Médica alerta sobre a necessidade de deixar a família informada sobre o desejo de que a vida continue depois da morte. Dados do Ministério da Saúde mostram que a queda no número de transplante durante a pandemia pode chegar a 60%
O primeiro passo para se tornar um doador de
órgão é se manifestar para os familiares, pois é deles a decisão final em caso
de morte cerebral. Para a pediatra especialista Gastroenterologia Pediátrica,
Mariana Di Paula Rodrigues (CRM 13541 / RQE 10514) que lida no dia a dia com
casos de crianças que precisam de transplante de fígado, isso facilita a
decisão de pais, maridos e filhos que já passam pelo momento delicado de lidar
com a perda do ente querido”. Durante o Setembro Verde, ela faz o alerta para
quem deseja fazer valer a sua vontade: “manifeste-se”.
O Setembro Verde é um período dedicado à
campanhas e manifestos para esclarecimento da população sobre o assunto.
Mariana, que atende na clínica Bela Infância, instalada no Órion Complex,
lembra que, no caso do transplante de fígado, nem sempre as pessoas do núcleo
familiar são compatíveis para que uma parte do órgão possa ser doado. “Lidamos
diariamente com essas crianças que lutam pela vida e contra o tempo”, declara.
O ponto alto da campanha acontece no dia 27, quando o país comemora o Dia
Nacional da Doação de Órgãos.
Dados do Ministério da Saúde foram divulgados
pela Agência Senado e mostram que a campanha já tem surtido efeito positivo.
Embora mais de 45 mil pessoas ainda aguardem na fila de espera para um órgão,
nos últimos dez anos, o Brasil teve um aumento de 43,3% de no número de
transplantes, saltando de 6.426 em 2010 para 9.212 de transplantes de coração,
fígado, intestino, pâncreas, pulmão e rim em 2019.
Entretanto, 2020 está sendo um desafio e certamente
será um ponto fora da curva de crescimento. Segundo Agência, o Registro
Brasileiro de Transplantes, notificou queda de 6,5% no primeiro semestre deste
ano em comparação com o mesmo período de 2019. Quando se confrontam os números
de doadores no primeiro e no segundo trimestres de 2020, a queda é ainda mais
expressiva: 26,1%.
A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
(ABTO) listou um ranking nessa queda: fígado (6,9%), rim (18,4%), coração
(27,1%), pulmão (27,1%), pâncreas (29,1%) e córneas (44,3%). A previsão é que
até o final do ano o Brasil deve realizar 3.621 transplantes em 2020, uma queda
de 60,6% em relação a 2019. Mariana ressalta que a morte cerebral acontece
quando o fluxo sanguíneo para o cérebro é interrompido, uma situação irreversível,
mas que ainda permite salvar outras vidas . “Um corpo precisa de um
cérebro funcionando para estar vivo, mesmo que o coração continue batendo, isso
só está acontecendo por ajuda de medicamentos e aparelhos e logo também vai
parar”, lamenta.
Atualmente o Senado analisa pelo menos oito
projetos que pretendem incentivar a doação de órgãos no Brasil. Um projeto já
em vigor institui a chamada doação presumida, onde de acordo com o texto, a
pessoa que não deseja doar partes do corpo após a morte deve registrar a
expressão “não doador de órgãos e tecidos” no documento de identidade. Já quem
deseja fazer a doação, não precisa se manifestar, presumindo o seu desejo.
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