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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Biblioteca Mário de Andrade celebra nesta quinta aniversário do Rio Tietê com lançamento de livro e evento musical



 Obra que retrata a história e os desafios do principal rio do Estado de São Paulo será lançada com evento musical e mesa redonda sobre o Rio Tietê no dia 22 de setembro

Para comemorar o Dia do Rio Tietê, nesta quinta-feira, 22 de setembro, a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, será sede do evento de lançamento do livro “Águas do Alto Tietê”, dos autores Arnaldo Kutner, Marco Palermo e Renato Zuccolo.

Com prefácio do “príncipe dos poetas”, Paulo Bomfim, o livro aborda a evolução histórica dos principais projetos e obras realizados na bacia do Alto Tietê, cujo território praticamente coincide com a Região Metropolitana de São Paulo.

Na oportunidade, será realizado debate sobre a relação da metrópole paulistana com as águas do Rio Tietê, além do de recital com repertório de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone e de Ronaldo Miranda, que musicou o poema “Tiêtê”, de Mario de Andrade, composto para o livro Pauliceia Desvairada.




Serviço

Aniversário do Rio Tietê, com lançamento do livro “Águas do Alto Tietê”, mesa redonda, musical e coquetel.

Local: Biblioteca Mário de Andrade (Rua da Consolação, 94, São Paulo/SP)
Dia 22 de setembro, às 19h. Entrada gratuita.

Número de gestações não planejadas ainda é alto no Brasil




País registra cerca de 1,8 milhões de gestações não programadas a cada ano[1], o que gera um gasto público anual de mais de R$ 4 bilhões¹. Entenda o porquê dessa situação

Na data em que se lembra a importância de escolher o melhor momento para engravidar, 26 de setembro é o Dia Mundial da Gravidez não Planejada, é preciso questionar por que o Brasil ainda registra tantos partos não programados. A cada ano, cerca de 1,8 milhões de gestações não planejadas ocorrem no país1, mesmo com uma política nacional de planejamento reprodutivo que disponibiliza acesso gratuito a nove métodos contraceptivos.

Atualmente, o Ministério da Saúde oferece à população brasileira pílula oral combinada, anticoncepcionais injetáveis mensal e trimestral, diafragma, DIU de cobre, preservativos masculino e feminino, pílula de emergência e minipílula[2]. No entanto, o acesso aos métodos não é irrestrito e as opções disponíveis nem sempre atendem adequadamente a todos os perfis de mulheres.

De acordo com o Dr. Luciano Pompei, professor assistente doutor da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac), “é essencial a discussão sobre o planejamento reprodutivo no nosso país, o que contempla políticas sociais e econômicas que visem a ampliação de acesso a todos os métodos contraceptivos, especialmente às mulheres em situação de vulnerabilidade”. Nesse grupo estão incluídas mulheres com a adesão comprometida a métodos anticoncepcionais, como adolescentes, usuárias de drogas, moradoras de rua e mulheres em situação carcerária.

Contraceptivos que dependem da disciplina da mulher são mais propensos a estarem relacionados ao uso incorreto ou a falta de adesão, resultando em falha[3]. Uma pesquisa revelou que, das mulheres entrevistadas que engravidaram sem planejamento, atendidas no sistema público de saúde, 52% não estavam usando métodos contraceptivos e 31% estavam usando pílula anticoncepcional ou método injetável quando engravidaram[4].

“Além de informar sobre o uso correto dos anticoncepcionais disponíveis, é preciso ampliar a oferta de métodos cuja eficácia contraceptiva não dependa da disciplina da mulher”, reforça o médico.

Os contraceptivos de longa ação como o implante subcutâneo, com duração de até três anos, o sistema intrauterino liberador de hormônio, que pode ser usado por até cinco anos, e o DIU de cobre (com duração de 5 a 10 anos dependendo do modelo) podem ser considerados mais convenientes para as mulheres vulneráveis. Esses anticoncepcionais têm índice de eficácia superior a 99% no uso do método[5] e podem, inclusive, ser usados durante a lactação, sem afetar o bebê[6]. Os contraceptivos de longa ação também se mostram mais custo-efetivos do que outras formas de prevenção à gravidez no que diz respeito aos gastos diretos e indiretos relacionados à gestação não planejada[7].

