Uma condição médica crônica subdiagnosticada, que exige tratamento multifacetado e multidisciplinar
O
lipedema é uma condição médica crônica frequentemente subdiagnosticada, que vem
ganhando destaque nas discussões de saúde, especialmente entre as mulheres.
Caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura nas extremidades do corpo, como
pernas, coxas e braços, o lipedema não apenas causa desconforto físico, mas
também impacta profundamente a qualidade de vida das pessoas.
Muitas
vezes, o lipedema é mal compreendido e confundido com uma simples preocupação
estética, quando, na verdade, é uma condição médica legítima que requer tratamento
adequado. As mulheres, que são as mais afetadas pela doença, enfrentam dores
crônicas, sensibilidade e inflamação nas áreas afetadas, além dos desafios
emocionais devido à aparência corporal alterada e à dificuldade no diagnóstico.
A Dra.
Juliana Tenório, cirurgiã plástica especialista em lipedema e associada da
Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (BAPS), destaca a negligência
histórica em relação à condição. “O lipedema é uma doença que existe há
décadas; o primeiro relato científico sobre o tema é de 1940, mas sua
importância foi subestimada, especialmente no Brasil. Muitas vezes, a desproporção
corporal causada pelo lipedema foi interpretada como uma questão estética,
ignorando os sérios problemas de saúde que acompanham a condição”, comenta a
médica.
Reconhecimento da doença
Apesar
do primeiro relato da doença ter ocorrido há mais de 80 anos, de acordo com
David Castro Stacciarini, advogado especializado em saúde, o lipedema passou a
ser reconhecido pela OMS desde janeiro de 2022, com o CID EF 02.2. Essa demora
trouxe impactos significativos, tanto para os pacientes, que acabam não reconhecendo
os sintomas em si mesmos, quanto para o tratamento.
“O
tratamento do lipedema é multifacetado e multidisciplinar, pois existem
diversos fatores que interferem nos efeitos da doença no corpo”, explica a
cirurgiã. “Para simplificar e otimizar o tratamento do lipedema, utilizo
atualmente o meu protocolo chamado LIP8. Ele tem como objetivo reconhecer e
ajustar todos os gatilhos inflamatórios que podem interferir no corpo da mulher
e na progressão da doença. O LIP8 é dividido em 8 etapas, nas quais avaliamos
caso a caso e tratamos da melhor forma o sono, a saúde emocional, a dieta e o
metabolismo da paciente. Incentivamos a prática de exercícios e o uso de
terapias dermo-linfáticas, drenagens linfáticas, escovação a seco, terapia
compressiva com meia compressiva e um creme para aliviar as pernas. Além disso,
também faz parte dessas etapas a intervenção cirúrgica”.
A
cirurgia é frequentemente recomendada como parte do tratamento para o lipedema.
Consiste na lipoaspiração tumescente, um procedimento comum usado para remover
o excesso de gordura e aliviar os sintomas da doença. No entanto, apesar da
clara necessidade médica, muitas pacientes enfrentam obstáculos para obter
cobertura dos planos de saúde. “Muitos planos de saúde normalmente não cobrem o
procedimento de lipoaspiração para o tratamento de lipedema, muitas vezes
devido à falta de profissionais credenciados e aos custos cirúrgicos”, explica
o advogado David Castro Stacciarini.
Segundo
ele, para garantir a cobertura do procedimento pelo plano de saúde, o paciente
deve ter em mãos um diagnóstico claro, preferencialmente feito por um
profissional credenciado pelo plano; um relatório sobre o tratamento e sua
eficiência para o paciente, juntamente com a recomendação cirúrgica; solicitar
a liberação da cirurgia com o plano de saúde e anexar todo o material e os
exames.
David
recomenda que, nessas situações, é prudente que o paciente tenha tentado outros
tipos de tratamento antes de buscar a intervenção cirúrgica. Caso haja negativa
do plano de saúde, restam duas alternativas: informar a ANS sobre a negativa e
buscar a liberação por eles ou procurar um advogado que atue com liminares em
saúde, podendo ser também a defensoria pública e, em alguns casos raros, até o
Ministério Público.
O
reconhecimento e a conscientização sobre o lipedema são fundamentais para
garantir que as mulheres afetadas recebam o tratamento adequado. "Para
muitas mulheres, o diagnóstico de lipedema traz alívio, pois finalmente
entendem que não estão sozinhas em sua luta", diz Dra. Tenório. "No
entanto, é crucial que a comunidade médica esteja bem informada sobre o
lipedema para evitar diagnósticos incorretos e garantir que as pacientes recebam
o cuidado e a atenção necessários”, finaliza a médica.
Associação Brasileira de Cirurgia Plástica - BAPS
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