Já ouviu falar do comportamento de manada? Talvez
tenha ouvido de outras formas, tais como, psicologia das massas, conformidade
social, efeito adesão, ou até mesmo pelo bom e velho “Maria vai com as outras”.
Em 1982, Sylvia Orthof lançou o livro infantil chamado “Maria-vai-com-as-outras”:
Se as outras ovelhas fossem ao polo sul, Maria ia, mesmo com frio. Se fossem
para o deserto, Maria ia, mesmo sentindo calor. Se fossem comer jiló, Maria
comia, mesmo sem gostar. Um dia, Maria passou a pensar por si e não seguiu mais
as furadas das outras. Infelizmente, a mensagem que Sylvia Orthof quis ensinar
em seu livro não foi completamente aprendida por nós, que desde a infância
fazemos escolhas impulsionados pelas opções dos outros, ou seja, agindo
conforme a maioria, independente da sua vontade individual.
Antes este viés estava associado a pessoas
solitárias, sem opinião própria ou que não conseguiam tomar decisões
individuais. Mas estudos revelam que este efeito de adesão está muito mais
presente na sociedade, que anseia por um senso de comunidade, de pertencer a
algo e não perder sozinho. Algumas vezes, perseguir o que a maioria faz é
natural e pode até ser saudável, como quando, por exemplo, ao procurar por um
hotel na internet você se identifica com aquele mais visitado, onde a maioria
dos comentários refletem a experiência que você está buscando. Em
contrapartida, este comportamento pode trazer impactos desfavoráveis para a
saúde financeira.
Decisões irrefletidas, muitas vezes irracionais e
até mesmo por impulso levam o ser humano a seguir o que seu grupo faz, sem
validar se aquela escolha está realmente alinhada com seus desejos e projetos
de vida.
Vale citar o exemplo na escolha de um hotel, no
qual não basta escolher o que a maioria escolheu, é preciso confirmar se ele realmente
atenderá sua necessidade e, tão importante quanto, saber se o custo está dentro
das suas possibilidades e planejamento.
O efeito manada é muito falado no mundo dos
investimentos, quando a decisão de compra e venda de ativos financeiros é feita
com base no senso comum. Mas mesmo longe dos investimentos, o comportamento de
manada pode impactar financeiramente nossos planos de vida. Um exemplo de
grande impacto deste efeito pode ser observado na decisão de compra da casa
própria. Sem perceber, algumas pessoas decidem comprar um imóvel, sem refletir
profundamente sobre esta aquisição, acreditando que a fazem para se sentir
segura, não gastar com aluguéis, ter um teto na aposentadoria, dentre muitas
outras desculpas prontas, criadas pelo efeito de adesão.
Existem ainda os valores e crenças que rotulam a
família bem sucedida como aquela que tem moradia própria. “Todos têm e só você
não tem?”. É quando então compra-se um imóvel só para realizar o “sonho de ter
a casa própria”. Mas quem disse que este sonho é de todos? Se você busca morar
sempre próximo do trabalho, ou quem sabe mudar de país, ou ainda ter uma
família grande, por que comprar um imóvel agora se provavelmente precisará
“desfazê-lo” em breve, impactando profundamente seus planos de reserva
financeira para realizar projetos e sonhos que são genuinamente seus.
O desejo de pertencer ao um grupo, seja na escola,
trabalho, família, amigos, dentre tantos outros, pode fazer com que tenha um
custo de vida acima de sua receita, impedindo-o de planejar e realizar projetos
de desejo legítimos. Vale frisar que não é preciso radicalizar e excluir toda e
qualquer decisão que demonstre o efeito manada latente. O importante é
identificar as oportunidades, fazer contas e ter consciência do impacto financeiro
envolvido na escolha que lhe fará sentir-se parte do todo.
O efeito manada cria um atalho mental para desviar
responsabilidades, evitar perda de energia analisando e buscar resultados
rápidos, que nem sempre são os resultados esperados. Sem fazer julgamentos, o
cérebro entra no piloto automático. Assim, é essencial que cada um tome uma
posição perante o medo de ficar para trás ou ser excluído de um grupo.
Encorajar-se para refletir e descobrir os interesses individuais antes de tomar
uma decisão. E principalmente, colocar na ponta do lápis os custos e impacto
financeiro de decisões relevantes.
Vale algumas dicas
• Não deixe que os outros pensem por você;
• Identifique suas prioridades e mantenha o foco
nelas;
• Escolha bem a manada que deseja seguir;
• Seja paciente e disciplinado;
• Evite agir emocional ou impulsivamente;
• Resista aos apelos de publicidade;
• Pratique a análise crítica: aquele
produto/serviço realmente está alinhado às minhas necessidades, valores ou
projetos?;
O ideal é assumir as rédeas de suas escolhas e não
ser uma “Maria vai com as outras”.
Daniela Ispirian Mir Gelamo - planejadora
financeira da GFAI - www.gfai.com.br
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