Segundo especialista, quadro depressivo está ligado a um pior prognóstico da doença
Principalmente nos meses de outubro e novembro,
há um grande destaque para a conscientização e prevenção do câncer
(especificamente de mama e próstata) e, aproveitando este período, é importante
também ressaltar o cuidado com a saúde mental de pessoas com diagnóstico da
doença.
É algo que pode ser bastante difícil de aceitar e enfrentar, por isso, em
muitos casos, os pacientes acabam desenvolvendo um sério quadro depressivo.
Segundo um artigo da Revista de Psiquiatria Clínica, a depressão é o transtorno
psiquiátrico mais comum em pessoas com câncer, com prevalências variando de 22%
a 29%. "O medo do que pode acontecer, as mudanças na rotina, no corpo e
nos planos do futuro provocam um grande desconforto emocional. E além dos
problemas emocionais poderem desencadear sintomas psiquiátricos, o uso de terapias
chamadas antineoplásicas (interferon, quimioterapia) também podem causar
depressão", explica a neuropsicóloga da Clínica Maia, Katherine M. De
Paula Machado, especializada em psicopatologia.
De acordo com a especialista, os sinais de alerta para o problema incluem
alterações no humor, ansiedade, fadiga, dor, retardo psicomotor e até anorexia.
Outros sintomas que podem aparecer são insônia, agitação, irritabilidade e
raiva, muitas vezes, decorrentes de dor não controlada.
"Tanto a ansiedade quanto a depressão, por exemplo, são associadas a um
pior prognóstico e aumento da mortalidade pelo câncer, isso porque essas
condições interferem negativamente na adesão aos tratamentos da doença e na
qualidade de vida do paciente", alerta Katherine.
Por isso, se preciso, o acompanhamento psiquiátrico e o apoio psicológico são
essenciais não só para a saúde mental de quem descobriu a doença, mas também no
sucesso do tratamento da enfermidade. O uso adequado de medicamentos indicados
pelo psiquiatra ameniza os sintomas depressivos, e a psicoterapia, por sua vez,
age nos pensamentos, sentimentos e emoções frente ao câncer.
"Através da psicoterapia, a pessoa pode ter a oportunidade de
ressignificar a própria existência ao dar voz ao que vem legitimamente do coração.
Dessa maneira, uma doença como o câncer pode se tornar uma ferramenta de
empoderamento, dado que há um distanciamento das exigências sociais e uma
possibilidade de retorno a si mesmo, de autoconhecimento e descoberta",
comenta a neuropsicóloga.
O paciente pode ter a percepção de que a vida é finita, portanto desperdiçar o
tempo com coisas irrelevantes começa a não fazer sentido, o que faz com que ele
reveja suas prioridades, e a terapia é uma grande aliada neste aspecto.
"Para manter o emocional minimamente equilibrado, o tumor deve ser
encarado como outros problemas na vida. É claro que, provavelmente, a pessoa
precisará de algum tempo para se ajustar, compreender seu diagnóstico e as
opções de tratamento disponíveis. Dentro disso, obter informações sobre sua
real condição e as possíveis formas de tratar a doença, através de ajuda
especializada, diminui a ansiedade e traz um senso de controle sobre o que está
acontecendo; a atenção deve ser voltada justamente e somente para o que é
possível controlar", aponta Katherine.
A especialista afirma que o melhor a fazer é expressar as emoções e entender
que não é necessário lidar com tudo sozinho. "Procure ajuda profissional e
também o apoio de entes queridos; cuide de si através de atividades prazerosas,
inclusive exercícios físicos, já que além de contribuírem de diversas maneiras
para a saúde, eles liberam endorfina, um dos hormônios associados à sensação de
prazer e ao combate à depressão. E lembre-se, não deve haver economia de afeto:
a expressão máxima de carinho, diálogo e amor vai tornar a vivência desse
período delicado mais leve para todos", completa.
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