mais independência, há menor vigilância dos pais ou responsáveis
quanto aos procedimentos seguros no trânsito. Não usar o cinto de segurança e
atravessar a rua distraídos são alguns descuidos comuns. O mesmo fator atinge
outra faixa etária, de cinco a nove anos de idade, representando
352 vítimas no ano.
Os
números de crianças e adolescentes internados por acidente de trânsito também é
bastante expressivo. Só em 2018, o Brasil registrou 11.037 internações, de
acordo com o Datasus. Dessas, 3.596 representam meninas e meninos que se
encontravam em condição de pedestre, 2.634 representam acidentes em que a
criança ou o adolescente em motocicleta e 2.483 crianças em bicicletas.
A
legislação brasileira recomenda que, até os 10 anos de idade, as crianças sejam
transportadas no banco traseiro do veículo automotivo, usando cinto de
segurança. E, até os sete anos e meio elas precisam usar um dispositivo de
retenção veicular (bebê conforto, cadeirinha e assento de elevação). Quando
usados e instalados corretamente, esses dispositivos reduzem em até 71% a
chance de morte de uma criança em caso de acidente de trânsito.
Dados sobre acidentes de trânsito com crianças e adolescentes
Número de mortes de crianças e
adolescentes em acidentes de trãnsito (2016)
Tipos de
acidentes
|
Menor 1 ano
|
1 a 4 anos
|
5 a 9 anos
|
10 a 14 anos
|
Total
|
Ocupante de
veículo
|
60
|
104
|
141
|
164
|
469
|
Pedestre
|
9
|
131
|
119
|
127
|
386
|
Ciclista
|
0
|
3
|
13
|
48
|
64
|
Motocicleta
|
3
|
16
|
16
|
102
|
137
|
Outros
|
18
|
51
|
63
|
104
|
236
|
Total
|
90
|
305
|
352
|
545
|
1.292
|
Fonte:
Datasus - 2016
Número de internações de crianças e
adolescentes em acidentes de trãnsito (2016)
Tipos
de acidentes
|
Menor
1 ano
|
1
a 4 anos
|
5
a 9 anos
|
10
a 14 anos
|
Total
|
Pedestre
|
87
|
801
|
1352
|
1356
|
3596
|
Ciclista
|
19
|
198
|
813
|
1453
|
2483
|
Motocicleta
|
115
|
461
|
595
|
1463
|
2634
|
Ocupante de veiculo
|
74
|
235
|
441
|
658
|
1408
|
Outros
|
28
|
193
|
321
|
374
|
916
|
Total
|
323
|
1.888
|
3.522
|
5.304
|
11.037
|
Fonte:
Datasus - 2018
Fatores de risco para acidentes de trânsito
A
Organização
Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS)
estabeleceu seis principais fatores de risco para acidentes de trânsito,
expostos em sua publicação Salvar VIDAS.
Entre eles, destacamos:
- Velocidade;
- Não usar sistema de retenção para crianças; e
- Distrações.
Velocidade
O
excesso de velocidade é uma das principais causas de acidentes de trânsito.
Quanto maior é a velocidade de um veículo, mais tempo ele precisa para parar
totalmente após o motorista acionar o freio. Além disso, quanto maior a
velocidade, maior é o impacto em caso de colisão.
Devido
a isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o limite máximo de
velocidade em vias urbanas seja de 50 km/h. De acordo com estudos, um pedestre
atropelado por um veículo que circula até essa velocidade tem menos de 20% de
chance de morrer em caso de atropelamento. Quando os automóveis circulam à 80
km/h, a probabilidade de óbito é de quase 60%.
Não usar sistema de retenção para crianças
Usar
a cadeirinha, o bebê conforto ou o assento de elevação é a única maneira segura
para transportar crianças em veículos. De acordo com a legislação brasileira, é
obrigatório o uso do equipamento de retenção para crianças de até sete anos e
meio. Se a lei não for cumprida, o infrator deverá pagar uma multa de R$
293,47, perde sete pontos na carteira de habilitação e tem o veículo retido
para regularização.
Para
cada idade, peso e altura de meninas e meninos, existe um equipamento correto a
ser utilizado, que sempre deve possuir certificação o Inmetro e ser instalado
corretamente. Saiba qual é o equipamento mais indicado para cada caso:
Distrações
Para
dirigir carro ou moto, pedalar uma bike ou andar pela rua com segurança é
preciso muita atenção o tempo todo. Qualquer distração pode provocar um
acidente. Por isso, sempre que estiver no trânsito - seja como motorista ou
pedestre - evite usar fones de ouvido ou o celular. Caso precise atender uma
ligação ou responder uma mensagem, pare em um local seguro. Converse com as
crianças e adolescentes sobre a importância de manter sempre atento olhos e
ouvidos ao trânsito para evitar acidentes,.
Os
outros fatores de risco citados pela publicação são:
- Não usar capacete;
- Dirigir sob efeito do álcool; e
- Não usar cinto de segurança.
