Agora, vamos ao que interessa: hoje é dia dos
professores. Sobram homenagens no Instagram, cerimônias nas escolas,
agradecimentos mais informais nas universidades. Mas, além de incensá-los,
estamos refletindo sobre o papel que têm na nossa formação como alunos,
indivíduos, profissionais? Estamos, a partir daí, valorizando-os o suficiente?
Mais: olhando para esse importante agente do processo de aprendizagem
conseguimos aprofundar a discussão para a qualidade do sistema em
si?
O criador da Singularity University e engenheiro
norte-americano Peter Diamandis costuma dizer que a era das transformações
exponenciais está apenas começando. E se tudo gira e muda o tempo todo, não
podemos dizer o mesmo dos ambientes educacionais. Ao olharmos uma foto de um
século atrás, veremos o mesmo modelo o mesmo método, a mesma configuração
espacial das salas de aula atuais.
Salas de aula: 110
anos depois, a mesma estrutura
Se pensarmos nos 71,8% da população brasileira que
têm acesso à educação formal — sim, ainda
não chegamos ao patamar da formação educacional como direito efetivo e
universal —, veremos que aprender é palavra de ordem desde o começo das
nossas vidas: aprendemos a ler, aprendemos a escrever, aprendemos a fazer
contas básicas. Aprendemos sobre história — embora por filtros duvidosos —,
geografia e em alguns casos, até sobre religião. Depois, para uma parcela ainda
mais privilegiada, há a possibilidade de continuar aprendendo, agora de forma
mais afunilada na universidade, recebendo conhecimentos de acordo com a área
profissional que escolhemos para seguir em frente. Só neste recorte de tempo,
passamos, no mínimo, 17 anos de nossas vidas estudando. Acontece que tudo muda
a todo instante e a forma como aprendemos, um tanto quadrada, não nos prepara
para os problemas que se apresentam e se reconfiguram e que exigem de nós
outras respostas e novas habilidades.
E se o desafio de professores e professoras já era
enorme, as mudanças que já cruzaram a esquina fazem com que eles também tenham
de se reinventar. Educadoras e educadores celebrados no dia de hoje estão
descendo dos tablados e percorrendo os espaços educacionais de forma mais
fluida. Ou deveriam. A antiga passagem de conhecimento unilateral não tem mais
espaço nesse jogo. Entra em campo métodos mais flexíveis e modulares que têm o
intuito de sensibilizar as pessoas para o mundo. A missão de educadoras e
educadores é ferramentar os indivíduos para que sejam capazes de tomar decisões
de forma inteligente, mas também benéficas para o coletivo; para que pensem
sobre velhos paradigmas e estejam preparados para cocriarem outras realidades;
para que desenvolvam suas habilidades emocionais e não só o raciocínio
lógico.
É dentro dessa logicidade de transformações
voláteis e constantes, trazidas principalmente pela Revolução Digital, que um
outro conceito também é convocado para a partida. O Lifelong Learning —
traduzido como aprendizado ao longo da vida e também conhecido como educação
continuada — traz consigo a necessidade de nos mantermos constantemente
aprendendo coisas novas, aprofundando conhecimentos, desenvolvendo
habilidades.
Nas empresas, hoje, a realidade não é diferente. O
ato contínuo de aprender também se faz presente no ambiente corporativo, onde
as companhias estão tomando a consciência de que precisam investir em educação
corporativa para formar novos líderes e para aplicar novas metodologias, em
busca de melhorar suas operações, obter melhores resultados, engajar
colaboradores e incentivar a inovação. Para se ter uma ideia dessas mudanças,
de acordo o relatório “The Future of Jobs” produzido pelo Fórum Econômico
Mundial, até 2020, 35% das habilidades mais demandadas para a maioria das
ocupações deve mudar. Temas que jamais estudamos em nossa jornada de
aprendizagem, desde a escola até a faculdade, são as grandes habilidades do
agora. Segundo o estudo, as verdadeiras competências profissionais são:
capacidade de resolução de problemas complexos, pensamento crítico,
criatividade, gestão de pessoas, coordenação, inteligência emocional,
orientação para servir, negociação e flexibilidade cognitiva e a capacidade de
julgamento e de tomada de decisões serão os diferenciais para os colaboradores
nas empresas do futuro.
Já a pesquisa “Educação Corporativa no
Brasil”, realizada pela Deloitte Educação Empresarial, revela que as empresas
passaram a investir em “conhecimento corporativo”. Das 126 companhias
participantes, 63% responderam que, em média, 0,47% do seu faturamento é
investido em educação corporativa. Esses investimentos estão mudando a
realidade das empresas. Isso significa que as companhias tomaram consciência de
que há a necessidade de educar os funcionários para que eles tenham um bom
desempenho. A pesquisa também mostra que 8% das empresas pesquisadas já possuem
universidades corporativas. Das 72% que não possuem, mais de um quarto delas
(28%) já demonstram interesse em criar a estrutura.
No papel de eternos aprendizes, o conhecimento que
devemos perseguir durante toda a vida não está atrelado única e exclusivamente
às cadeiras escolares ou aos bancos universitários. Nosso processo começa lá
atrás, ainda na primeira infância, e não tem data para acabar. Como dizia Alvin
Tofler numa frase que gostamos e usamos muito por aqui na SPUTNiK, os analfabetos do século 21 não
serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguirem
aprender, desaprender e reaprender. Para aderir à mudança em curso, é preciso
que as experiências, mais do que tudo, pautem e reestruturem currículos e
didáticas. E, claro, que educadoras e educadores, alinhados ao espírito do
tempo e atentos a essas transformações, , sejam guias e parceiros nessas
jornadas.
Mari Achutti - CEO e
Cofundadora da Sputnik (escola corporativa que cria experiências de ensino
para as empresas)

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