País
registra cerca de 1,8 milhões de gestações não programadas a cada ano[1], o que gera um gasto público
anual de mais de R$ 4 bilhões¹. Entenda o porquê dessa situação
Na data em que se
lembra a importância de escolher o melhor momento para engravidar, 26 de
setembro é o Dia Mundial da Gravidez não Planejada, é preciso questionar por
que o Brasil ainda registra tantos partos não programados. A cada ano, cerca de
1,8 milhões de gestações não planejadas ocorrem no país1, mesmo com
uma política nacional de planejamento reprodutivo que disponibiliza acesso
gratuito a nove métodos contraceptivos.
Atualmente, o
Ministério da Saúde oferece à população brasileira pílula oral combinada,
anticoncepcionais injetáveis mensal e trimestral, diafragma, DIU de cobre,
preservativos masculino e feminino, pílula de emergência e minipílula[2]. No entanto, o acesso aos métodos não
é irrestrito e as opções disponíveis nem sempre atendem adequadamente a todos
os perfis de mulheres.
De acordo com o Dr. Luciano Pompei, professor assistente doutor da disciplina
de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Associação
Brasileira de Climatério (Sobrac), “é essencial a discussão sobre o
planejamento reprodutivo no nosso país, o que contempla políticas sociais e
econômicas que visem a ampliação de acesso a todos os métodos contraceptivos,
especialmente às mulheres em situação de vulnerabilidade”. Nesse grupo
estão incluídas mulheres com a adesão comprometida a métodos anticoncepcionais,
como adolescentes, usuárias de drogas, moradoras de rua e mulheres em situação
carcerária.
Contraceptivos que
dependem da disciplina da mulher são mais propensos a estarem relacionados ao
uso incorreto ou a falta de adesão, resultando em falha[3].
Uma pesquisa revelou que, das mulheres entrevistadas que engravidaram sem
planejamento, atendidas no sistema público de saúde, 52% não estavam usando
métodos contraceptivos e 31% estavam usando pílula anticoncepcional ou método
injetável quando engravidaram[4].
“Além de
informar sobre o uso correto dos anticoncepcionais disponíveis, é preciso
ampliar a oferta de métodos cuja eficácia contraceptiva não dependa da
disciplina da mulher”, reforça o médico.
Os
contraceptivos de longa ação como o implante subcutâneo, com duração de até
três anos, o sistema intrauterino liberador de hormônio, que pode ser usado por
até cinco anos, e o DIU de cobre (com duração de 5 a 10 anos dependendo do
modelo) podem ser considerados mais convenientes para as mulheres vulneráveis.
Esses anticoncepcionais têm índice de eficácia superior a 99% no uso do método[5]
e podem, inclusive, ser usados durante a lactação, sem afetar o bebê[6].
Os contraceptivos de longa ação também se mostram mais custo-efetivos do que
outras formas de prevenção à gravidez no que diz respeito aos gastos diretos e
indiretos relacionados à gestação não planejada[7].
O
planejamento reprodutivo foi um dos maiores avanços em saúde pública alcançados
no último século. Ele permite que as mulheres tomem decisões informadas sobre
se e quando querem ter filhos, pode reduzir a mortalidade materna e de
recém-nascidos, além de diminuir as taxas de gestações não planejadas e abortos
inseguros e aumentar as oportunidades para as mulheres, resultando em famílias
e comunidades mais saudáveis[8].
Impactos da gravidez não planejada
Saúde
·
Gestações que
ocorrem com intervalos menores que de um ano e meio entre um parto e um novo
teste de gravidez positivo podem estar associados a vários efeitos negativos no
bebê como baixo peso ao nascer, prematuridade, maior risco de paralisia
cerebral, maior risco de autismo e maior chance de mortalidade no primeiro ano
de vida[9].
·
Para a mãe, há
maior chance de desenvolver anemia e de mortalidade por complicações na
gravidez e no parto – especialmente entre as mais jovens –, além de maior risco
de apresentar sangramento nos últimos três meses de gestação.
·
A taxa de
mortalidade de crianças de até cinco anos, cujas mães esperam pelo menos dois
para ter uma nova gestação, diminui em 13% se comparado a um intervalo menor.
Quando elas esperam até três anos, o declínio é de 25%, segundo dados da
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (United States
Agency for International Development)[10].
Econômico
·
Gestações não
planejadas geram um gasto público anual de R$ 4,1 bilhões apenas com custos
hospitalares diretamente ligados1.
·
Estima-se
que o custo com uma gestação não planejada no Brasil seja de R$ 2.293,00¹.
·
Com a prevenção
de uma gravidez indesejada, uma quantidade significativa de futuras despesas de
dinheiro público pode ser evitada. Estudo
da UNICAMP, avaliou gestações não planejadas no Brasil, a partir de 2010. A
conclusão do estudo é que reduções nas taxas de gravidez não planejada não só
reduz gastos, como também as taxas de morbidade e mortalidade materno-fetal1.
·
Cada dólar gasto
em planejamento familiar pode economizar até 6 dólares, possibilitando que os
governos invistam mais em atenção básica e outros serviços públicos de saúde8.
É importante
lembrar que a camisinha é o único método que previne as doenças sexualmente
transmissíveis.
[1]Luis Bahamondes (UNICAMP). The burden of unintended
pregnancies in Brazil: a social and public health system cost analysis.
International Journal of Womens Health. 2014; 6: 663–670. Published
online 2014 Jul 16. doi: 10.2147/IJWH.S61543. Acessado em
05/04/2016.Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4106956/
[2] Ministério da
Saúde. SUS oferece oito opções de métodos contraceptivos. Acessado em
05/04/2016. Disponível em:
[3] Guazzelli
CA, de Queiroz FT, BArbieri M.et al. Etonogestrel implant in postpartum adolescents: bleeding pattern,
efficacy and discontinuation rate. / Contraception 82 (2010) 256–259.
[4] Leventhal LC,
Barbosa KSF. Planejamento gestacional em hospitais público e privado. RBPS
2008; 21 (4): 269-274. Acessado em 05/04/2016. Disponível em http://www.unifor.br/notitia/file/2971.pdf
[5] Blumenthal PD, et al.
Strategies to prevent unintended pregnancy: increasing use of long-acting
reversible contraception. Human Reproduction Update 2011;17(1):121-37
[6] Trussell J. Contraceptive
failure in the United States. Contraception 2011;83(5):397-404.
[7] NICE. NICE implementation
uptake report: Long-acting reversible contraception (LARC). Acessed on:
12/20/2010. Available from: http://www.nice.org.uk/media/67F/C5/UptakeReportCG30LARC.pdf.
[8] Bill &
Melinda Gates Foundation. Acessado em: 05/04/2016. Disponível em: http://www.gatesfoundation.org/What-We-Do/Global-Development/Family-Planning
[9] Family Planning
Association, UK. Contraception: Your Guide to the Contraceptive Implant.
Acessed on: 12/21/10 Available from: http://www.fpa.org.uk/Information/Readourinformationbooklets/implant
[10] Frost JJ,
Darroch JE. Factors associated with contraceptive choice and inconsistent
method use, United States, 2004. Perspectives on Sexual and Reproductive Health
2008;40(2):94-104.
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