Quem (ao menos na faixa dos 40 anos) não lembra
daquele comercial de uma pomada anti-inflamatória famosa que tinha como slogan:
“Não basta ser pai, tem que participar!”? As cenas do homem que acorda cedo
para levar o filho ao jogo de futebol, sofre com seus percalços, cuida do
machucado e vibra com a conquista se contrapõem ao estereótipo do pai como
provedor do sustento financeiro da família, mas excluído do cuidado e da
educação dos filhos. Tal imagem vem sendo transformada, sobretudo, ao longo das
últimas décadas, com a cobrança social pela criação e ampliação da licença
paternidade e de outros direitos, como o de deixar de comparecer ao serviço,
sem prejuízo de salário, por até dois dias para acompanhar consultas médicas e
exames durante a gravidez de sua esposa ou companheira.
O envolvimento paterno é hoje preconizado como
elemento fundamental para a saúde e o desenvolvimento cognitivo e emocional da
criança. É, inclusive, eixo prioritário da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde do Homem (PNAISH) do Ministério da Saúde, na qual uma das
estratégias é estimular profissionais de saúde, educadores e gestores a
desenvolverem ações visando ao engajamento dos homens no planejamento
reprodutivo, no pré-parto, parto e pós-parto e no cuidado cotidiano com os
filhos.
Nesse sentido, o Instituto Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) tem
investido na inclusão do parceiro nos serviços que, antes, eram voltados
exclusivamente para a mulher. Um exemplo é a abordagem da importância da
participação do pai feita pela equipe do Ambulatório de Pré-Natal da
instituição, seja nos materiais educativos, como o Manual de Orientações e
Informações para a Gestante e sua Família, ou nos grupos de matrícula para
gestantes, que são semanais. Dentre as sessões temáticas dos grupos educativos,
que acontecem uma ou duas vezes por mês, há uma dedicada especificamente à
discussão sobre paternidade. Nela, as gestantes e seus acompanhantes (muitas
vezes, os companheiros) assistem a filmes com depoimentos reais de homens e
suas experiências singulares com os filhos, além de terem oportunidade de
aprender a dar banho e embrulhar o bebê para carregá-lo, coisas simples mas
que, muitas vezes, podem afastar os pais do cuidado. “A ideia é aproximá-los
dessas atividades do dia a dia da criação dos filhos, desconstruindo
representações muito difundidas pela mídia nas quais o homem é o abusador (da
mulher e/ou da criança) ou o atrapalhado nas atividades domésticas”, explica a
assistente social e pesquisadora do IFF/Fiocruz Aline de Carvalho Martins.
Aline, que trabalha com o tema da
paternidade e suas repercussões na saúde, defende que os espaços de saúde
precisam promover a entrada dos homens, aumentando as oportunidades de
exercitar a capacidade de cuidar da prole e, até mesmo, perceber que, para além
da obrigação, o cuidado pode ser fonte de prazer. Segundo ela, estudos mostram
que o homem que cuida se preocupa mais com a própria saúde, tem menos chance de
fazer consumo abusivo de drogas e de se tornar usuário do sistema carcerário.
Do mesmo modo, as mulheres se beneficiam, comparecendo mais às consultas de
pré-natal, mostrando-se mais satisfeitas com a relação conjugal, estando menos
propensas à depressão e outras doenças e melhorando a qualidade do cuidado que
dispensam aos filhos. “Mas é importante que a mulher tenha consciência de que
também cabe a ela permitir que o pai seja um cuidador. Isso significa respeitar
a sua forma diferente de brincar com a criança e deixar que ele encontre o seu
próprio jeito de cuidar, sem desqualificá-lo”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário