O termo asbesto vem da palavra grega
“asbesta”, que significa indestrutível, inextinguível, incombustível. Esse
mineral também é conhecido comercialmente como amianto, designação proveniente
do latim “amianthus” e que significa não-contaminado, incorruptível. Pode-se
apresentar, de acordo com suas características mineralógicas, em dois grandes
grupos: o dos anfibólios e os da serpentina.
Os anfibólios são fibras retas e compostas
por fibrilas dispostas longitudinalmente. O grupo dos anfibólios compreende: a
amosita (amianto marrom), crocidolita (amianto azul), antofilita, actinolita e
tremolita, entre outros. O grupo das serpentinas é representado pela crisotila
(amianto branco) e representa 90% da produção mundial atual. Tem como
propriedade: uma alta resistência à tração mecânica; incombustibilidade e
grande resistência a altas temperaturas; baixa condutibilidade elétrica; alta
resistência a substâncias químicas agressivas; capacidade de filtrar
microrganismos; durabilidade e capacidade de resistir ao desgaste e abrasão.
As ocupações de risco incluem: trabalhadores
em mineração e transformação de asbesto (fabricação de produtos de
cimento-amianto, materiais de fricção, tecidos incombustíveis com amianto,
juntas e gaxetas, papéis e papelões especiais) e consumo de produtos contendo asbesto.As
principais doenças relacionadas são a asbestose, as doenças pleurais não
malignas e as neoplasias pulmonares e mesotelioma maligno de
pleura.
A asbestose é uma pneumoconiose decorrente da
exposição inalatória à poeiras contendo fibras de asbesto, caracteriza-se pela
fibrose intersticial difusa e clinicamente pordispneia aos esforços e tosse
seca que pode evoluir para dispnéia ao repouso, hipoxemia e cor pulmonale. As
alterações radiológicas caracterizam-se pela presença de opacidades irregulares
predominando nos campos inferiores, e, com freqüência, placas pleurais
associadas.
As doenças pleurais pelo asbesto não malignas
compreendem os espessamentos pleurais circunscritos, as placas pleurais, quesão
áreas focais de fibrose irregularpraticamente desprovidas de vasos e células,
assim como de sinais de reação inflamatória, que surgem primariamente na pleura
parietal, sendo mais freqüentemente visualizadas nas regiões postero-laterais
da parede torácica e também nas regiões diafragmatica e mediastinal. É a doença
mais freqüente decorrente da inalação da fibra de asbesto. Outras doenças
pleurais não malignas compreendem oespessamento pleural difuso que acomete a
pleura visceral, a atelectasia redonda, quando o espessamento pleural pode se
estender a áreas dos septos interlobares e interlobulares, geralmente
conseqüente a derrame pleural, provocando uma torção de área do parênquima
pulmonar, que fica enrolado e atelectasiado e o derrame pleural pelo asbesto
que pode ocorrer a qualquer tempo da exposição e apresenta características de
exsudato, geralmente é assintomático, mas pode cursar com dor pleurítica e
febre.
As neoplasias pleuropulmonares compreendem o
câncer de pulmão e o mesotelioma maligno de pleura. No câncer de pulmão, existe
um período de latência (início da exposição à manifestação da doença),
normalmente mais de 30 anos, para o desenvolvimento da doença. Não há
características clínicas, radiológicas ou patológicas que possam distinguir um
câncer de pulmão causado pelo fumo ou por outro carcinogênico potencial, ou
mesmo sem história de exposição, do causado pela exposição ao asbesto. Existe
um sinergismo entre o hábito de fumar e a exposição ao asbesto. Em relação ao
mesotelioma maligno de pleura, estudos epidemiológicos sugerem que 75% a 80%
dos casos de mesotelioma maligno de pleura estão associados à exposição ao
asbesto. Cerca de 80% dos casos ocorrem em trabalhadores expostos ao asbesto no
ambiente de trabalho e o restante em membros de sua família ou pessoas que
moram próximo à mineração ou a fábricas que utilizam o asbesto. Não existe uma
maior prevalência de mesotelioma maligno entre fumantes.
Embora exista uma significativa relação
dose-dependência para este tumor com exposição ao asbesto, muitos casos foram
documentados com baixos níveis de exposição e por baixos períodos de tempo
ocorridos muitos anos atrás (período de latência de 30 a 40 anos). O tumor
tende a ser invasivo localmente, mas raramente se metastatiza a locais
distantes; pouco responde a medidas terapêuticas como radioterapia ou
quimioterapia e o seu prognóstico é extremamente ruim. Outros estudos de
coortes de trabalhadores expostos ao asbesto sugerem haver um aumento, nesses
grupos, do risco de cânceres gastrintestinais, laríngeos, dos ovários e dos
rins.
Em relação a atual legislação, em 29 de
novembro de 2017, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) baniu o amianto
no Brasil. As duas ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs 3406 e 3470)
proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI) que
objetivavam derrubar a lei que bania a fibra cancerígena em todo o Estado do
Rio de Janeiro foi derrotada pela maioria do Supremo Tribunal Federal (STF),
determinando que a decisão fosse seguida por todas as instâncias da Justiça no
Brasil, não deixando ao Congresso Nacional a possibilidade de aprovar
legislação para autorizar o uso do material.
Entretanto, passado um ano, do julgamento, a
sua sentença, o chamado acordão, ainda não foi publicado. Além da não
publicação deste acordão, houve a concessão de liminar permitindo que estados
que não tem leis proibindo o amianto ou que elas só vigorem a partir de 2021
continuem a produzir sem restrições, como os casos de Minas Gerais, Goiás (sede
da única mina em funcionamento) e Paraná (maior produtor de telhas de amianto
no País).
Jefferson Benedito Pires
de Freitas - professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo, onde é Coordenador Geral do Curso de Especialização em Medicina do
Trabalho
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