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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Número de gestações não planejadas ainda é alto no Brasil




País registra cerca de 1,8 milhões de gestações não programadas a cada ano[1], o que gera um gasto público anual de mais de R$ 4 bilhões¹. Entenda o porquê dessa situação

Na data em que se lembra a importância de escolher o melhor momento para engravidar, 26 de setembro é o Dia Mundial da Gravidez não Planejada, é preciso questionar por que o Brasil ainda registra tantos partos não programados. A cada ano, cerca de 1,8 milhões de gestações não planejadas ocorrem no país1, mesmo com uma política nacional de planejamento reprodutivo que disponibiliza acesso gratuito a nove métodos contraceptivos.

Atualmente, o Ministério da Saúde oferece à população brasileira pílula oral combinada, anticoncepcionais injetáveis mensal e trimestral, diafragma, DIU de cobre, preservativos masculino e feminino, pílula de emergência e minipílula[2]. No entanto, o acesso aos métodos não é irrestrito e as opções disponíveis nem sempre atendem adequadamente a todos os perfis de mulheres.

De acordo com o Dr. Luciano Pompei, professor assistente doutor da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac), “é essencial a discussão sobre o planejamento reprodutivo no nosso país, o que contempla políticas sociais e econômicas que visem a ampliação de acesso a todos os métodos contraceptivos, especialmente às mulheres em situação de vulnerabilidade”. Nesse grupo estão incluídas mulheres com a adesão comprometida a métodos anticoncepcionais, como adolescentes, usuárias de drogas, moradoras de rua e mulheres em situação carcerária.

Contraceptivos que dependem da disciplina da mulher são mais propensos a estarem relacionados ao uso incorreto ou a falta de adesão, resultando em falha[3]. Uma pesquisa revelou que, das mulheres entrevistadas que engravidaram sem planejamento, atendidas no sistema público de saúde, 52% não estavam usando métodos contraceptivos e 31% estavam usando pílula anticoncepcional ou método injetável quando engravidaram[4].

“Além de informar sobre o uso correto dos anticoncepcionais disponíveis, é preciso ampliar a oferta de métodos cuja eficácia contraceptiva não dependa da disciplina da mulher”, reforça o médico.

Os contraceptivos de longa ação como o implante subcutâneo, com duração de até três anos, o sistema intrauterino liberador de hormônio, que pode ser usado por até cinco anos, e o DIU de cobre (com duração de 5 a 10 anos dependendo do modelo) podem ser considerados mais convenientes para as mulheres vulneráveis. Esses anticoncepcionais têm índice de eficácia superior a 99% no uso do método[5] e podem, inclusive, ser usados durante a lactação, sem afetar o bebê[6]. Os contraceptivos de longa ação também se mostram mais custo-efetivos do que outras formas de prevenção à gravidez no que diz respeito aos gastos diretos e indiretos relacionados à gestação não planejada[7].

O planejamento reprodutivo foi um dos maiores avanços em saúde pública alcançados no último século. Ele permite que as mulheres tomem decisões informadas sobre se e quando querem ter filhos, pode reduzir a mortalidade materna e de recém-nascidos, além de diminuir as taxas de gestações não planejadas e abortos inseguros e aumentar as oportunidades para as mulheres, resultando em famílias e comunidades mais saudáveis[8].

Impactos da gravidez não planejada
Saúde
·         Gestações que ocorrem com intervalos menores que de um ano e meio entre um parto e um novo teste de gravidez positivo podem estar associados a vários efeitos negativos no bebê como baixo peso ao nascer, prematuridade, maior risco de paralisia cerebral, maior risco de autismo e maior chance de mortalidade no primeiro ano de vida[9].
·         Para a mãe, há maior chance de desenvolver anemia e de mortalidade por complicações na gravidez e no parto – especialmente entre as mais jovens –, além de maior risco de apresentar sangramento nos últimos três meses de gestação.
·         A taxa de mortalidade de crianças de até cinco anos, cujas mães esperam pelo menos dois para ter uma nova gestação, diminui em 13% se comparado a um intervalo menor. Quando elas esperam até três anos, o declínio é de 25%, segundo dados da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (United States Agency for International Development)[10].

Econômico
·         Gestações não planejadas geram um gasto público anual de R$ 4,1 bilhões apenas com custos hospitalares diretamente ligados1.
·         Estima-se que o custo com uma gestação não planejada no Brasil seja de R$ 2.293,00¹.
·         Com a prevenção de uma gravidez indesejada, uma quantidade significativa de futuras despesas de dinheiro público pode ser evitada. Estudo da UNICAMP, avaliou gestações não planejadas no Brasil, a partir de 2010. A conclusão do estudo é que reduções nas taxas de gravidez não planejada não só reduz gastos, como também as taxas de morbidade e mortalidade materno-fetal1.
·         Cada dólar gasto em planejamento familiar pode economizar até 6 dólares, possibilitando que os governos invistam mais em atenção básica e outros serviços públicos de saúde8.

É importante lembrar que a camisinha é o único método que previne as doenças sexualmente transmissíveis.


[1]Luis Bahamondes (UNICAMP). The burden of unintended pregnancies in Brazil: a social and public health system cost analysis. International Journal of Womens Health. 2014; 6: 663–670.  Published online 2014 Jul 16. doi:  10.2147/IJWH.S61543.  Acessado em 05/04/2016.Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4106956/
[2] Ministério da Saúde. SUS oferece oito opções de métodos contraceptivos. Acessado em  05/04/2016. Disponível em:
[3] Guazzelli CA,  de Queiroz FT, BArbieri M.et al. Etonogestrel implant in postpartum adolescents: bleeding pattern, efficacy and discontinuation rate. / Contraception 82 (2010) 256–259.
[4] Leventhal LC, Barbosa KSF. Planejamento gestacional em hospitais público e privado. RBPS 2008; 21 (4): 269-274. Acessado em 05/04/2016. Disponível em http://www.unifor.br/notitia/file/2971.pdf
[5] Blumenthal PD, et al. Strategies to prevent unintended pregnancy: increasing use of long-acting reversible contraception. Human Reproduction Update 2011;17(1):121-37
[6] Trussell J. Contraceptive failure in the United States. Contraception 2011;83(5):397-404.
[7] NICE. NICE implementation uptake report: Long-acting reversible contraception (LARC). Acessed on: 12/20/2010. Available from: http://www.nice.org.uk/media/67F/C5/UptakeReportCG30LARC.pdf.
[8] Bill & Melinda Gates Foundation. Acessado em: 05/04/2016. Disponível em: http://www.gatesfoundation.org/What-We-Do/Global-Development/Family-Planning
[9] Family Planning Association, UK. Contraception: Your Guide to the Contraceptive Implant. Acessed on: 12/21/10 Available from: http://www.fpa.org.uk/Information/Readourinformationbooklets/implant
[10] Frost JJ, Darroch JE. Factors associated with contraceptive choice and inconsistent method use, United States, 2004. Perspectives on Sexual and Reproductive Health 2008;40(2):94-104.

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