Interação entre cardiologia e oncologia contribui para melhor evolução dos pacientes
Nos últimos anos, as consequências da
cardiotoxicidade decorrente do tratamento oncológico ficaram mais evidentes,
uma vez que houve aumento da sobrevida do paciente oncológico, além do
envelhecimento da população e do surgimento de novos agentes quimioterápicos,
com efeitos colaterais cardiotóxicos inesperados. Com a integração entre a
cardiologia e a oncologia, tem-se desenvolvido um conhecimento interdisciplinar
entre ambas as áreas médicas para melhor tratamento desse grupo de pacientes.
Nesse âmbito, a Sociedade Brasileira de
Cardiologia, promoveu no último dia 12 de setembro, o 1º Simpósio Virtual
Internacional de Cardio-Oncologia, que teve como um dos destaques o lançamento
da nova diretriz brasileira de cardio-oncologia, em substituição ao guideline
anterior, que era de 2011. De acordo com o presidente da SBC, Marcelo Queiroga,
desde a década de 1990 a Sociedade se especializou em editar diretrizes sobre
os diversos temas do conhecimento na especialidade, e por ser responsável por
muitos óbitos, o câncer está nessa fronteira do conhecimento.
“Houve um grande avanço nas terapias oncológicas
nos últimos anos, mas que podem ter consequências para o sistema
cardiovascular. A cardiotoxidade é uma delas, por isso discutimos a prevenção,
o diagnóstico e o tratamento dessas toxidades”, afirma, explicando que o
simpósio transmitiu o melhor da evidência científica na cardiologia e na
oncologia. “Os conhecimentos transmitidos serão muitos úteis para a prática
clínica de todos que acompanharam essa intensa jornada de educação médica
continuada”, completou.
A nova diretriz relaciona quais são as principais
drogas e tratamentos quimioterápicos que podem causar agressão ao coração,
citando, por exemplo, casos de imunoterapia que levam a miocardite e disfunção
ventricular. A atualização também enfatiza como o diagnóstico precoce de
doenças cardiovasculares em pacientes que sobreviveram ao câncer pode evitar
complicações.
A interação entre a cardiologia e a oncologia
contribui para a melhor evolução dos pacientes, tendo como objetivos principais
a adoção de estratégias de prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento das
doenças cardiovasculares nessa população.
“A cardio-oncologia é uma fronteira nova na
medicina, porque há um número grande de pacientes com doenças cardiológicas,
com doença arterial-coronária, com disfunção do ventrículo esquerdo. Esses
pacientes apresentam câncer e precisam ser avaliados pelo cardiologista de
maneira apropriada, através de métodos de diagnóstico muito sofisticados que
nós hoje temos, e é possível se conduzir o tratamento do paciente oncológico
para que ele tenha melhores perspectivas terapêuticas”, explica o presidente da
SBC.
O evento da SBC contou com a participação
virtual de mais de duas mil pessoas de 35 países diferentes e apresentou os
avanços em pesquisas mundiais sobre o tema, em especial no Brasil e Estados
Unidos, países que lideram essa comunidade científica. Os diferentes estudos
apresentados e discutidos por 33 profissionais, entre eles 10 norte-americanos,
foram reunidos em 12 sessões que abordaram temas básicos na Cardio-oncologia e
uma palestra especial que discutiu a relação da área com a COVID-19; Avanços da
ecocardiografia na disfunção cardíaca relacionada à terapia do câncer;
Intervenção coronariana em pacientes com câncer e Imagem avançada em
cardio-oncologia. Além disso, a seção sobre pesquisas em andamento no Brasil
apresentou quatro estudos diferentes, todos liderados por cardiologistas mulheres.
“As doenças cardiovasculares e o câncer têm alta
prevalência na população e são as principais causas de mortalidade em todo o
mundo e sabemos que há uma sobreposição significativa entre os fatores de risco
cardiovascular, doenças cardiovasculares e o câncer”, afirmou durante o
encontro a editora-chefe da publicação científica JACC: CardioOncology, Dra.
Bonnie Ky, apresentando dados de estudos de diversos países que trazem essa
afirmativa, realizados com diferentes tipos de pacientes, incluindo os pediátricos.
“Começamos a pensar a cardio-oncologia em 2006,
quando se resolveu construir, ao lado do InCor, o Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo (Icesp). Há 14 anos eram poucos trabalhos na literatura sobre
cardio-oncologia, ninguém falava muito nesse tema. Propus algo nesse quesito,
montamos uma equipe e nessa década a cardio-oncologia se tornou uma
subespecialidade da cardiologia. Foram simpósios, congressos de várias
especialidades e no mundo inteiro a área cresceu bastante. Como fomos
pioneiros, em 2010 a SBC e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
fizeram a primeira diretriz de cardio-oncologia. Médicos estrangeiros disseram
que se tratava da primeira diretriz no mundo”, contou o professor titular
e diretor do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), Roberto Kalil Filho, que também é
coordenador do Grupo de Estudos de Cardio-Oncologia da SBC, em live transmitida
pelas redes sociais da SBC, no último dia 29/8.
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA
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