A adoção de tecnologias disruptivas está mudando o
comportamento das pessoas e a maneira de se fazer negócios. Novas tecnologias como
internet das coisas, inteligência artificial, aplicativos móveis e big data,
por exemplo, tem o potencial de transformar profundamente o ambiente
competitivo das empresas nos mais diversos segmentos. Porém, a maior parte das
organizações ainda não adotou nenhuma dessas inovações para aprimorar os seus
processos e garantir maior competitividade. Isso porque não é uma questão de
simplesmente implementar novas tecnologias. É preciso repensar os processos, no
limite do negócio como um todo, para conquistar os reais benefícios da
transformação digital.
Diante das dificuldades das organizações
ingressarem nesse universo, preparamos uma lista, baseada na ampla experiência
da TOTVS neste contexto, com os cinco principais entraves para minimizar as
armadilhas do processo de transformação.
1.
Avaliação dos processos: atualmente, qualquer processo
pode ser transformado utilizando tecnologias digitais. Por transformação,
estamos nos referindo a repensar o processo na sua essência. Implantar um workflow
em dispositivos móveis, por exemplo, não é transformar o processo, é apenas
torná-lo mobile. Haverá uma evolução, é claro, porém o resultado pode ficar
muito aquém do potencial de se repensar o processo considerando todo o seu
ciclo de vida dentro e fora da organização. No entanto, é inviável atacar todas
as oportunidades ao mesmo tempo. É fundamental priorizar. Diante dessa
afirmação, a maioria das empresas tem dificuldade de mapear quais processos
devem ser repensados primeiro. Para tomar essa decisão, é importante cruzar a
importância dos processos nos resultados da empresa com a profundidade do
impacto das novas tecnologias neles. Em seguida, considerar o esforço de
implantação de cada transformação e o cenário competitivo do segmento. Isso
permite a criação de um ranking de prioridades dos processos a serem
transformados. Só assim será possível tomar uma decisão assertiva e avançar
mais um passo em direção à transformação.
2.
Poluição tecnológica: a segunda armadilha é a infinidade
de tecnologias disruptivas existentes hoje. Em um estudo recente, identificamos
mais de 50 com potencial disruptivo. Será que todas elas fazem sentido para os
negócios? A maioria dos executivos se perde no excesso de opções. Não tem
conhecimento das tecnologias existentes, assim como a real aplicabilidade
delas. Muitos acabam utilizando-as conforme o apetite comercial de seus
fornecedores e adotam aquelas que são oferecidas ao seu time de TI ou sugeridos
pelas áreas clientes. A decisão deve levar em conta quais tecnologias possuem
maior aplicabilidade aos processos priorizados para possibilitar, de fato, um
salto de qualidade e competitividade. Outro ponto a considerar é a
confiabilidade e o custo dos fornecedores disponíveis no Brasil.
3.
Aplicação limitada ao uso de uma tecnologia: mesmo após
avaliar e definir os processos de maior impacto no negócio e qual tecnologia
disruptiva implementar, as empresas acabam, muitas vezes, focando apenas na
simples aquisição e implementação, sem dar a devida atenção à transformação
digital relacionada. Isto é, as organizações replicam uma solução genérica de
mercado sem contemplar todo o potencial de transformação existente nos seus
processos, deixando de gerar a plenitude dos benefícios esperados. Para aproveitar
ao máximo o potencial dessas tecnologias, é importante utilizar a metodologia
de design thinking, que estimula a inovação e combina diversas ferramentas para
a total reconstrução do processo e do modelo de negócio.
4.
Dificuldade de atrair talentos: outro fator que deve ser
levado em consideração ao adotar tecnologias disruptivas na sua organização é o
novo perfil do profissional de TI. A maior parte das companhias tem a falsa
impressão de que a equipe de tecnologia atual conseguirá implementar o projeto
de transformação, mas isso, na verdade, não se concretiza, justamente por esse
time estar acostumado com o mundo tradicional. As empresas precisam
reestruturar a área de TI para que seja possível atender à essa nova demanda,
sem deixar de atuar também nas soluções tradicionais já implementadas. Esse
conceito é conhecido como TI Bimodal. Para montar equipes digitais, as empresas
passarão ainda por um difícil processo de atração de talentos, já que esse
perfil de profissional procura companhias que têm características desse mundo
digital. Uma alternativa é utilizar parceiros que fornecem serviços com mão de
obra da era digital.
5.
Experiência do usuário: muitas empresas ainda subestimam
a importância da experiência do usuário na construção da solução. Conhecer os
impactos que a tecnologia escolhida trará ao relacionamento e, principalmente,
à usabilidade do usuário – seja ele funcionário ou cliente – é fundamental para
maximizar a aceitação e possível viralização da inovação. Muitas organizações
ainda não conseguiram absorver em suas culturas a importância de se trabalhar
próximo, não apenas aos usuários finais, mas também aos principais envolvidos
desde a fase da concepção do projeto até a sua finalização. Desta forma, além
de pensar nas melhorias que devem ser implementadas no produto, é possível
construir desde o início com o usuário, aumentando assim, o índice de aceitação
e, consequentemente, o retorno do investimento.
Essas novas tecnologias impactarão todos os segmentos
de mercado, sendo que alguns deles sentirão essas mudanças mais rapidamente. Um
estudo da Standard & Poor's estima que em 2020 as 500 maiores empresas
serão compostas em 75% por organizações que ainda nem ouvimos falar. Isso
comprova que estamos no início de uma profunda transformação digital
organizacional. Por isso, repensar o negócio e superar esses entraves é
fundamental para se adequar ao novo momento. Embora a corrida para ingressar no
universo digital seja intensa, as empresas precisam ter em mente que a adoção
de novas tecnologias, como mobile, inteligência artificial, cloud, redes
sociais, analytics, entre outras, é apenas um impulsionador de melhorias. É
necessário, antes de adotá-las, repensar todo o negócio e os seus processos,
com foco na experiência do usuário. Só assim será possível se manter
competitivo nessa trajetória de mudanças.
Charles Hagler -
diretor da TOTVS Consulting responsável pela área de Transformação Digital.
Engenheiro formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ), atua na consultoria desde 2008, coordenando projetos de planejamento,
Fusões e Aquisições e implantação de Centros de Serviços Compartilhados (CSCs).
Recentemente, assumiu a área de Transformação Digital. Antes de ingressar na
TOTVS Consulting, trabalhou por seis anos na Accenture.