Este é o primeiro
filhote avistado na porção paranaense da Serra do Mar. Para pesquisadores, o
evento indica que o habitat favorável está recuperando as condições saudáveis
para sobrevivência e reprodução da espécie, seriamente ameaçada de extinção
Mãe seguida por filho são registrados por câmeras trap no Paraná. Imagens: Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar |
O registro de uma onça-pintada com seu filhote
chamou a atenção de pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do
Mar. As raras imagens captadas no trecho paranaense da Serra do Mar são
resultado de um monitoramento que a equipe conduz em 17 mil quilômetros
quadrados de Mata Atlântica entre os estados de São Paulo e Paraná. A área
integra a Grande Reserva Mata Atlântica, o maior remanescente contínuo do bioma
no Brasil e que reúne inúmeros atrativos turísticos históricos, culturais e de
natureza. A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e o
terceiro do mundo, classificada na Mata Atlântica como criticamente em perigo
por já ter perdido 85% de seu habitat.
“O filhote, que segue a mãe no vídeo, parece já ser
mais velho. Segundo pesquisas, eles acompanham a mãe até os dois anos de vida”,
explica o biólogo Roberto Fusco, responsável técnico do Programa.
“Com toda a pressão que a Mata Atlântica vem sofrendo com desmatamentos,
mudanças climáticas e caça ilegal, este registro é super importante. Indica que
a região apresenta condições saudáveis, permitindo não só a sobrevivência da
espécie na área, mas também a reprodução.”
Pesando entre 60 e 160 quilos, a onça-pintada é uma
das espécies-símbolo do Brasil, ilustrando, inclusive, a cédula de 50 reais.
Apesar disso, corre sério risco de desaparecer na Mata Atlântica, onde
estima-se que o número seja inferior a 300 indivíduos.
O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar
monitora a onça-pintada, a anta (Tapirus terrestris) e o queixada (Tayassu
pecari) em uma área de Mata Atlântica equivalente a 11 cidades de São Paulo
para gerar informações para planejamento de conservação e ajuda a criar
estratégias mais efetivas para proteção e recuperação das populações desses
animais. O pesquisador explica que por ser um animal que está no topo da cadeia
alimentar e precisar de grandes áreas preservadas para sobreviver, a onça desempenha
importante papel no equilíbrio dos ecossistemas.
“A preocupação é pela viabilidade das espécies a
longo prazo, que já estão ameaçadas de extinção. Grandes mamíferos são
extremamente vulneráveis à perda de habitat e à pressão de caça, sendo os
primeiros a desaparecerem, o que pode gerar um enorme impacto. O
desaparecimento da onça, por exemplo, pode gerar impacto em todo o ecossistema,
por meio de um efeito cascata, que começa com o aumento de suas presas,
geralmente herbívoros, que por sua vez impactam a composição e estrutura da
vegetação.Essa bagunça no ecossistema pode trazer efeitos imprevisíveis, como a
perda de biodiversidade, alteração na composição do solo, aumento de espécies
exóticas e até mesmo liberar patógenos que afetam a saúde humana”, explica
Fusco, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
(RECN).
Para Marion Silva, gerente de Ciência e Conservação da
Fundação Grupo Boticário, uma das organizações apoiadoras do
programa, o registro reforça a importância de projetos e pesquisas que
contribuam com a conservação dos habitats de espécies ameaçadas de extinção. “A
pesquisa científica tem demonstrado a relação direta entre estes dois
processos. Além disso, a natureza preservada oferece oportunidades de negócios
sustentáveis, como a observação de fauna, que dão alternativas socioeconômicas
à população local”, afirma.
Características
Originalmente, a onça-pintada era encontrada desde
o sudoeste dos Estados Unidos até o centro-sul da Argentina e Uruguai,
habitando diferentes tipos de ambientes, como florestas tropicais e
subtropicais até regiões semidesérticas.
Devido à perda de habitat por ações realizadas pelo
homem, atualmente é considerada extinta nos EUA, se restringindo às planícies
costeiras do México, países da América Central (com exceção de El Salvador) e
na América do Sul (exceto Uruguai). No Brasil, ela originalmente ocupava todos
os biomas, mas não há mais relatos da espécie na região do Pampa.
O animal geralmente evita locais com atividades humanas. As onças podem ser ativas durante o dia e à noite, mas têm hábitos solitários. Se alimentam de vertebrados de médio e grande porte, como anta, porco-do-mato, veado, tamanduá, capivara, jacaré e quati. Machos e fêmeas encontram-se apenas no período reprodutivo, gerando em média dois filhotes por ciclo gestacional.
Sobre o Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar
O
Programa de Monitoramento e Conservação de Grandes Mamíferos na Grande Reserva
Mata Atlântica é uma iniciativa idealizada por pesquisadores do Instituto
Manacá e do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC). O objetivo é implementar o
monitoramento de grandes mamíferos em larga escala, promovendo uma agenda
territorial integrada nas ações de proteção e manejo das espécies, assim como
sensibilizar a sociedade civil da importância da região para a conservação da
vida selvagem. São monitorados 17 mil quilômetros quadrados nos estados de São
Paulo e Paraná – uma área equivalente a 11 cidades de São Paulo.
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
www.fundacaogrupoboticario.org.br
Fundação Grupo Boticário