A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2691/21 que facilita a aposentadoria por idade para mães e cuidadoras, reduzindo o tempo mínimo de contribuição necessário. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as mulheres dedicam cerca de 20 horas semanais ao cuidado com a casa e com os filhos, trabalho essencial para o desenvolvimento de todos e que é tratado como obrigação da mulher, por isso é esquecido.
Adicionar o trabalho invisível na Previdência
Social é uma forma de reconhecer e valorizar o papel essencial que muitas
mulheres desempenham no cuidado de suas famílias. Isso corrige uma injustiça
histórica, proporcionando segurança financeira a essas mulheres e incentivando
a igualdade de gênero. Além disso, ajudaria a refletir de maneira mais precisa
o valor econômico do trabalho doméstico e de cuidados na sociedade.
Na prática, o projeto permitirá que mulheres de baixa
renda que tenham dedicado seu tempo à maternidade e que não possuem o tempo de
contribuição necessário para a aposentadoria ao atingirem 62 anos, possam se
aposentar recebendo um salário-mínimo. Os pré-requisitos incluem:
- Ser
segurada de baixa renda.
- Cada
filho biológico adiciona um ano de contribuição.
- Cada
filho adotado ou com deficiência adiciona dois anos.
- Três
anos de contribuição se a mãe recebeu benefícios sociais devido a
desemprego ou baixa renda.
A mudança permite que mulheres se aposentem com menos
de 15 anos de contribuição desde que atendam as condições citadas acima.
Mulheres responsáveis pelo cuidado de parentes até o segundo grau, em total
dependência, também se enquadram como aptas para receber o benefício.
Devemos sempre lembrar que o trabalho de cuidado e
doméstico exige esforço e tempo e viabiliza a realização de outras tarefas. Por
exemplo, ninguém reconhece o trabalho invisível no dia a dia, mas se ele não
for realizado o resto das atividades da casa será comprometido. Se ninguém cozinha
e lava roupa, atividades como ir à escola e trabalhar fora são prejudicadas.
Nos casos das mulheres que trabalham fora de casa,
a desigualdade persiste: elas cumprem, em média, mais de 8 horas em obrigações
domésticas comparado aos homens que também trabalham fora. Essa discrepância
também é observada nas diferentes regiões brasileiras, segundo o IBGE, Nordeste
e Norte lideram como as localidades que possuem maior diferença entre os sexos
na hora de realizar as atividades domésticas. Já o Sul apresenta crescimento no
número de homens que passaram a contribuir com o trabalho invisível.
Não podemos esquecer também, que passamos por uma
pandemia que fez com que aumentasse ainda mais o número de mulheres que dedicam
tempo ao trabalho invisível, conforme o estudo “CoronaChoque e Patriarcado”,
produzido pelo Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, que também mostra
que 75% das mulheres passaram a cuidar de outra pessoa nesse momento.
Por isso, é cada vez mais comum ver mulheres
exaustas devido à sobrecarga de tarefas já que, como fazemos parte de uma
sociedade ainda muito machista, sempre recaí sobre a mulheres. Uma pesquisa
conduzida pelo Instituto Brasileiro de Economia, vinculado à Fundação Getúlio
Vargas, revelou que mais de 11 milhões de mães no Brasil assumem a criação de
seus filhos de forma independente, esse cenário torna a tarefa ainda mais
desafiadora.
O Projeto de Lei 2691/21, se assemelha com
iniciativas já realizadas em outros países. Por exemplo, a Alemanha tem um
sistema chamado Lei da Pensão Por Criança, que concede crédito de pensão para
pais que cuidam de filhos pequenos. Esses créditos aumentam o valor da
aposentadoria, reconhecendo o tempo dedicado ao cuidado dos filhos.
Outro exemplo é a Suécia, com a Lei de
Parentalidade, onde o sistema de previdência social inclui benefícios para pais
que reduzem suas horas de trabalho para cuidar de crianças, refletindo o valor
do trabalho não remunerado no sistema previdenciário. O Canadá, possui o Employment
Insurance (EI) Parental Benefits, que oferece benefícios de
seguro-emprego para pais que tiram licença para cuidar de filhos recém-nascidos
ou adotados, garantindo apoio financeiro durante esse período.
Somente com projetos assim, teremos o devido
reconhecimento do trabalho invisível, tão essencial como qualquer outro
trabalho para o desenvolvimento da economia do país. Além de, trazer a público
uma dor enfrentada principalmente pelas mulheres, a fim de melhorar o bem-estar
delas diminuindo sobrecarga.
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