“Na gestão da crise, é muito importante a informação.” Com esta sentença afirmativa, o governador do Rio Grande do Sul abriu sua participação no Roda Viva, da TV Cultura. Durante quase duas horas, Eduardo Leite foi questionado por jornalistas sobre erros do poder público diante da tragédia vivida em seu Estado.
Como
telespectadora fiel ao programa, certamente recomendo a todos quantos puderem
que confiram a edição de 20 de maio de 2024 – mas tomo a liberdade de
escolher apenas um pequenino recorte para discorrer a respeito: a informação.
Sobre a frase do
governador: concordo. De fato, na gestão de crise a informação é essencial. No
entanto, avalio ser oportuno irmos além. Ela é uma ferramenta poderosa em todos
os cenários e pode entregar melhores resultados quando divulgada no tempo certo.
Em linhas gerais, durante uma crise, informações têm grande potencial
atenuante. Antes de uma crise, porém, podem evitá-la. Informação é instrumento
de prevenção.
O foco, aqui, não
é fazer qualquer análise sobre o Rio Grande do Sul. O Estado e seus moradores
precisam e merecem, neste momento, de acolhimento e apoio. A enchente ceifou
muitos, arrasou histórias. É de uma tristeza sem tamanho. Não deve ser palco de
narrativas movidas por interesses que não a reconstrução das cidades e da vida.
Por isso, foco restrito ao valor da informação, tomando por base a frase de
Eduardo Leite.
Pelo dicionário,
temos que informação é a reunião de conhecimentos e dados sobre um assunto ou
pessoa. Considerando que o conhecimento capacita e liberta, fica evidente o seu
papel no real exercício da democracia e da cidadania. Considerando, ainda, que
comunicar é “tornar comum” e que a informação é o insumo primordial da
Comunicação, cabe endosso à sentença de Leite: a informação é algo extremamente
importante.
Sim. Extremamente.
Mas, não raro, negligenciada. Ao longo das décadas em que atuo no mercado de
Comunicação, mais especificamente no Jornalismo, tenho visto a informação de
qualidade ser deixada de lado. Ela, que deveria ser prioridade, cai para os
últimos lugares da fila. Tem recebido pouca atenção, insuficientes
investimentos e mínimo tempo. Tem sido tratada com desleixo. E em troca, diante
do mau tratamento, vem gerando desconhecimento, confusão, desentendimentos,
problemas e crises.
Na prática, então,
o que poderia ser feito? Este quadro desfavorável teria possibilidade de
reversão?
A experiência nos
comprova que sim, caso houvesse vontade, em todas as situações – das mais
simples às mais complexas. E, aí, o ideal seria que as organizações,
governamentais ou não, decidissem adotar, de fato, uma cultura de comunicação,
honesta, acessível e transparente. Apenas por meio da formação de uma cultura e
seus desdobramentos seria possível alçar a informação ao topo do rol de
prioridades.
Costumamos
atribuir à área da Comunicação a tarefa de lidar com a informação. Avalio ser
uma visão um tanto restrita. Todos precisamos, diariamente, de receber ou
repassar informações – seja na vida privada, no trabalho, na escola, na igreja,
no hospital ou em qualquer outro ambiente. Somos seres relacionais e dependemos
de informações para praticamente tudo, desde fazer uma compra e agendar uma
consulta até escolher um candidato. É importante, então, valorizarmos a
informação – e isso requer critérios.
Informações
incompletas, superficiais, manipuladas ou falsas em nada contribuem com a boa
comunicação, a cidadania e a democracia. Em nada agregam às amizades ou
quaisquer relações afetivas. Portanto, que tal seguirmos na contramão das más
práticas, em favor da informação de qualidade e seus potenciais frutos
positivos?
Tratar a
informação com seriedade e respeito é possível a partir de atitudes
relativamente simples como, por exemplo, perguntando e respondendo de forma
clara, ouvindo com atenção, em casa e na rua. Mais do que técnica,
trata-se de conduta. Quando escolhemos valorizar e priorizar a informação, os
caminhos ficam mais aplainados, seja nas crises, seja nas águas tranquilas.
Glenda Cury - jornalista e sócia da Íntegra Comunicação
Estratégica
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