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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Filtros diminuem os riscos do cigarro à saúde ou apenas poluem mais

Instituto para o Controle Global do Tabaco/ ACT Promoção da Saúde

No Dia da Terra, pesquisadores explicam que os filtros de cigarro não trazem benefícios à saúde e alertam para os impactos que geram no meio ambiente.


O cigarro é a principal causa de morte evitável do planeta. A Organização Pan-Americana da Saúde aponta que, no mundo, o tabaco é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano, incluindo aproximadamente 190 mil brasileiros. Apesar destes dados alarmantes – ou talvez até mesmo por causa deles – a indústria do tabaco tem feito uso de produtos e propagandas enganosas que buscam transmitir uma suposta noção de “serem mais saudáveis” ou de redução de danos. Atualmente, os cigarros eletrônicos estão no centro deste debate, mas há uma tecnologia ainda mais comum que segue a mesma lógica: os filtros de plástico. Há décadas eles deixaram de ser uma novidade e, hoje, são conhecidos pelo público como um dispositivo capaz de diminuir os riscos do cigarro à saúde. Mas a verdade é que esta ideia não passa de um mito. E, neste Dia da Terra, a ser comemorado na próxima segunda-feira, 22 de abril, cabe reforçar que os filtros também são uma ameaça ao meio ambiente. 

“Há uma abundância de pesquisas mostrando que os filtros não trazem nenhum benefício para a saúde. Ainda por cima, a onipresença dos filtros de cigarro e as alegações enganosas das empresas de tabaco contribuem para tornar os cigarros mais atraentes para os jovens, além de causarem um grande impacto ambiental“, explica Graziele Grilo, Program Officer e Líder Regional para a América Latina do Instituto para o Controle Global do Tabaco (IGTC – Institute for Global Tobacco Control).

 

Saúde não se filtra

Fazendo uso das chamadas “máquinas de fumo” – tecnologia mecânica que mede a concentração das substâncias no cigarro –, os fabricantes de cigarros alegam que os filtros reduzem as emissões de nicotina, alcatrão e outras toxinas. No entanto, pesquisas mostram que para compensar a diminuição da nicotina, as pessoas alteram a intensidade da tragada, um fenômeno conhecido como “efeito compensatório”, que as máquinas não são capazes de reproduzir. Assim, na realidade, as pessoas podem estar expostas a mais – e não menos – toxinas devido aos filtros.

Ao mesmo tempo em que os filtros suavizam o gosto forte da fumaça e do tabaco queimado, tornando os cigarros filtrados mais atraentes, eles não reduzem as emissões prejudiciais às quais as pessoas estão expostas. Isso reforça a falsa noção de que o produto é menos tóxico.

Outro ponto de atenção é que os próprios filtros de plástico contêm milhares de componentes químicos, muitos dos quais são tóxicos. Além disso, estes cigarros também aumentam o risco de inalação das fibras do filtro.

 

Uma ameaça ambiental

As bitucas são a pequena porção do cigarro que não foi queimada, incluindo o filtro e o material microplástico que o envolve, e que é carregado de produtos químicos tóxicos. Com uma estimativa de 4,5 trilhões de bitucas sendo descartadas anualmente de maneira inadequada no mundo, elas são consideradas o principal tipo de lixo gerado por seres humanos. 

Para entender melhor os impactos ambientais causados por este tipo de lixo, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o apoio do Instituto para o Controle Global do Tabaco da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (IGTC), Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da ACT Promoção de Saúde, coletaram 4.300 bitucas de cigarro em vias públicas do Guarujá, em São Paulo.

Após a coleta, os pesquisadores conduziram experimentos para estimar a taxa de vazamento de contaminantes com base no Índice de Poluição das Bitucas de Cigarro (CBPI), que contém seis classes de poluição variando de "muito baixa" a "severa". Após considerar outras influências ambientais, como tipo de solo e precipitação anual, constatou-se que os contaminantes provenientes das bitucas coletadas geraram um nível "severo" de poluição ambiental, indicando proporções alarmantes.

De acordo com Graziele, esses resultados enfatizam a necessidade de proibir o uso de filtros nos cigarros por uma questão que é, ao mesmo tempo, de sustentabilidade ecológica e de saúde pública. Eliminar os filtros não apenas reduziria o impacto ambiental das bitucas (já que eles são produtos plásticos não biodegradáveis e de uso único), mas também poria fim às falsas alegações de menor risco. "Enquanto os filtros de cigarro forem permitidos, eles beneficiam apenas interesses comerciais. Trata-se da indústria do tabaco viciando novos consumidores e ganhando mais dinheiro – o que de fato os filtros fazem é levar doença e morte para as pessoas ao nosso redor”, conclui a pesquisadora.



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