O planejamento reprodutivo foi um dos maiores avanços em saúde pública alcançados no último século. Ele permite que as mulheres tomem decisões informadas sobre se e quando querem ter filhos, pode reduzir a mortalidade materna e de recém-nascidos, além de diminuir as taxas de gestações não planejadas e abortos inseguros e aumentar as oportunidades para as mulheres, resultando em famílias e comunidades mais saudáveis[8].

Impactos da gravidez não planejada
Saúde
·         Gestações que ocorrem com intervalos menores que de um ano e meio entre um parto e um novo teste de gravidez positivo podem estar associados a vários efeitos negativos no bebê como baixo peso ao nascer, prematuridade, maior risco de paralisia cerebral, maior risco de autismo e maior chance de mortalidade no primeiro ano de vida[9].
·         Para a mãe, há maior chance de desenvolver anemia e de mortalidade por complicações na gravidez e no parto – especialmente entre as mais jovens –, além de maior risco de apresentar sangramento nos últimos três meses de gestação.
·         A taxa de mortalidade de crianças de até cinco anos, cujas mães esperam pelo menos dois para ter uma nova gestação, diminui em 13% se comparado a um intervalo menor. Quando elas esperam até três anos, o declínio é de 25%, segundo dados da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (United States Agency for International Development)[10].

Econômico
·         Gestações não planejadas geram um gasto público anual de R$ 4,1 bilhões apenas com custos hospitalares diretamente ligados1.
·         Estima-se que o custo com uma gestação não planejada no Brasil seja de R$ 2.293,00¹.
·         Com a prevenção de uma gravidez indesejada, uma quantidade significativa de futuras despesas de dinheiro público pode ser evitada. Estudo da UNICAMP, avaliou gestações não planejadas no Brasil, a partir de 2010. A conclusão do estudo é que reduções nas taxas de gravidez não planejada não só reduz gastos, como também as taxas de morbidade e mortalidade materno-fetal1.
·         Cada dólar gasto em planejamento familiar pode economizar até 6 dólares, possibilitando que os governos invistam mais em atenção básica e outros serviços públicos de saúde8.

É importante lembrar que a camisinha é o único método que previne as doenças sexualmente transmissíveis.


[1]Luis Bahamondes (UNICAMP). The burden of unintended pregnancies in Brazil: a social and public health system cost analysis. International Journal of Womens Health. 2014; 6: 663–670.  Published online 2014 Jul 16. doi:  10.2147/IJWH.S61543.  Acessado em 05/04/2016.Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4106956/
[2] Ministério da Saúde. SUS oferece oito opções de métodos contraceptivos. Acessado em  05/04/2016. Disponível em:
[3] Guazzelli CA,  de Queiroz FT, BArbieri M.et al. Etonogestrel implant in postpartum adolescents: bleeding pattern, efficacy and discontinuation rate. / Contraception 82 (2010) 256–259.
[4] Leventhal LC, Barbosa KSF. Planejamento gestacional em hospitais público e privado. RBPS 2008; 21 (4): 269-274. Acessado em 05/04/2016. Disponível em http://www.unifor.br/notitia/file/2971.pdf
[5] Blumenthal PD, et al. Strategies to prevent unintended pregnancy: increasing use of long-acting reversible contraception. Human Reproduction Update 2011;17(1):121-37
[6] Trussell J. Contraceptive failure in the United States. Contraception 2011;83(5):397-404.
[7] NICE. NICE implementation uptake report: Long-acting reversible contraception (LARC). Acessed on: 12/20/2010. Available from: http://www.nice.org.uk/media/67F/C5/UptakeReportCG30LARC.pdf.
[8] Bill & Melinda Gates Foundation. Acessado em: 05/04/2016. Disponível em: http://www.gatesfoundation.org/What-We-Do/Global-Development/Family-Planning
[9] Family Planning Association, UK. Contraception: Your Guide to the Contraceptive Implant. Acessed on: 12/21/10 Available from: http://www.fpa.org.uk/Information/Readourinformationbooklets/implant
[10] Frost JJ, Darroch JE. Factors associated with contraceptive choice and inconsistent method use, United States, 2004. Perspectives on Sexual and Reproductive Health 2008;40(2):94-104.

