Levantamento
recente feito pelo Senai projeta, nesta década, o surgimento de 30 novas
ocupações no mercado de trabalho por conta da Indústria 4.0
Com o avanço da tecnologia, diversas
profissões podem ser extintas nos próximos anos. Na contramão disso, surgem
também novas oportunidades e a exigência por profissionais cada vez mais
qualificados. Um levantamento recente feito pelo Senai projeta, nesta década, o
surgimento de 30 novas profissões no mercado de trabalho graças à Indústria 4.0
- conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e
biológico.
Dados da Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI) indicam que a migração do setor para o
conceito 4.0 pode trazer uma redução de custos de produção na ordem de R$ 73
bilhões ao ano. Essa economia envolve ganhos de eficiência, diminuição de
gastos com manutenção de máquinas e consumo de energia.
Uma dessas tecnologias que pode
alavancar oportunidades econômicas no Brasil é a chamada Internet das Coisas,
que possibilita a conexão entre objetos físicos com a internet, como é o caso
de carros que se locomovem sem a presença de motorista. Para Daniel Plotrino,
especialista que atua na área, o profissional do futuro precisa ter algumas
habilidades para se destacar no mercado.
“O profissional do futuro precisa
ser, acima de tudo, muito curioso, explorador, tem que, constantemente, se
atualizar, estudar, sem depender somente da formação acadêmica. Precisa ser um
pouco autodidata e saber compartilhar, isso é muito importante”, ressaltou.
Os segmentos de automóveis; alimentos
e bebidas; máquinas e ferramentas; petróleo e gás; têxtil e vestuário; química
e petroquímica; tecnologias da informação e comunicação, além da construção
civil, devem ser responsáveis por abrir a maioria das novas vagas.
Veículos
No segmento de produção de veículos
automotores, quatro novas ocupações devem ser criadas: mecânico de veículos
híbridos, mecânico especialista em telemetria, programador de unidades de
controles eletrônicos e técnico em informática veicular. A projeção é que, em
10 anos, até 50% das empresas do ramo necessitem desses profissionais, segundo
dados do Senai.
Na visão do presidente da Associação
de Startups e Empreendedores Digitais do Brasil (ASTEPS), Hugo Giallanza, as
profissões do futuro no mercado de carros, por exemplo, vão exigir domínio de
novos conhecimentos, como programação e aplicativos de software.
“Ninguém imaginava que essas coisas
se tornariam realidade na velocidade em que elas estão se tornando. Então, a
manutenção de um veículo desse é totalmente diferente. Ele é todo inteligente,
ele informa. Um veículo desse vai ter menos problemas de manutenção técnica do
que um carro a combustão, que você tem que trocar o óleo, trocar várias peças a
todo o instante. Então, essa eficiência também vai ser convidativa para atrair
novos entusiastas para esses veículos”, explicou.
Na era dominada por smartphones,
tablets e aplicativos, profissões ligadas à tecnologia da informação, como
analista de Internet das Coisas (IoT), especialista em Big Data (conjuntos de
dados que precisam ser processados e armazenados), vão se tornar comuns. No
mundo digital, a segurança das informações é uma das maiores preocupações de
empresários e consumidores.
A tendência é que, com isso, haja uma demanda por
engenheiros de cybersegurança e analistas de segurança e defesa digital.
Para o escritor Sidnei Oliveira,
autor do livro “Profissões do Futuro”, a inteligência artificial pode ser uma
boa ferramenta de trabalho para suprir essa necessidade.
“O engenheiro de hoje tem os dias
contados. Boa parte do trabalho de um engenheiro do passado ou do presente é
facilmente resolvido pela inteligência artificial. A máquina, agora, está
aprendendo. Qualquer profissão do futuro que seja ligada a uma atividade que eu
precise aprender ou a uma atividade em que eu possa ensinar, esta é uma
profissão boa para o futuro”, ponderou.
Mercado bilionário
Indústria que tem a tecnologia como
matéria-prima, o mercado de eSports deve alcançar uma marca expressiva em 2019.
Dados da Newzoo, agência especializada em análises de games e esportes
eletrônicos, estima um faturamento recorde de 1,1 bilhão de dólares, com
audiência de 453,8 milhões de pessoas no mundo.
O presidente do Instituto Campus
Party, Francesco Farruggia, ressalta que, por ser um setor com alto potencial
econômico e que é consumido em qualquer lugar do mundo, o mercado de games já
compete com modalidades tradicionais, como futebol e basquete.
“eSports são estas competições de
games e vão precisar de mão de obra, pessoas que sejam especializadas em
esportes eletrônicos”, afirmou.
Com o avanço das profissões do
futuro, milhões de brasileiros temem pela expansão do desemprego, que já atinge
mais de 13 milhões de pessoas no país. O diretor comercial e de marketing da
Inbenta Brasil, Cassiano Maschio, acredita que certas ocupações devem
desaparecer.
“São profissões mais operacionais,
mais repetitivas, que exigem mais esforço físico: atendentes de telemarketing,
caixa de banco, na verdade estas profissões já estão desaparecendo. Motorista
também, por conta dos carros autônomos”, exemplifica.
Outra área que deve sofrer alterações
nos próximos anos é o mercado financeiro. Os traders, nome dado aos
investidores que buscam ganhos com compra e venda de ações ou ativos negociados
em bolsa de valores, podem ter o trabalho potencializado por robôs.
“Tem robô de alta performance, que
opera no mercado Forex, que é um mercado que movimenta 5 trilhões de dólares,
de alta liquidez. Ele entra na operação de compra ou venda e realiza a compra da
moeda, pode ser euro ou dólar, depende da nossa estratégia, do que nós vamos
passar. É possível obter com o robô, de forma agressiva, até 50% do seu capital
investido e, com certeza, será uma das profissões do futuro pela alta
lucratividade”, avalia a trader Glaucia Pétri.
Do mercado de ações aos consultórios.
Para o especialista em cybersegurança Leonardo Moreira, os médicos também terão
que se habituar com mudanças no exercício da profissão por conta da tecnologia.
“Esses algoritmos matemáticos (de Inteligência
Artificial) vão ajudar os médicos a conseguirem um laudo mais preciso. Não vai
acabar com o médico, mas acho que vai transformar a forma com que a medicina é
exercida”, declarou.
Diferencial
A especialista em comportamento
humano Daniela Galhardo considera que o profissional do futuro, para se tornar
competitivo no mercado, terá que ter um diferencial: as habilidades
socioemocionais.
“As mudanças estão muito rápidas.
Então, o que vai ser - além da profissão que você vai desenvolver - o grande
diferencial para um profissional se tornar competitivo? São as habilidades
socioemocionais. A gente está falando da própria habilidade de cooperar,
empatia, criatividade, saber ouvir, resiliência, autoconhecimento, ou seja, a
habilidade que ele (trabalhador) tem para exercer aquela função ou o que vai
fazer no futuro. Não é o que ele faz, mas sim como faz”, alerta Daniela.
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