Seguem sendo dramáticos os índices de acesso da população brasileira aos sistemas de esgoto. Segundo dados do Censo 2022 divulgados em fevereiro deste ano, a proporção de domicílios com acesso à rede de coleta de esgoto no Brasil chegou a 62,5% em 2022. Isso representou um aumento de 44,4% em relação ao Censo 2000. Outros 13,2% utilizam fossas sépticas. O estado de São Paulo apresentou 94,5% da população com esgoto adequado. No outro extremo estava Rondônia – apenas 39,4% dos moradores contam com um serviço de esgoto considerado adequado. O Censo 2022 mostra que, em todo o Brasil, 49 milhões de pessoas (24,3%) ainda usam recursos insuficientes de esgotamento sanitário. Essa população vive em 16,4 milhões de domicílios com soluções de esgotamento sanitário precárias. Segundo estudo do Instituto Trata Brasil de 2022, somente 27 municípios entre as 100 maiores cidades do país tratam 80% de seu esgoto.
5.300 piscinas de esgoto despejadas em
rios e praias
O resultado é que, diariamente, o equivalente a 5.300 piscinas olímpicas de esgoto é despejado nos rios e praias brasileiros. Além do desequilíbrio ecológico, essa situação prejudica a saúde da população. Dados de levantamento realizado em 2021 pelo DATASUS revelam que houve quase 130 mil hospitalizações em decorrência de doenças de veiculação hídrica. A incidência foi de 6,04 casos por 10 mil habitantes, o que gerou gastos ao país de cerca de R$ 55 milhões.
Estatísticas como estas mostram que, apesar do Novo Marco Legal do Saneamento (Lei 14.026 de 2020) determinar que governos e indústrias trabalhem para melhorar o saneamento do país, ainda há muito a ser feito.
A construção e manutenção de uma rede nacional de saneamento básico exige uma visão em longo prazo que nem sempre encontra guarida em planos de governos quadrienais. Uma população que conhece os direitos garantidos pela Constituição pode influenciar essas decisões. Essa consciência política produz resultados: um estado como São Paulo investe todo ano R$ 150,00 por habitante em saneamento básico. No Acre, a média de investimento anual por cidadão é de R$ 3.
Mais do que capital, no entanto, é
necessário contar com um novo olhar sobre o que é um sistema de saneamento
básico moderno, resiliente e que promove a saúde da população. É neste contexto
que entram em cena soluções digitais de monitoramento da planta de tratamento
de esgoto.
Visão preditiva da Estação de Tratamento
de Esgoto (ETE)
A meta é ganhar uma visão preditiva sobre as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), unidades dedicadas ao tratamento de efluentes industriais e domésticos. Seria recomendável incluir nessa estratégia a digitalização de Estações de Tratamento de Água de Reúso (ETARs), voltadas para o reaproveitamento, em aplicações industriais, de água produzida por ETEs. Estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ) do início de 2022 indica que a região Sudeste contava com somente 16 ETARs em operação.
A moderna planta de tratamento de esgotos ou de tratamento de águas de reúso é um ambiente industrial (OT, Operation Technology) que trabalha 24x7 em prol da otimização da limpeza e recuperação, mesmo que parcial, de recursos hídricos. Nesse modelo, plantas contam com milhares de sensores IIoT (IoT Industrial) implementados em campo e dedicados às mais diversas funções.
Cada sensor é um instrumento de medição de fatores como o pH do esgoto, a temperatura dos líquidos, a velocidade de vazão dos líquidos, as condições físicas das paredes dos reservatórios e tubos, o nível de esgoto no reservatório e na tubulação, o estado de funcionamento de filtros e bombas de água etc. Monitorados continuamente por plataformas de software que lançam luzes sobre tudo o que se passa no complexo ambiente da planta de tratamento de esgoto, os dispositivos IIoT tornam-se aliados da sustentabilidade e da eficácia. A Tecnologia da Informação pode colaborar de forma crítica para detectar desde o mau funcionamento da planta à possibilidade de vazamentos de esgoto.
Para que a excelência em gestão de
sistemas de saneamento básico seja atingida, é fundamental integrar em uma
única interface de monitoramento informações precisas sobre o universo OT/IoT e,
também, as áreas de TI da empresa de saneamento. A meta é, com esse dashboard,
obter uma visão do todo – e um todo alinhado com as plataformas administrativas
e comerciais da empresa – e, quando for necessário, chegar ao detalhe do
funcionamento de uma bomba na planta ETE. Outro diferencial dessa abordagem é a
certeza de que alertas serão disparados imediatamente em caso de falhas ou de
previsão de falhas, com mensagens sendo enviadas para uma lista de
responsáveis, de modo hierárquico.
Alinhamento ao modelo ESG
Estratégias como essas contribuem para a empresa de saneamento básico construir evidências de seu alinhamento ao modelo ESG (Environmental, Social e Governance). Cada vez mais, investimentos são decididos a partir dos índices de conformidade da planta de tratamento de esgoto ao modelo ESG. É importante reconhecer, no entanto, que, entre os serviços que compõem o saneamento básico, a coleta de esgoto é o mais desafiador. Trata-se de uma estrutura mais complexa do que, por exemplo, sistemas de tratamento de água para consumo humano.
Em 2024, a jornada rumo à
universalização do esgoto tratado no Brasil inclui o uso de tecnologias de
digitalização de plantas industriais (OT/IIoT) e monitoramento preditivo desses
ambientes. Quem realizar esse salto contribuirá para reduzir o índice de
doenças da população – incluindo a mortalidade infantil –, otimizar recursos
críticos, despoluir rios e praias e, acima de tudo, melhorar a qualidade de
vida dos brasileiros.
Luis Arís - gerente de desenvolvimento de negócios da Paessler LATAM.
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