Muito além do
assédio sexual, as profissionais estão expostas a uma série de questões que
necessitam maior visibilidade
O relatório "Women At Work", realizado
pela Deloitte, investiga anualmente a situação das mulheres em relação ao
mercado de trabalho, saúde, segurança, direitos e responsabilidades domésticas
em todo o mundo. Em sua quarta edição, destacou os principais desafios
enfrentados no ambiente de trabalho.
O estudo revela que metade das mulheres
entrevistadas possuem níveis de estresse mais elevados do que no ano anterior,
enquanto dois terços não se sentem à vontade para discutir saúde mental no
trabalho ou utilizá-la como justificativa para licenças. Apenas uma em cada dez
mulheres sente que seus empregadores oferecem suporte para equilibrar
responsabilidades profissionais e pessoais. No Brasil, 30% das mulheres
obrigadas a retornar ao trabalho presencial em tempo integral se viram
obrigadas a reduzir suas horas de trabalho.
De acordo com Bia Nóbrega,
especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional com quase 30 anos de
experiência, a violência contra a mulher no ambiente de trabalho é um problema
profundo e persistente, que vai além dos casos extremos de assédio ou
discriminação óbvios. “Além de enfrentar a sobrecarga de conciliar
exaustivamente múltiplos papéis, equilibrando questões profissionais e inúmeras
pessoais, as mulheres também estão expostas a diferentes formas de violência
nesses locais, o que afeta diretamente sua saúde mental”, explica.
Para a especialista, essas situações podem variar
desde casos extremos, como exclusão ou assédio (seja moral ou sexual), até
agressões sutis, como interrupções machistas que impedem uma mulher de concluir
seu raciocínio, explicações óbvias sobre questões que um homem presumiria que a
profissional não sabe ou não entende e até mesmo o roubo de ideias e a falta de
reconhecimento de méritos. “Embora esses exemplos sutis sejam mais comuns no
mercado de trabalho, eles têm consequências graves e frequentemente levam ao
esgotamento mental, principalmente por serem mais difíceis, culturalmente, de
tratar", explica.
Além disso, há questões mais discutidas, como a
falta de equidade de gênero, onde mulheres ainda enfrentam barreiras
significativas, representando apenas 33,7% dos empreendedores no Brasil. “Ainda
assim, desempenhamos um papel vital na inovação e na economia”, completa. De
acordo com dados levantados pelo IBGE, entre abril e junho de 2023, o Brasil
contava com 9,9 milhões de mulheres à frente de seus negócios, o que não chega
nem à metade dos novos donos de negócio. No segmento de tecnologia, a
representatividade feminina se torna ainda menor: um estudo do Instituto Rede
Mulher Empreendedora mostra que apenas 2% delas possuíam negócios no setor de
tecnologia em 2023.
Diante desse contexto, é possível observar que,
apesar de alguns avanços, as mulheres ainda enfrentam uma série de desafios e
obstáculos, que envolve desde a falta de oportunidades, diversidade nos
negócios, acesso limitado a financiamento, estereótipos de gênero,
desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal até falta de redes de apoio e
mentoria, entre tantos outros gargalos.
Violência em números
O estudo "Mulheres e liderança na burocracia
federal", publicado pela República.org e com foco em altos cargos,
destacou a alta incidência de assédio sexual e violência psicológica sofrida
por mulheres no serviço público federal. A pesquisa revelou que 28,3% das
respondentes vivenciaram assédio sexual no trabalho, enquanto 30% enfrentaram
violência psicológica.
Além disso, 15,5% relataram ter sofrido violência
política. Conduzido entre novembro e dezembro de 2023, pelas cientistas
políticas Michelle Fernandez e Ananda Marques, o estudo integra um trabalho
mais amplo ainda em andamento. Os dados mostraram ainda que 55,1% das
entrevistadas identificaram discriminação de gênero no ambiente de
trabalho.
Outro estudo, o relatório anual “Female Founders
Report Forum”, atualizado em 2023, mostra que as startups lideradas por
mulheres ainda representam 10% do total de negócios acordados, contra 75%
daquelas lideradas por homens. “Essa desigualdade é um reflexo do preconceito e
estereótipos de gênero por parte, também, de investidores”, comenta Bia.
É preciso mudar a cultura
empresarial
Mesmo diante dos desafios, diversas frentes de
incentivo ao empreendedorismo feminino estão sendo desenvolvidas. Programas de
mentoria específicos para mulheres, por exemplo, se tornam cada vez mais
comuns, oferecendo orientação, capacitação e networking para ajudá-las a
enfrentar as adversidades no mundo dos negócios.
“Apoiar e capacitar mulheres empreendedoras é uma
forma de criar um ecossistema propício à inclusão e diversidade, além de
impulsionar a inovação, criatividade e o crescimento econômico de toda a
sociedade. Mas é preciso também agir na estrutura das empresas, com
treinamentos internos a respeito da inclusão e conscientização de pequenas a
grandes violências de gênero”, explica a especialista.
O fim do VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity,
Ambiguity) e a preparação para o mundo BANI (Fragilidade, Ansiedade, Não
Linearidade, Incompreensível) ressaltam a necessidade de uma transição
organizacional que começa com a transformação pessoal. A proposição estratégica
de políticas e práticas, bem como a adoção de ritos e símbolos culturais, são
fundamentais para essa nova fase.
Bia Nóbrega, - com mais de 25 anos de experiência como Executiva de Gente & Cultura e reconhecida como LinkedIn Top Leadership Voice, é uma especialista dedicada ao Desenvolvimento Humano e Organizacional. Sua trajetória profissional é marcada por liderar equipes em variados setores e empresas de diferentes tamanhos, além de conduzir projetos internacionais e enfrentar desafios complexos. A partir de 2019, Bia expandiu seu campo de atuação para incluir Experiência do Cliente, Excelência e Governança Operacional, utilizando Metodologias Ágeis para promover um crescimento sustentável. Atuando também como palestrante, mentora, conselheira, escritora e professora, Bia tem impactado inúmeras empresas e indivíduos, fornecendo orientações valiosas em temas como Liderança, Governança e Desenvolvimento Pessoal, sempre enfatizando o potencial ilimitado do ser humano.
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