A paratleta e a eutanásia



Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos trouxeram à tona no Brasil e no mundo alguns temas bioéticos importantes. A questão do aborto tem sido objeto de intensos debates com o vírus zika – a possibilidade de contaminação foi a alegação de vários atletas para não vir ao Rio – e as Paralimpíadas levantaram um debate sobre a eutanásia. A paratleta belga Marieke Vervoort, 37 anos, reacendeu a polêmica ao afirmar que, se não tivesse a opção da eutanásia, teria cometido suicídio. Na Bélgica a eutanásia é permitida, ao contrário do Brasil e da grande maioria dos países.

Normas éticas e legais existem em virtualmente todas as sociedades com o objetivo de proteger a vida humana e regular as circunstâncias em que ela pode ou não ser prolongada. O maior patrimônio de uma sociedade – qualquer que seja – é, estruturalmente, a pessoa humana. A sociedade existe, afinal, em razão das pessoas que a constituem. Nenhuma sociedade liberal e democrática pode existir sem elaborar critérios de justiça e, dessa forma, sem deixar de limitar o exercício da autonomia individual. Limites estes impostos pela lei e previstos no próprio exercício da cidadania.

Assim, existe de fato e de direito um nexo entre a dimensão moral da vida pessoal e a sua relevância pública. O homem, enquanto membro de uma sociedade – enquanto cidadão –, deve aceitar que algumas de suas escolhas sejam limitadas e reguladas. E, no caso da eutanásia, a moral pessoal e a vida pública entram em conflito. O interesse individual das pessoas nessa temática reflete o temor da perda do controle da situação e da dignidade na fase final da vida. Esse temor está bem explícito na forma como a paratleta se manifestou.

Eutanásia é o ato de provocar diretamente e voluntariamente a morte de alguém com uma doença ou debilidade grave, com o objetivo de eliminar a dor e o sofrimento. Contudo, uma boa morte não significa apenas uma morte sem dor ou sem sofrimento, mas uma morte preparada espiritualmente e vivida no conforto da família e dos amigos, e com assistência adequada.

Além disso, sempre é bom lembrar que a eutanásia é uma decisão moral (no sentido estrito da palavra), não baseada em estudos científicos. É uma decisão baseada em valores mais que em estudos clínicos, cujos riscos éticos e as consequências sociais não são totalmente conhecidos. A sua grande fragilidade está exatamente no fato de permitir que, dentro de uma sociedade, possa ser violado o dever de não matar um ser humano inocente. Mudaria de uma forma drástica a ética hipocrática. Obrigaria que este tema fosse abordado dentro dos cursos de Medicina e alteraria o relacionamento médico-paciente. O paciente vai ao médico para um tratamento que possa salvar ou melhorar a sua vida ou para eliminá-la? E mais: quem poderia ser eliminado, se o sofrimento é uma experiência individual que não pode ser medida?

Eliminar o paciente terminal com procedimentos como a eutanásia e o suicídio assistido (ambos não são muito diferentes do ponto de vista moral) é bem mais fácil que acolher e tratar. Quando não há nada mais a ser feito, na realidade há muito ainda a ser feito. A assistência a quem está morrendo exige que sejam mantidos tratamentos que reduzam a dor e o sofrimento. Exige profissionais de saúde com uma formação técnica e humanística adequada, dedicados ao manejo da terminalidade em todas as suas dimensões.

Marieke Vervoort é um grande exemplo de superação para todos nós. Encontrou forças e motivação no esporte para seguir em frente com sua vida, apesar de todas as dificuldades e limitações. Este é o caminho a ser seguido. E a missão nossa, enquanto profissionais de saúde, é dar condições para que os pacientes vivam melhor em todas as fases de suas vidas, inclusive a fase final. A eutanásia não é a solução. Ao contrário, é a falta dela.



Cicero Urban - médico oncologista e mastologista, é professor de Bioética e de Metodologia Científica na Universidade Positivo e vice-presidente do Instituto Ciência e Fé.



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