Quem acompanha o mercado financeiro brasileiro deve ter visto os
bons números sobre o mercado de fusões e aquisições – M&A, na sigla em
inglês – em 2014. Os dados positivos sobre o setor, divulgados recentemente
pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), contrariam as previsões mais pessimistas e o momento fúnebre em que a
economia se encontra.
Incólume aos juros altos, inflação
galopante, PIB pífio, e borbulhantes escândalos de corrupção, os números de
M&A bateram recorde de quase R$ 193 bilhões no ano passado, um crescimento
de 16,6% em relação ao ano de 2013, segundo a Anbima. Nove das dez maiores
operações ultrapassaram a casa dos R$ 5 bilhões, o que alavancou o saldo
positivo.
Porém, se a economia vai tão mal, como se percebe claramente nas
ruas com a crise hídrica e elétrica, somada ao alto custo do capital, a baixa
produção industrial e a queda no consumo, quais motivos levaram as fusões e
aquisições a crescer quase 17% em 2014?
Dois fatores merecem ser lembrados. O
primeiro é que a aquisição da GVT pela Telefônica foi fechada em 2013, mas a
aprovação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) se deu apenas no ano passado, o que engorda os
números de 2014.
O outro fator, e de enorme importância,
se deve justamente ao cenário econômico ruim, crises elétrica e hídrica, e aos
escândalos de corrupção.
“Com a operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga
contratos superfaturados com a Petrobras, as construtoras envolvidas estão se
desfazendo de ativos ou buscando consolidação em função de suas restrições de
crédito”, analisa Gustavo Sardinha, sócio da B2L Investimentos S/A, advogado especialista em M&A, avaliação de empresas e
desenvolvimento de negócios.
A contribuição da crise energética e
hídrica para os bons números de M&A em 2014 fica com as empresas de óleo e
gás e o setor elétrico, ambos com dificuldades de financiamento. Além de tudo
isso, a crise econômica tem provocado baixa taxa de ocupação de imóveis
comerciais e, por conseqüência, a redução dos ativos locais na Bolsa de
Valores.
“Todos os pontos negativos na economia
brasileira, se vistos de outra perspectiva, mostram que têm sim, o seu lado
próspero, onde a crise logo se torna uma oportunidade de negócio. Acreditamos
que o mercado de M&A deverá continuar aquecido e em crescimento. A crise
econômica e os escândalos de corrupção ainda perdurarão por um bom tempo. E com
isso, inúmeras oportunidades de fusões e aquisições irão surgir pelos próximos
meses”, acredita Gustavo Sardinha.
O crescimento no volume de fusões e aquisições em 2014 se deu,
principalmente, por grandes operações nos setores de Telecomunicações. Apenas a
venda pela Oi do ativo Portugal Telecom para a Altice, e a compra da GVT pela
Telefônica, somaram R$ 47,3 bilhões – 24,55% do total movimentado no ano
passado. E esse número é, sem dúvidas, ainda maior.
Segundo relatório anual da
PricewaterhouseCoopers (PwC), das 879 transações anunciadas em 2014, apenas 266
tiveram seu valor divulgado. A empresa mostrou que do total anunciado, 22
transações tiveram valor de compra acima de US$ 1 bilhão, totalizando US$ 79,83
bilhões. Já as transações de até US$ 100 milhões lideram o total de negócios
com valor divulgado – 168 transações.
A região Sudeste ocupou o primeiro lugar no
ranking de operações de M&A no ano de 2014, com 71,7% das transações,
ampliando sua participação no mercado – em 2013, a liderança era de 68,6 %, com
o estado de São Paulo detendo 59,6%.
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