Evidências apontam que pode ser menor a quantidade de folículos presentes nos ovários de mulheres com alteração genética que aumenta predisposição para câncer de mama e ovário hereditário, impactando na fertilidade. A reserva ovariana é o principal indicador das possibilidades que uma mulher tem de engravidar por vias naturais. Mutação em BRCA também aumenta o risco de o bebê nascer com aneuploidia, doença causada por alteração nos cromossomos
Cerca de 10% das mulheres com diagnóstico de câncer de mama e até 25%
daquelas com câncer de ovário desenvolveram a doença a partir de uma alteração
genética que pode ter sido herdada. A principal causa da chamada síndrome de
câncer de mama e ovário hereditário é a mutação nos genes BRCA1
e BRCA2.
Em sua função normal, esses genes são supressores de tumor, responsáveis por
reparar os danos ao nosso DNA. Quando estão alterados, os portadores se tornam
mais suscetíveis para desenvolver câncer em comparação com a média
populacional.
Estudos sugerem que, além do risco aumentado para
desenvolver câncer hereditário, as mulheres com mutação em BRCA apresentam uma
menor reserva ovariana, que é um importante marcador de fertilidade. Uma revisão
sistemática, publicada em dezembro de 2021 na revista científica The Breast, que
incluiu os dados de 64 trabalhos, comparou o nível de hormônio anti-mülleriano
(AMH) - que estima a quantidade de reserva ovariana – encontrado em mulheres
portadoras de alteração no gene BRCA com mulheres sem variantes patogênicas e
em mulheres sem qualquer alteração genética de predisposição. A conclusão foi
que as portadoras de mutação em BRCA com 41 anos ou menos apresentaram níveis
mais baixos de AMH. A mesma análise em pacientes com diagnóstico de câncer de
mama – com e sem BRCA mutado - obteve os mesmos resultados.
De acordo com a bióloga e especialista em
reprodução humana, Taccyanna Mikulski Ali, gerente científica do laboratório
Igenomix Brasil, da Vitrolife, esta descoberta não indica necessariamente uma
relação casual com infertilidade. “Porém, o AMH é um marcador muito importante
para prever as possibilidades de sucesso dos tratamentos de reprodução humana”,
explica Taccyanna Ali.
Outro
estudo, publicado em 2024 no International Journal of Molecular Sciences, além de
reforçar o possível risco de perda ovariana entre as mulheres com mutação em
BRCA, também aponta que as pacientes expostas aos tratamentos anticâncer,
principalmente à quimioterapia, correm maior risco de problemas relacionados à
fertilidade. “Os autores mostram que as mutações em BRCA podem exacerbar a
redução da reserva ovariana induzida pelo tratamento”, aponta Taccyanna.
DESAFIOS DIANTE DA RESERVA
OVARIANA E OPÇÃO PELO TESTE GENÉTICO - Na prática
clínica, o nível sérico de AMH é o biomarcador mais utilizado para avaliar a
reserva ovariana das pacientes, no entanto, ele não é um indicador direto do
conjunto de folículos primordiais. Isso porque, os níveis de AMH variam
consideravelmente entre os pacientes, independentemente da população estudada,
desafiando a avaliação do impacto dos genes BRCA na reserva ovariana.
Vale ressaltar que os cânceres hereditários são
diagnosticados, principalmente, na população adulta jovem em idade reprodutiva.
Por conta disso, a indicação é que o aconselhamento genético, além de abordar
as estratégias de redução de risco oncológico, também discuta a importância do
planejamento familiar e realização do Teste Genético Pré-Implantacional para
Doenças Monogênicas (PGT-M), que permite selecionar embriões que não apresentem
uma variante patogênica associada a maior risco ao câncer. Além disso, há
também evidências de que a mutação em BRCA também aumenta o risco de o bebê
nascer com aneuploidia, condição causada por alteração nos cromossomos. Por
conta disso, pode ser válida também a realização de Teste Genético
Pré-implantacional para Aneuploidias (PGT-A), a critério do especialista.
“A população jovem que é portadora de mutação no
gene BRCA deve ter acesso ao aconselhamento precoce sobre fertilidade,
incluindo a orientação sobre a possibilidade de criopreservar oócitos antes da
ocorrência de câncer de mama e a explicação sobre o papel do teste genético no
contexto do planejamento familiar”, acrescenta Taccyanna. Ainda segundo a
especialista, a depender do resultado, a orientação é que as portadoras desses
erros genéticos, caso queiram ser mães, não adiem muito seus planos de
gravidez”, conclui.
A avaliação de reserva ovariana pode ser feita por
qualquer mulher que deseja ter filhos e possui receio em relação à sua fertilidade.
Porém, algumas situações indicam uma maior necessidade de realização dos
exames:
- Mulheres com mais de 35 anos que não engravidaram depois de 6 meses de tentativas;
- Pacientes que passarão por tratamento de Reprodução Assistida;
- Mulheres que querem postergar a maternidade realizando
o congelamento de óvulos;
- Pacientes que farão alguma cirurgia de endometriose;
- Mulheres que passarão por tratamento de quimioterapia ou
radioterapia;
- Pacientes que serão submetidas à cirurgia de retirada de cistos
nos ovários.
Embora seja possível engravidar de forma natural
com uma baixa reserva ovariana, às vezes é necessário recorrer a tratamentos
como:
- Estimulação ovariana:
administração de um medicamento hormonal para estimular os ovários a recrutar
mais folículos para obter os óvulos. Um processo que deve ser acompanhado pelo
médico para evitar o risco de síndrome de hiperestímulo ovariano e gravidez múltipla.
- Administração de
gonadotrofinas com injeções subcutâneas: Utiliza-se durante tratamentos de
Fertilização in Vitro (FIV) para estimular a produção de vários óvulos que
posteriormente serão aspirados para fertilização em laboratório.
- Doação de óvulos: em
situações mais severas, onde não é possível conseguir óvulos, a doação de
óvulos é a solução para engravidar a partir da fecundação de óvulos doados, que
são transferidos ao útero da futura mãe que fará a gestação.
As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 são 20 vezes
mais comuns em casos de câncer de mama e/ou ovário diagnosticados antes dos 40
anos.
A Igenomix conta com painéis genéticos em seu
portfólio que podem auxiliar na detecção de variantes em genes associados com
estes cânceres, incluindo os genes BRCA1 e BRCA2. Para
pacientes que desejam evitar a passagem da uma mutação patogênica a seus
descendentes, é possível contar com o PGT-M também. A Igenomix é o laboratório
da América Latina que analisou a maior quantidade de casos de PGT-M para condições
que aumentam o risco de câncer, quando já se tinha o histórico da mutação na
família.
Igenomix
Referências bibliográficas
Gasparri ML, Di Micco R, Zuber V, Taghavi K, Bianchini G,
Bellaminutti S, Meani F, Graffeo R, Candiani M, Mueller MD, Papadia A, Gentilini
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Dias Nunes J, Demeestere I, Devos M. BRCA Mutations and
Fertility Preservation. Int J Mol Sci. 2023 Dec 22;25(1):204. doi:
10.3390/ijms25010204.
Igenomix. https://www.igenomix.com.br/genetic-solutions/oncodona-clinics/.
Disponível em 07Abril2024.
Igenomix. https://nace.igenomix.com.br/blog/baixa-reserva-ovariana-solucoes-para-engravidar/.
Disponível em 07Abril2024.
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