Pediatra explica segurança vacinal e seu reflexo na população infantil
O nosso corpo nasce com um verdadeiro exército
que o defende de micro-organismos. Há barreiras físicas, como cílios, lágrimas
e muco e outras invisíveis a olho nu: os nossos anticorpos.
As vacinas são formas de treinar esse exército
para que saiba como, quando e contra quem lutar. Extremamente seguras, as
vacinas salvam a vida de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo anualmente e
são desenvolvidas seguindo rígidos protocolos de segurança.
Neste ano, diversas farmacêuticas estão em uma
verdadeira corrida para tentar descobrir uma vacina contra o novo coronavírus
e, dessa forma, tentar conter a pandemia de COVID-19. Nesta semana, a
norte-americana Pfizer anunciou que teve 90% de sucesso na imunização de
pacientes voluntários.
Nas redes sociais, uma pergunta figura no feed de
tempos em tempos: você teria coragem de tomar uma vacina contra a COVID-19? E
de vacinar seus filhos?
A discussão tem sido alvo de disputa política e
discussões acaloradas. "Acredito que as vacinas são seguras e estejam
passando pelos protocolos necessários, mas é importante destacar que a maioria
das crianças foi marginalizada e seguem fora dos estudos das vacinas",
alerta o médico pediatra Dr. Paulo Telles, especialista pela Sociedade
Brasileira de Pediatria.
O caminho para a vacinação pediátrica, segundo o
médico, exigirá uma expansão gradual de grandes testes com adultos e
adolescentes e, em seguida, em crianças mais novas. "A vacina da Pfizer
foi aprovada pelo FDA para ser testada em crianças a partir dos 12 anos. Nenhum
estudo está sendo feito com crianças abaixo dos 5 anos de idade!"
Será necessário uma série de estudos robustos
sobre eficácia e segurança do imunizante e avaliação criteriosa sobre os
efeitos colaterais antes de chegar ao público infantil.
Para o Dr. Paulo, o ponto mais importante a ser
discutido é o risco da vacina versus os riscos da COVID-19 em crianças.
"Quase um ano após o primeiro caso de
infecção que, nas crianças, a doença é leve, sem maiores riscos e sem diferença
em termos de gravidade e complicações quando comparados a outros quadros virais
aos quais nossos filhos são expostos há séculos e com os quais convivem muito
bem", diz o médico.
Em média, crianças que frequentam escolas podem
ter de 8 a 15 casos virais por ano sem precisarem ser isoladas. "Com isso,
quero dizer que não podemos tolerar nenhum efeito colateral nos testes das
vacinas, já que a COVID-19 é benigna em crianças. E os números provam isso: dos
1,1 milhões de testes positivos no Brasil, 2,5% foram em crianças até 9 anos e
só 0,1% dos óbitos foi neste público, segundo a Secretaria de Saúde de São
Paulo", destaca Dr. Paulo.
Todos os especialistas concordam que os dados
pediátricos são vitais para o lançamento da vacina e o licenciamento de uma
imunização para uso no público infantil não pode ser baseado só em dados de
adultos.
"As vacinas mudaram o curso da mortalidade
infantil ao longo do último século e sou 100% a favor delas, mas neste caso, precisamos
pensar no quanto os pais se sentem confortáveis em inscrever seus filhos para
uma vacina experimental e devemos reforçar a importância da vacinação contra
outras doenças", destaca o pediatra, lembrando que os índices de vacinação
nas crianças caíram abruptamente em 2020.
"Optar por não vacinar a criança não é uma
decisão individual, mas sim coletiva, porque pode atingir toda a sociedade e
permitir a volta de doenças já eliminadas da circulação, como aconteceu com o
sarampo em nosso país", lembra o médico, "é fundamental levar
informação, quebrar conceitos errados, preconceituosos e lutar contra a
desinformação das redes sociais".
É fundamental desenvolver na população a
importância da saúde coletiva para a erradicação de doenças, uma vez que lutamos
há séculos contra agentes invisíveis e, "neste momento de pandemia,
sentimos na pele e de forma radical como nossas vidas são frágeis e como
precisamos pensar na saúde de forma coletiva".
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