Passou
longe a realidade de que a democratização do acesso à internet se apontava como
possibilidade no horizonte, em que teríamos longos e frutíferos debates da
juventude em uma esfera pública digital, e em que promoveríamos a participação
cidadã on-line. Décadas depois, o excesso de informação e a capacidade quase
que infinita de armazenamento em nuvem não resultaram em um aumento do
conhecimento e de reflexão. Longe de recair em um determinismo tecnológico, a
crítica, de fato, está sobre o comportamento irresponsável, agravado nos
últimos tempos pelas fake
news.
Na
mesma velocidade com que tecnologias em prol do aprendizado e da educação
ganham novas ferramentas, surgem novos canais e formatos de entretenimento que
disputam com força desproporcional a atenção das pessoas. Na batalha entre
interesse público, como informações fundamentais para a vida do indivíduo, e
interesse “do” público, como informações desnecessárias ou de pouco valor
prático, é nítido qual prevalece.
A facilidade
do acesso muitas vezes prevalece ante a dificuldade da reflexão, e a camada de
sites e de espaços que vendem conteúdo raso, mastigado e sobretudo de origem e
qualidade duvidosa, não é rompida. O ranqueamento é alimentado, em parte, pelo
volume de acesso da massa. Assim, firma-se um círculo vicioso, em que os
maiores pontuados são os mais acessados, que por sua vez são aqueles que são
generalistas e com conteúdo planificado. O problema cultural aqui é justamente
o de ‘se render ao mais fácil’, que é a reflexão vendida por caracteres em
sites que lucram com o fluxo de internautas.
Esse
lucro é maior ainda quando o internauta interage com os demais conteúdos
publicitários na página, cujo destino certamente não dialoga com a informação
que se buscava. Ou seja, à fragilidade da atenção soma-se ainda o potencial de
dispersão que banners animados, links para outros sites, propaganda de
entretenimento, entre outras inúmeras iscas que são lançadas nesses sites para
desviar o leitor do caminho da informação.
É
nesse espaço de disputa de atenção e de desnorteamento com a quantidade
crescente de dados que a desinformação ecoa e se multiplica. E as técnicas e
estratégias para isso evoluem. Se antes os boatos boca a boca criavam uma
distopia, hoje a manipulação ou o desvio da atenção do que de fato é importante
para a população se dá por meio de mentiras com marcas de verdades. A
manipulação não é de agora, mas a capacidade de propagação do meio on-line
torna mais rápida e potente a viralização.
Contudo,
isso não significa que o problema esteja na tecnologia, caso contrário, a
desinformação seria generalizada. Ele é, em grande parte, comportamental, e é
reforçado pelos contornos da contestação gratuita aos métodos científicos e à
solidez das instituições que sob a técnica e objetividade atuam no cenário da
informação de qualidade, como é o caso do jornalismo. Aqui, o que se estabelece
é o fenômeno da pós-verdade.
O
cenário é propício para o descrédito de pesquisas, dados, documentos e uma
série de evidências de veracidade, dando espaço para o discurso da mentira que
se propõe com marcas de realidade. A falta de atenção, por um lado, e a busca
por confirmação dos próprios ideais e opiniões é o que vale neste espaço, em
que informações em falso contexto, deslocadas do tempo, parodiadas ou com
conteúdo manipulado são compartilhadas sem qualquer critério e pudor.
Se
é menos a máquina e mais o humano, é neste que devemos nos centrar para
prevalecer a lógica do bom uso, do interesse público e do uso da ferramenta
tecnológica como base para a emancipação do indivíduo. Para isso, é importante
que uma educação de base também seja orientada para o entendimento do on-line e
do universo digital como o mesmo do off-line, que dê possibilidade para que
cada vez mais os nativos digitais possam se orientar no mar de informações, e
que acenda o alerta de que na internet não existem curtidas ou
compartilhamentos gratuitos e nem livres de responsabilidade.
Alexsandro Ribeiro - professor
nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
Internacional Uninter.
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