Fugindo da
violência, milhares de pessoas estão indo para o acampamento de deslocados de
ZamZam, onde uma crise de desnutrição já atinge a população
Há 13 dias, El Fasher, no
estado de Darfur do Norte, no Sudão, está sob intensos combates entre as Forças
Armadas Sudanesas e as Forças Conjuntas e as Forças de Apoio Rápido. À medida
que o conflito continua a devastar El Fasher, os hospitais da cidade são
danificados e fechados. Enquanto isso, milhares de pessoas estão fugindo em
busca de segurança, com muitas chegando ao acampamento de deslocados de Zamzam,
onde já existe uma crise aguda de desnutrição. As equipes de Médicos Sem
Fronteiras (MSF) estão adaptando sua resposta de saúde para manter o
fornecimento de assistência médica à medida que as necessidades aumentam e o
acesso aos cuidados diminui.
Dos três principais hospitais em El Fasher, apenas
o Hospital Saudita permanece operacional. O hospital pediátrico Babiker Nahar
foi danificado em 11 de maio, quando um ataque aéreo realizado pelas Forças
Armadas Sudanesas atingiu uma área a 50 metros de distância da unidade. Desde
24 de maio, o Hospital Sul foi atingido por morteiros e tiros diversas vezes,
matando duas pessoas e ferindo quatorze. O ataque fez com que MSF e o
Ministério da Saúde evacuassem os pacientes. Em 8 de junho, o Hospital Sul foi
completamente fechado após ser invadido e saqueado pelas Forças de Apoio
Rápido, que dispararam tiros dentro da instalação.
"Felizmente, a maioria
dos pacientes já havia sido evacuada do Hospital Sul antes do ataque das Forças
de Apoio Rápido, e os pacientes e profissionais restantes conseguiram
escapar", diz Michel-Olivier Lacharité, chefe de emergência de MSF.
"Mas o fato é que os hospitais não foram poupados por ninguém. Agora,
apenas o Hospital Saudita tem capacidade cirúrgica para atender toda a área de
El Fasher. Tememos pela segurança da unidade de saúde e pelas pessoas que
precisam de cuidados. É responsabilidade das partes em conflito poupar as
instalações médicas e respeitar seu status de proteção. "
MSF está apoiando o Hospital Saudita, onde os
feridos estão chegando. Originalmente, o hospital era uma maternidade, que
precisou ser adaptada para receber feridos e vítimas em massa, enquanto
continua a fornecer cuidados para mulheres e recém-nascidos. Por vários dias, o
Hospital Saudita não teve eletricidade suficiente para realizar cirurgias, mas
as equipes da organização ajudaram a restaurar o fornecimento. MSF também está
ajudando a organizar a sala de emergência e está avaliando as necessidades de
suprimentos e materiais médicos. De 10 de maio a 11 de junho, 1.418 feridos chegaram
ao Hospital Sul e, posteriormente, ao Hospital Saudita; 226 pessoas vieram a
óbito.
"Estamos fazendo o nosso melhor para fornecer
suporte, mas a situação em El Fasher é caótica", diz Lacharité. "A
cidade inteira é insegura e a comunicação geralmente cai, tornando extremamente
difícil se movimentar, avaliar as necessidades e organizar suprimentos e
suporte. Nossa equipe também foi deslocada pelos combates, e alguns colegas
também perderam suas casas no bombardeio. Então todos estão tentando lidar com
a situação."
MSF está transferindo seus serviços de cuidados
maternos e neonatais do Hospital Sul para o hospital de campanha da organização
no acampamento de Zamzam, a 15 km da cidade. Mesmo antes do fechamento do
Hospital Sul, cada vez menos mulheres conseguiam ir à unidade devido aos fortes
combates na região.
As pessoas também estão fugindo de diferentes
partes da cidade em busca de segurança. As equipes de MSF têm visto pessoas
chegando em Zamzam e em áreas mais distantes, como Sortoni e Rokero, em Jebel
Marra.
"Nossas equipes têm visto
fluxos de pessoas na estrada, fugindo de partes da cidade e indo em direção a
Zamzam", diz Lacharité. "Ainda não temos uma estimativa clara de
quantas pessoas deixaram El Fasher, mas parece que dezenas de milhares estão
saindo."
No acampamento para pessoas deslocadas em Zamzam,
onde cerca de 300 mil já residiam, MSF tem respondido a uma crise catastrófica
de desnutrição, fornecendo cuidados por meio de duas clínicas e um hospital de
campanha. Pesquisas nutricionais realizadas em janeiro e novamente em março e abril
revelaram que as taxas de desnutrição eram o dobro do limite de emergência
entre crianças, com descobertas semelhantes entre mulheres grávidas e
lactantes, sinalizando uma crise massiva e com risco de vida no acampamento de
Zamzam.
"No caos atual criado
pelo conflito, não somos capazes de reavaliar as taxas nutricionais no
acampamento, avaliar novas necessidades ou determinar o número de novas pessoas
que chegam", diz Lacharité. "O conflito impactou nossas equipes.
Alguns foram evacuados e estão trabalhando remotamente, enquanto muitos dos que
permaneceram também foram deslocados. Eles estão fazendo tudo o que podem para
manter as atividades em andamento e abrir a nova maternidade, garantindo sua
própria segurança e necessidades. Essa situação torna muito difícil obter
informações atualizadas, mas, dadas as taxas anteriores de desnutrição, o
aumento do deslocamento de pessoas e as novas dificuldades criadas pelos
conflitos intensos no acesso a alimentos, a situação provavelmente será
alarmante. Uma resposta em grande escala é certamente necessária.”
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