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segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Janeiro Branco: Saúde mental implica em poder existir para além do enlatado que se vende como felicidade

Os dados são alarmantes: Segundo o IBGE, a depressão aumentou em quase 35% nos últimos seis anos. Por esse motivo, campanhas como Janeiro Branco e Setembro Amarelo ganham tanta força.

 

O professor de psicanálise Ronaldo Coelho, da capital paulista, chama a atenção para o caráter individualizante que comumente essas campanhas ganham e o perigo dessa característica. “O sofrimento, muitas vezes, está relacionado a uma tentativa forçosa de se enquadrar em padrões que necessitam sufocar a existência espontânea para caber no enlatado socialmente exposto na prateleira como o ideal. Neste sentido, a nossa história de racismo, machismo, heterogeneidade compulsória e capitalismo definem o que é a existência admirável e que por todos deve ser buscada: qual sua cor de pele, seu peso, quanto ganha, onde mora, como se comporta e como goza.” 

Ronaldo ainda nos alerta que não tem a ver com todos terem o desejo de ser branco, por exemplo, mas sim com uma regra de conduta da existência que diz algo semelhante a: Se você é negro, que tipo de cabelo deve usar, que roupas deve vestir, como deve se portar, que tipo de trabalho deve ter, com quem deve se relacionar e quais desejos deve ter. O que se choca, muitas das vezes com o que a pessoa realmente pode. Nem todos podem ser milionários, terem milhões de seguidores nas redes sociais e uma “vida épica”. 

O discurso que vemos muitos coaches fazerem de que ‘só é necessário querer que você consegue’ leva as pessoas a uma obsessão por se adequarem a um ideal forjado para elas e vendido como se fosse a conquista da real felicidade. “Enquanto não falarmos desses discursos e seus efeitos nas pessoas, bem como das políticas públicas que cada vez mais dificulta a vida das pessoas menos privilegiadas, estaremos contribuindo para esse cenário de aumento vertiginoso de problemas de saúde mental e sentimento de infelicidade nas pessoas. É uma tarefa fácil para a nossa sociedade? Sem sombra de dúvidas, não é! Mas não podemos nos furtar ao trabalho só porque ele é difícil”, completa.

 


Ronaldo Coelho - idealizador e professor do curso Análise do Discurso na Clínica Psicanalítica, que tem por objetivo formar psicólogos e psicanalistas para realizarem uma análise consistente de seus pacientes desde a primeira sessão. Atua como psicanalista em seu consultório particular e mantém o canal Conversa Psi no YouTube.  Graduado em Psicologia (USP) e Mestre em Psicologia Institucional (USP). Foi professor de Psicologia Médica do curso de graduação de Medicina (UNIFESP) e preceptor da Residência Multiprofissional em Saúde (UNIFESP). Trabalhou em hospitais como Hospital São Paulo e Hospital Universitário da USP, onde, além da assistência aos pacientes e familiares, realizava supervisão clínica de atendimentos psicológicos desenvolvidos por estudantes e psicólogos, orientação de pesquisas e aulas em Psicologia Hospitalar.

@ronaldocoelhopsi


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