Por que
comemoramos o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher? Talvez uma das
perguntas que marque esse texto seja: será uma data comumente para
comemorações?
A
história que conhecemos diz que no dia 25 de março de 1911, uma greve de
operárias – que reivindicavam melhores condições de trabalho – culminou com
ações extremamente violentas, na morte por carbonização de 146 tecelãs.
Contudo, é sabido que desde o final do século 19, os protestos já ocorriam em
cidades da Europa e nos Estados Unidos, por organizações femininas oriundas de
movimentos operários.
Neste
caso encontramos contradições sobre a historiografia para esses dois fatos.
Sobre as datas não existem dados fidedignos, o que gerou mitos sobre os
acontecimentos da época e a verdadeira história sobre a criação do Dia
Internacional da Mulher.. É provável que a morte das trabalhadoras tenha se
incorporado ao imaginário coletivo, de modo que este episódio seja, com frequência,
erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher.
Há vários
estudos que comprovam que o dia é comemorado em 8 de março, pois em 1917, na
Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da
Revolução Russa, entretanto, somente em 1945, a Organização das Nações Unidas
(ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de
igualdade entre homens e mulheres, e em 1975 comemorou-se oficialmente o Dia
Internacional da Mulher.
Depois de
uma breve história sobre a origem do dia internacional da mulher, aproveito
para, quiçá, responder a pergunta inicial do texto. Além de uma celebração que
marca a luta de mulheres contra a discriminação, por igualdade de gênero,
melhores condições de trabalho e salários equiparados aos homens, direito ao
voto, a sexualidade, entre outros, demarca a necessidade de (re)visitarmos as
reflexões frente a mulher na sociedade atual.
Observo
que o dia comemorativo está, nesse momento, capturado pelo “encanto” de agradar
e reconhecer a mulher nessa sociedade. Parte-se, então, da premissa que esse
dia precisa ser munido por rosas, bombons e vinho tinto. Fixa-se a data como a
cultuação do amor à mãe, esposa, namorada e as mulheres como um todo. Ou seja,
toda a história de militância e busca por igualdade das mulheres está sendo
“trocada” pelo consumo das supostas felicidades materiais e a compra e troca de
produtos que demonstram amores e paixões.
Somos cúmplices
dessa modernidade fetichista que cultua a compra e a venda dos afetos e utiliza
do corpo feminino como parte desse regime. Mulher não é propaganda de cerveja!
A estética está impregnando as curvas, os cabelos, os olhos, o rosto, as roupas
das mulheres. Está escrevendo no corpo uma pessoa que muitas vezes não existe,
mas, pelo desejo do consumo quer existir. As academias lotadas, os inúmeros
medicamentos milagrosos, os verões chamando os olhos para o “perfeito”. Além
dessa e de outras obrigações, as mulheres ainda carregam a necessidade – porque
são mulheres – de cuidar da casa, trabalhar e cuidar dos filhos e do marido.
Afinal, quem vocês são? Quem gostariam de ser? E, novamente, mulher não é
propaganda de cerveja!
É preciso
olhar com mais fineza e mais cuidado o desejo que se propaga de consumir o
outro sem muito deguste. Precisamos (re)olhar nossas lutas e deveres, afinar
nossas vozes e não deixar que nos coisifiquem. As mulheres não podem ser vistas
como propaganda de cervejas e muito menos esquecer suas conquistas e suas lutas
históricas. Consumam a vida, lambuzem-se dos encantos cotidianos, mastigue os
sabores da autenticidade do viver e militar por melhores condições. Mulheres,
avante, não sejam propaganda de cerveja, sejam mulheres com toda a força e
graça que carregam.
Mulheres,
parabéns por esse e pelos outros tantos dias de mulher.
Joel
Fernando Borella - psicólogo e professor do curso de Psicologia do Centro
Universitário Anhanguera de Leme