À medida que o Banco Central do Brasil se prepara para implementar
um novo modelo de Open Banking no país em 2019, a necessidade de repensar o
modelo atual de transações financeiras segue urgente.
De acordo com pesquisas da Febraban (Federação Brasileira de
Bancos) em 2018, as transações financeiras bancárias móveis cresceram 70% no
Brasil. Com o Open Banking funcionando a pleno
vapor, esse percentual deve aumentar substancialmente. Em poucas palavras, o
Open Banking possibilita que usuários de terceiros acessem e utilizem os
recursos de uma conta bancária por meio da integração das plataformas de TI de
vários prestadores de serviços financeiros, desde que o titular da conta o
permita.
O ponto principal do movimento Open Banking é fornecer aos
usuários maior autoridade sobre suas próprias contas e lhes oferecer uma forma
mais simples de lidar com seu dinheiro, sem necessidade de baixar vários
aplicativos de diferentes bancos ou se preocupar com diversos tipos de
transações, sistemas, variantes tributárias e outros detalhes que tornam o
mundo financeiro complexo para o consumidor.
As fintechs são importantes para esse novo cenário porque estão
trabalhando para diminuir o número de intermediários no processo financeiro e
tornar as movimentações financeiras o mais simples e diretas possíveis. Para fazer pagamentos, por exemplo, seria possível, por meio do Open
Banking, enviar dinheiro diretamente para a empresa que você está contratando
para um serviço, sem necessidade de recorrer a modelos de transferência de moeda
que podem divergir de um banco para outro (e que cobram o usuário por isso).
A
necessidade de colaboração com as fintechs
Atualmente,
temos, de um lado, instituições financeiras trabalhando de forma tradicional e,
do outro, as fintechs, que estão revolucionando a forma como trabalhamos com
moeda, mas têm limitações quanto a aplicar todas as suas ideias devido aos
sistemas monetários implementados atualmente. Bem no meio dessas duas opções
fica o consumidor, à procura de melhores serviços, de soluções seguras e mais
rápidas e de maneiras mais simples de usar seu dinheiro. A regulamentação do
Open Banking no Brasil ajudará a resolver essa equação; no entanto, para que o
open banking seja bem-sucedido é necessário que os bancos e as fintechs
colaborem entre si para proporcionar melhores serviços para seus clientes.
Os consumidores têm muito a ganhar com a abertura do mercado de
pagamentos para permitir maior concorrência, incentivando a inovação entre as
fintechs, e a resultante disrupção do mercado. À
medida que se tornar realidade, a regulamentação do Open Banking no Brasil irá
impulsionar a necessidade dessas parcerias. Na verdade, muitas dessas
parcerias já estão atuando por meio dos programas implementados nos principais
bancos do país orientados a fintechs. Hoje, cada banco está conectado a um
grande ecossistema de fintechs que oferecem serviços complementares ao cliente,
sejam em fase exploratória ou já a pleno vapor. O Open Banking permitirá que as
fintechs sejam mais independentes e consigam se conectar mais facilmente a
múltiplos bancos, fornecendo serviços interbancários com maior inovação no
mercado. Essa regulamentação honra a tradição do Brasil de possuir um dos
sistemas bancários mais avançados e inovadores do mundo há várias décadas, apesar
de focado primordialmente no mercado interno.
Lições
de open banking aprendidas ao redor do mundo
Em
se tratando de questões regulatórias, desafios ainda precisam ser superados,
mas as lições aprendidas durante esse processo em outros países serão úteis. A
criação da PSD2, uma diretiva europeia elaborada para quebrar o monopólio dos
bancos sobre os dados de seus usuários, demonstrou que o uso da padronização,
rastreabilidade e soluções que aprimoram a experiência do usuário, como o uso
de biometria para consentimento e autenticação, deve ser incluído na
regulamentação, sob pena de não se solucionar o problema por completo.
Na América Latina, esse movimento está começando a crescer. O México, por exemplo, regulamentou que prestadores de serviços
bancários de todos os tipos devem fornecer acesso equitativo aos dados como
condição para garantir ou manter sua licença bancária. Com isso, o México está
tentando incentivar a concorrência a criar novas propostas para os clientes, o
que deverá conquistar novos usuários para o espaço digital – uma necessidade
para o país.
A inclusão financeira, fundamental para a lei de fintech mexicana,
é também um fator importante para o Brasil. O
sistema open banking constitui apenas uma pequena parcela da discussão mais
ampla sobre dados abertos. “Aberto” significa fornecer apoio às pessoas em
relação ao entendimento de seus próprios dados, de modo a tomarem decisões bem
fundamentadas. As pessoas sub-bancarizadas e não bancarizadas, assim como
aquelas que não contam com infraestrutura tecnológica, não devem ser
esquecidas. Em boa parte da América Latina, “correspondentes não financeiros”
operam como um canal para fornecer alguns serviços financeiros básicos para
comunidades com baixo grau de adoção digital. Essas empresas podem vir a se
tornar um tipo novo e desafiador de banco comunitário que facilita o acesso e a
compreensão de seus dados pelo cliente. A educação será fundamental para o
sucesso do open banking e dos dados abertos.
E
o que ocorre a partir daí?
Embora
os bancos tenham feito avanços no setor bancário digital, há ainda um longo
caminho a se percorrer e, em um ambiente no qual agilidade e tecnologia são
essenciais, modernizar os sistemas é uma prioridade. A melhor maneira de fazer
isso é trabalhar em conjunto com as fintechs para desenvolver novos serviços e
soluções que atendam às necessidades emergentes e resolvam os pontos críticos
dos consumidores. Há uma necessidade de se repensar completamente bancos e
pagamentos, desde serviços e produtos à forma como enviamos e recebemos
dinheiro, de modo a criar novas oportunidades e liberar todo o potencial da
tecnologia financeira para que os consumidores possam desfrutar de novas e
melhores possibilidades de gerenciar seu dinheiro.
Deve-se ressaltar também que a inexistência de qualquer caso
negativo nos mercados que já adotaram o Open Banking, associado ao tamanho da
oportunidade do país, contribui para o desenvolvimento de mais inovação no
Brasil. Tal fato é corroborado pelo crescimento
explosivo do financiamento disponível para novas fintechs em 2019, que aumentou
sete vezes desde 2016 e atingiu mais de US$ 1,5 bilhão em 2018. Interessante
notar que o impacto do Open Banking no Brasil também será impulsionado pelas
discussões em curso sendo conduzidas pelo Banco Central em torno de padrões
para os Pagamentos Instantâneos disponíveis 24 horas por dia, sete dias por
semana no Brasil, e por decisões em torno de padrões globais como o ISO 20022.
Isso pavimentará um caminho amplo para transações de pagamento internacionais
no país, o que se alinha às novas diretrizes do governo brasileiro no sentido
de acelerar a integração global da economia. As fintechs e os bancos no Brasil
chegaram a um estágio em que estão prontos para dar o próximo passo em direção
ao futuro.
Por
Marco Bravo - vice-presidente da ACI Worldwide para a América Latina
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