Era uma vez no reino do cubículo infinito, onde guerreiros armados de laptops e smartphones batalhavam dia após dia, algo mágico pairava no ar, algo que conferia poderes quase místicos a quem o possuísse: o crachá corporativo.
Este não era um mero pedaço de plástico decorado com um nome mal
impresso e uma foto desfavorável. Não, senhoras e senhores, este era o cetro de
reis e rainhas do mundo corporativo, o Excalibur dos escritórios. Com ele, os
mortais transformavam-se em titãs, capazes de atravessar barreiras de segurança
e ativar copiadoras com um único toque. Portadores deste talismã eram saudados
com "bom dia" mais entusiasmado por recepcionistas e tinham o poder
de convocar reuniões que todos, por alguma razão desconhecida, sentiam-se
obrigados a comparecer.
Mas ah, o que acontece quando este crachá é transferido para outro?
Quando o poderoso fica sem seu emblema de poder? Aí, meus amigos, observamos o
fenômeno mais hilário e tragicômico do habitat corporativo: a invisibilidade
instantânea.
João, outrora gerente de projetos e detentor do Grande Crachá de
Acesso Ilimitado, caminhava pelos corredores como se fosse dono deles. Os
cumprimentos eram abundantes, as portas se abriam, as máquinas de café
liberavam seu néctar sem hesitação. Mas então, veio a reestruturação – esse
eufemismo para "vamos ver quem realmente precisa estar aqui" – e o
crachá de João foi realocado para a nova queridinha do pedaço, Mariana.
Na manhã seguinte, João entrou no escritório. Bem, ele tentou. A
porta de segurança, essa guardiã implacável, não reconheceu seu novo crachá
genérico. "Bip-bip! Acesso negado!" ela zombou, enquanto colegas que
antes o saudavam agora passavam por ele, absortos em seus próprios mundos de
crachás funcionais.
Sentado em uma cadeira menos ergonômica, na terra desolada
conhecida como "Setor B", João percebeu que havia se tornado um
cidadão comum do mundo corporativo. Os cumprimentos minguaram, as reuniões
tornaram-se convites que ele só recebia por engano e sua habilidade de
influenciar decisões tinha evaporado como café da manhã da empresa quando a
equipe de TI está na cidade.
E Mariana? Ah, ela prosperava, navegando pelos corredores com seu
crachá brilhante, inadvertidamente passando pelo pobre João sem reconhecê-lo. O
poder do crachá havia conferido a ela a visibilidade que João perdera,
transformando-a em uma entidade quase celestial no ecossistema empresarial.
Assim, através das desventuras de João, aprendemos uma lição
valiosa sobre o poder ilusório no mundo corporativo. O crachá, percebemos, era
mais que um dispositivo de acesso; era uma capa de invisibilidade reversa, uma
ferramenta de status que transformava profissionais comuns em seres mitológicos
– até que não fossem mais.
E enquanto João agora planeja como ressurgir das sombras do Setor
B, o restante de nós observa, divertindo-se com a dança constante de ascensão e
queda que é tão peculiar – e hilária – no teatro do mundo corporativo.
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