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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Conheça a Lipodistrofia, doença ultrarrara que pode causar falência dos órgãos

Médico explica o que é a patologia, principais sinais e tratamento

 

As lipodistrofias, grupo de doenças ultrarraras, são síndromes clinicamente heterogêneas, herdadas ou adquiridas, caracterizadas principalmente pela falta ou perda do tecido adiposo subcutâneo[i]. O tecido adiposo é o principal local de armazenamento de energia, mas também um órgão vital de uma rede complexa que regula diversas funções biológicas. 

A condição afeta aproximadamente uma a quatro pessoas por milhão no mundo[ii] e pode ocorrer ainda no início da vida. No caso de recém-nascidos, pode causar morte prematura. No Brasil, ainda não há dados publicados sobre a prevalência da doença.

 

Principais impactos da lipodistrofia 

O principal sinal é a desigualdade da distribuição da gordura em diferentes áreas do corpo, podendo haver aumento, diminuição ou ausência da mesma. A falta de gordura corporal resulta na perda da produção de leptina, hormônio que, entre outras funções, regula a fome, o metabolismo e os níveis de glicose no sangue. A doença está associada a outras condições graves, como pancreatite, doença hepática, diabetes grave de início precoce e doença cardiovascular. É importante ficar atento aos sinais para que não ocorra o diagnóstico tardio, o que pode levar ao agravamento da doença e causar múltiplos danos aos órgãos, que podem se tornar irreversíveis. 

Existem dois subgrupos da doença: a Lipodistrofia Generalizada (LG) e a Lipodistrofia Parcial (LP). A LG é um distúrbio complexo e clinicamente heterogêneo caracterizado pela ausência generalizada de tecido adiposo subcutâneo e deficiência resultante no hormônio leptina, causando alterações metabólicas, incluindo resistência à insulina, diabetes e hipertrigliceridemia, além de deposição ectópica de gordura no fígado, músculos e outros órgãos. 

Já a LP é um grupo variável de síndromes, como a Lipodistrofia Parcial Familiar (LPF), que tem maior probabilidade de apresentar hiperfagia, músculos e veias proeminentes, sinais de resistência à insulina e hiperandrogenismo em mulheres, enquanto a Lipodistrofia Parcial Adquirida (LPA) é caracterizada pelo acúmulo de gordura nos quadris, nádegas e membros inferiores, além de complicações metabólicas leves e hipertrofia muscular. 

O diagnóstico das diferentes lipodistrofias é realizado mediante um exame físico em que é observado o padrão de deposição da gordura corporal e exames complementares para identificar a causa. Nas formas hereditárias o teste genético é um complemento importante para o diagnóstico assertivo.

 

A lipodistrofia tem cura? 

A lipodistrofia não tem cura e pode comprometer gravemente a qualidade de vida, incluindo consequências emocionais e sociais. Porém, existem tratamentos que podem ajudar a amenizar os danos causados pela doença, que irão depender do tipo da síndrome, da quantidade de gordura acumulada e da causa. 

Um dos tratamentos é a reposição de leptina, realizada por via subcutânea, indicada como terapia de reposição adjuvante da dieta para tratamento das complicações resultantes da deficiência de leptina em pacientes com lipodistrofia. O tratamento após iniciado deve ser mantido por toda a vida. 

Em caso de suspeita da doença, é indispensável que o médico endocrinologista seja consultado.


Dr. Renan Montenegro Júnior- especialista em Endocrinologia e Metabologia. Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Coordenador do Grupo Brasileiro para Estudos de Lipodistrofias Herdadas e Adquiridas (BRAZLIPO)



Referências Bibliográficas

[i] Garg, 2004 N Engl J Med; Chan, 2010 Endocr Pract.
[ii] Akinci, B., et al., Natural History of Congenital Generalized Lipodystrophy: A Nationwide Study From Turkey. J Clin Endocrinol Metab, 2016. 101(7): p. 2759-67.

 

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