O cenário é este: os adultos permanecem horas e mais horas diante das telas dos computadores, trabalhando e participando de infinitas reuniões on-line, e as crianças diante dos tablets, smartphones, TVs digitais e similares, pois assim elas "sossegam".
O advento do coronavírus e o isolamento social
trouxeram algumas mudanças no cotidiano de muitos indivíduos. Quem trabalhava
em escritórios começou a fazer home office, o que, em um primeiro momento,
pareceu confortável, agradável e produtivo. Em um segundo momento, percebeu-se
que, como o trabalho estava dentro de casa e se poderia trabalhar a qualquer
hora, toda hora tornou-se hora de trabalho. E ainda, não se pode esquecer dos
filhos, que demandam atenção, cuidados, etc. Somando isso às horas
ininterruptas de trabalho, o que poderia se tornar uma maior qualidade de vida
tornou-se um esgotamento generalizado.
Houve um aumento considerável no consumo de
benzodiazepínicos para suportar a tensão generalizada que resultou não somente
em saques de papel higiênico devido ao pânico coletivo, mas também no surgimento
e agravamento de ansiedades, depressões e até insônias.
Isso se deu pois ninguém (Governo, empresas,
cidadãos) respondeu da forma correta à pandemia. Este esgotamento mencionado se
deu graças a diversos aspectos, entre eles:
1 - Existe uma tensão e um medo do vírus, o que
faz o indivíduo permanecer mais em estado de alerta, produzindo hormônios de
estresse, por exemplo.
2 - Se não bastasse o risco de vida, há também o
risco de perder o emprego. O que gerou um acúmulo de funções e uma redução de
salário.
3 - Os vínculos sociais e os encontros
presenciais são de extrema importância para a manutenção da saúde mental do ser
humano. Os aparelhos eletrônicos não substituem completamente tal necessidade
do social. Não à toa, muitos irresponsavelmente "furaram o
isolamento" e casaram, foram aos bares, etc..
4 - Não se pode esquecer dos cônjuges. Muitos
casados começaram a descobrir quem era o outro na pandemia, levando a um
aumento de divórcios (sem contar os casos de agressões físicas e o risco de vida
que muitas mulheres sofreram).
Os aparelhos eletrônicos e suas redes digitais
sociais são paliativos por um lado, já que conectam indivíduos distantes e em
isolamento; mas por outro, devem ser utilizados com precaução. A anestesiologia
aponta que 30 minutos de uso de um aparelho eletrônico causa o mesmo efeito de
uma droga benzodiozepínica, o midazolam; ou seja: isolados e estressados, a
fuga tanto dos adultos quanto das crianças tem sido os aparelhos eletrônicos, o
que pode agravar o vício neles.
Ainda se pode amenizar as consequências do
"novo normal". Alguns passos podem ser: iniciar um processo
psicoterapêutico, impor limites no horário de trabalho, realizar atividades que
não demandem dos aparelhos eletrônicos, como pintura, desenhos, leitura; aprender
um instrumento, entre outros.
Dr. Leonardo Torres - psicoterapeuta junguiano e palestrante.
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