Somos
seres sociais. Precisamos dos outros do momento em que nascemos ao que
morremos. Crescemos sempre rodeados de pessoas. Nessa estrada da vida, alguns
se vão antes do que gostaríamos. Outros, somos nós mesmos que preferimos que
desembarquem.
Entre
chegadas e partidas, estamos sempre rodeados por grupos, seja no trabalho, na
universidade, no clube. Isso é não só saudável, como muito necessário ao nosso
próprio desenvolvimento. O problema é que, normalmente, estamos sempre rodeados
de pessoas muito parecidas com a gente.
Nos
aproximamos por afinidades, classe social, preferências. Nos acostumamos a
conviver com pessoas que pensam e acreditam no mesmo que nós. E assim, vamos
vivendo dentro de perfeitas bolhas impenetráveis, sendo muitas vezes, quase
impossível ver o que está além, do lado de fora.
A
tecnologia chega e reforça ainda mais essas muralhas invisíveis. Os algoritmos,
que se julgam muito espertos, nos trazem só aquilo que eles pensam que queremos
ver. Dessa forma, como num ciclo sem fim, constituímos ideias dentro de paredes
imagináveis que separam o “nós” e o “eles”.
Cada
vez mais fechados em nossos próprios círculos, ficamos dentro de redomas de
vidro, blindados a tudo o que é diferente de nós. Ao menor sinal de contato com
outras versões, nos armamos de argumentos sem nem ao menos sermos capazes de
ouvir outras partes.
Nesse
contexto “emsimesmado”, deixamos de lado a riqueza da diversidade. Ficamos
colecionando figurinhas repetidas em vez de partir em busca da amplitude do
álbum. Quem tem mais idade do que nós, é velho demais. Quem tem menos, é
infantil. Quem tem mais dinheiro, é esnobe. Quem tem menos, é miserável. Quem
pensa diferente é, simplesmente, esquisito.
Esse
é um movimento tão limitante que até as empresas já se atentaram. Não é à toa
que muitas estão criando um novo cargo: o chefe de diversidade. Esse
profissional tem a missão de garantir que a empresa tenha pessoas de vários
gêneros, idades, classes sociais e principalmente experiências muito diversas.
É essa mistura de olhares e visões que garante um ambiente realmente fértil
para o novo.
A
questão é tão séria que, recentemente, criaram o processo seletivo às cegas. A
empresa descreve as características de uma vaga e entrevista os candidatos de
forma virtual, distorcendo sua imagem e voz. Não é possível julgar e nem ser
preconceituoso com nenhuma informação que não esteja contida apenas na
comunicação com o candidato.
Os
diplomas também estão sendo deixados de lado. A escola da vida, muitas vezes,
ensina muito mais do que universidades de renome. O passado profissional
importa pouco. A capacidade de construir um futuro alinhado com as perspectivas
da empresa é muito mais importante do que o histórico. Trata-se de uma
contratação projetada para o amanhã, não para o ontem.
Nesse
ambiente, as chamadas soft skills, ou habilidades comportamentais,
ganham ainda mais relevância. Do que adianta dezenas de formações técnicas e
uma alta capacidade de entrega, se o profissional é incapaz de trabalhar e
colaborar com o grupo?
Pesquisas
mostram que profissionais de diferentes cargos e níveis são contratados por
suas habilidades técnicas e demitidos por suas inabilidades comportamentais. E,
num contexto de grandes e profundas revoluções tecnológicas, onde as tarefas
técnicas estão ficando cada vez mais automatizadas, as capacidades
comportamentais devem continuar se sobressaindo.
A
colaboração, dentro de um contexto de ampla diversidade, livre de pré-conceitos
e pré-julgamentos, promete ser uma maneira muito mais proveitosa de vivermos em
grupos. A construção de uma nova sociedade depende de novas e nobres atitudes.
Marília Cardoso - jornalista, com pós-graduação em comunicação
empresarial, MBA em Marketing e pós-MBA em inovação. É empreendedora, além de coach,
facilitadora em processos de Design Thinking, professora de inovação em
universidades e consultora na PALAS, consultoria de inovação e gestão. Ama
aprender e é adepta da mentalidade de crescimento.
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