A criança e o trânsito
Quando
falamos das questões relacionadas ao trânsito e infância, não podemos deixar de
considerar a diferença do desenvolvimento cognitivo, físico e emocional de uma
criança em comparação ao adulto.
Por
isso, quando o foco das ações de prevenção de acidentes são as crianças, é
necessário, além dos dados, levar em consideração as especificidades da criança
e sua correlação com a mobilidade e o trânsito.
Abaixo,
seguem os principais característica física e psicológica que tornam as crianças
mais vulneráveis no trânsito.
Visão
A
criança não enxerga como um adulto. Ela não tem a mesma amplitude de visão
periférica que uma pessoa adulta tem. Devido a isso, os pequenos praticamente
só enxergam o que está na frente deles.
Além
disso, uma criança leva aproximadamente quatro segundos para que consiga
perceber se um automóvel está parado ou em movimento.
Conceitos
como "altura" e "distância" também são confusos para
crianças. Por exemplo, um automóvel, que é menor, parece mais afastado que um
caminhão, que é grande.
A
mesma confusão acontece com os conceitos de "ver" e "ser
visto". Se uma criança vê um automóvel, ela imediatamente acredita que
também foi vista. Entretanto, isso nem sempre acontece, até mesmo em
consequência à sua baixa estatura, que pode acabar deixando o pequeno fora do
campo de visão dos motoristas.
Audição
Uma
criança não ouve como um adulto. Ela não consegue detectar bem de onde provêm
os sons e os ruídos da vida cotidiana a distraem, fazendo com que elas prestem
atenção apenas nos barulhos que a interessam (algum colega a chamando, por
exemplo).
Relação causa-efeito
A
criança não compreende a relação causa-efeito. Com isso, ela entende que o
automóvel pode parar imediatamente assim que motorista frear. Para ela, é
incompreensível o conceito de que é preciso uma distância e um tempo para um
veículo parar completamente após o motorista pisar no freio.
Imitação
As
crianças tendem a imitar os adultos. Por exemplo, ela vê um adulto atravessando
a rua e, imediatamente, acredita que ela também pode atravessar, sem
compreender que, no trânsito, em alguns segundos a situação pode se alterar
completamente.
Satisfação das suas necessidades
Para
a criança, brincar, mover, chegar na hora na escola ou em casa, juntar-se aos
seus pais do outro lado da rua ou recuperar a sua bola é mais importante que
observar a circulação. Para isso, ela é capaz de correr para a rua sem observar
antes se um carro está vindo.
Desenvolvimento da criança
Os
acidentes têm consequências mais sérias com crianças e adolescentes porque seus
corpos são mais frágeis que um corpo adulto. Isso acontece porque eles ainda
estão se desenvolvendo.
Estudiosos
do desenvolvimento infantil dizem que crianças menores de dez anos ainda não possuem
habilidades motoras e cognitivas totalmente amadurecidas para perceber e para
reagir de forma segura diante dos riscos e das regras que o trânsito dispõe.
Por
conta de sua baixa estatura, em caso de atropelamento, por exemplo, o impacto
de um veículo contra o corpo de uma criança atinge regiões da cabeça, pélvis e
abdômen, que são muito frágeis do corpo humano, o que acaba aumentando as
chances de lesões gravíssimas e fatais.
Além
disso, crianças de até 12 anos ainda não possuem um desenvolvimento perceptivo-motor
completo para transitarem de forma segura em vias públicas. Esse
desenvolvimento se manifesta por meio da observação, da percepção e da
interpretação adequada dos estímulos do ambiente. Isso tudo servirá como
ferramentas que as ajudarão na tomada de decisão e ação eficientes e eficazes
diante dos riscos.
Por
isso, cabe aos pais, familiares, responsáveis e cuidadores desde cedo explicar
os conceitos de segurança no trânsito para os pequenos e observarem as crianças
durante os trajetos para perceberem se elas já estão preparadas para andarem
sozinhas na rua com segurança.
Criança Segura
A Criança Segura é uma Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, dedicada à prevenção de acidentes com crianças e
adolescentes de até 14 anos. A organização atua no Brasil desde 2001 e faz
parte da rede internacional Safe Kids Worldwide, fundada em 1987, nos Estados
Unidos, pelo cirurgião pediatra Martin Eichelberger.
Para cumprir sua missão, desenvolve ações de Políticas
Públicas – incentivo ao debate e participação nas discussões sobre leis ligadas
à criança, objetivando inserir a causa na agenda e orçamento público;
Comunicação – geração de informação e desenvolvimento de campanhas de mídia
para alertar e conscientizar a sociedade sobre a causa e Mobilização – cursos à
distância, oficinas presenciais e sistematização de conteúdos para potenciais
multiplicadores, como profissionais de educação, saúde, trânsito e outros
ligados à infância, promovendo a adoção de comportamentos seguros.