A
inserção de imigrantes no mercado de trabalho formal e sua inclusão financeira
compõem, juntos, desafios para muitos países – entre eles o Brasil. Como a
imigração é um fenômeno que normalmente ocorre devido a uma busca por melhores
condições de vida, o trabalho acaba sendo o principal objetivo de quem chega a
um novo País.
Em
São Paulo (SP), segundo registros da Polícia Federal, a comunidade estrangeira
mais populosa é a boliviana. A maioria trabalha em pequenas confecções de
costura, estima-se que são mais de 14 mil oficinas só na grande São Paulo.
Muitas delas são informais, com trabalhadores e donos dos estabelecimentos vivendo
em condições degradantes.
Além
dos desafios de regularização, há também a necessidade de incluir esses
imigrantes financeiramente. Mas o que significa inclusão financeira? É o acesso
e bom uso dos serviços financeiros pela população, como por exemplo: meios de
pagamentos, poupança, conta corrente, seguros, crédito, dentre outros.
Segundo
o Banco Mundial, 38% da população mundial não tem acesso a operações básicas
para gerenciar suas finanças, o que impacta diretamente o desenvolvimento
econômico e a inclusão social das comunidades de baixa renda.
A
maior parte dos bolivianos e latino-americanos que vivem no Brasil não tem
contas bancárias, guarda seu dinheiro em casa e faz compras pagando em espécie.
Esses comportamentos já geraram vários casos de assaltos e violência.
Dificultam também o acesso a soluções para administrar, poupar ou ter acesso a
crédito.
Em
pesquisa realizada pelo programa Tecendo Sonhos, da Aliança Empreendedora, com
apoio do Mastercard Center for Inclusive Growth, constatamos que os imigrantes
sofrem com alto isolamento e relações de profunda dependência. O
levantamento foi realizado com a consultoria do Plano CDE, no início de 2019,
para entender os desafios e potencialidades de imigrantes que trabalham com
oficinas de costura.
O
isolamento ocorre por conta de diferenças culturais, da língua diferente, das
jornadas de trabalho exaustivas e algumas vezes por ameaças ou retenção de
documentação. Já a dependência ocorre para costureiros e donos de oficinas,
seja por co-dependência entre si ou pelos baixos preços pagos pelo mercado.
Também
foram apurados outros fatores. Por exemplo, há falta de gestão financeira, pois
muitos não sabem o quanto ganham e gastam por mês. Logo, não poupam e não se
planejam. Além disso, a própria rede de clientes e fornecedores muitas vezes
corrobora a informalidade e incentiva o uso de dinheiro em espécie.
Há,
também, falta de acesso a informações adaptadas para imigrantes como, por
exemplo: instruções para abrir uma conta, esclarecimentos de quais taxas são
cobradas, fichas de cadastro adaptadas às suas necessidades e documentação etc.
Com
os desafios apontados, a pesquisa gerou insights importantes para
implementar parcerias e criar possíveis soluções. A primeira delas já está
sendo construída pela Aliança Empreendedora com a criação de conteúdos de
gestão e informações sobre as vantagens da bancarização. Serão veiculados por
vídeos e programas de rádios gratuitamente em espanhol. Todo o conteúdo está
sendo construído em conjunto com a comunidade imigrante.
Convidamos
outras entidades de todos os setores para que, no Dia do Imigrante, comemorado
nesta segunda-feira (25/6), revejam práticas para incluir essa população no
mercado de trabalho formal e nos serviços financeiros.
Cristina
Filizzola - psicóloga, gerente de projetos sociais e de empreendedorismo desde
2002. Diretora da filial da Aliança Empreendedora em São Paulo e coordenadora
do programa Tecendo Sonhos, que promove relações de trabalho dignas na
indústria têxtil.
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