Imagine
uma mulher de 1,60 metros de altura. Seu peso normal deveria ser no máximo 64
quilos, mas, mesmo com todo regime que ela já fez, não consegue baixar dos 80
quilos. Ela quer emagrecer, sua autoestima está comprometida e sua saúde já
inspira cuidados. Mas, como ela não é considerada obesa grau III – o que
corresponderia a pesar mais de 100 quilos – não é uma boa candidata à cirurgia
bariátrica. Até hoje, sua alternativa girava em torno de tratamentos de
emagrecimento, dietas e exercícios. Agora, uma nova técnica endoscópica e sem
cortes acena como possibilidade de tratamento da obesidade leve. Trata-se da gastroplastia
endoscópica, técnica desenvolvida pelo médico Manoel Galvão Neto –
que responde a cinco perguntas e respostas sobre essa novidade.
1.
Como surgiu a
gastroplastia endoscópica?
Manoel
Galvão Neto – “Essa técnica foi desenvolvida há cinco
anos, fruto de uma parceria entre a Florida International University (Miami),
onde sou professor associado, com outras universidades dos Estados Unidos e um
serviço de Endoscopia no Panamá. Fiz parte dessa equipe internacional atuando
principalmente na idealização e execução da técnica. Depois, a levamos para a
Espanha. No Hospital Universitário Sanchinarro (Madri), nós desenvolvemos a
maior série de pacientes tratados com essa técnica, juntamente com o médico
Gontrand López-Nava. Desde então, mais de duas mil cirurgias já foram
realizadas em doze países – onde tivemos a oportunidade de treinar a maior
parte dos médicos que executam essa técnica. Recentemente, o procedimento
chegou ao Brasil. As primeiras cirurgias aconteceram no hospital da Faculdade
de Medicina do ABC, onde sou professor afiliado da disciplina de Cirurgia, sob
coordenação de uma equipe integrada também pelos médicos Eduardo Grecco, Thiago
Souza e Gustavo Quadros”.
2. Quem é candidato a esse tratamento?
Manoel
Galvão Neto – “Pacientes com obesidade grau I e II –
que normalmente nem são candidatos às cirurgias bariátricas – são os que
apresentam melhores resultados e podem se beneficiar muito com essa técnica.
Não são métodos que se competem ou se comparam. Vale lembrar que a obesidade
grau I vem logo depois do sobrepeso. Ou seja, quando o paciente atinge IMC 30 e
em geral não consegue mais perder peso com exercícios físicos, mudança de
hábitos e dieta, a gastroplastia endoscópica pode ser considerada uma opção de
tratamento, com resultados eficazes, menor complexidade e pouco riscos”.
3.
Como é a realizada a
gastroplastia endoscópica?
Manoel
Galvão Neto – “O procedimento implica na introdução
de um tubo flexível pela boca, assim como acontece num exame comum de
endoscopia, só que sob anestesia geral. Com ampla visão do estômago, o
cirurgião endoscopista realiza suturas no órgão, deixando-o com a forma tubular
fazendo uso de um equipamento chamado OverStitch. A gastroplastia endoscópica é
realizada em ambiente hospitalar, dura em média 60 minutos, e exige apenas um
período em torno de quatro a seis horas de observação. Eventualmente,
dependendo do caso, pode ser necessário passar a noite no hospital –saindo no
dia seguinte. O acompanhamento antes e depois do procedimento é feito em
consultório, sendo que pode ser necessário realizar endoscopia ou exames de
contraste para avaliação dos resultados”.
4.
Quanto peso a pessoa
perde? Ela tem de tomar vitaminas para o resto da vida, assim como na maioria
das cirurgias bariátricas?
Manoel
Galvão Neto – “A sutura endoscópica não causa déficit
absortivo, somente restritivo. Ela também altera o esvaziamento do estômago,
levando à sensação de saciedade precoce e ajudando o paciente a identificar que
já comeu o bastante. Ou seja, problemas como desnutrição, anemia e deficiência
de vitaminas não foram registrados até o momento, no acompanhamento de até dois
anos. Mas é necessário seguir uma dieta recomendada pelo médico. É claro que a
pessoa não comerá como antes, porque reduziu bastante o volume do seu estômago.
Em média, segundo resultado de estudos com essa técnica depois da cirurgia, o
paciente perde em torno de 15% de seu peso de modo gradativo – com a vantagem
de ser um procedimento minimamente invasivo, sem cortes e seguro”.
5.
Além de reduzir o peso
corporal, esse tratamento contribui para evitar outros problemas de saúde?
Manoel
Galvão Neto – “De acordo com a Organização Mundial de
Saúde (OMS), o sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1% (2010) para 54,1%
(2014). A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da
obesidade. Em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos
20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres (22,7%). Essa situação gera
impactos importantes na saúde, já que a obesidade está intimamente associada a
doenças do coração, ao diabetes tipo 2, hipertensão, câncer, problemas nas
articulações etc. Sendo assim, todo tratamento voltado para a obesidade,
seja grau I, II ou III, é muito importante e deve ser considerado atentamente,
levando sempre em conta o perfil do paciente bem como seu histórico de saúde. É
importante reprisar que, com a redução efetiva do peso, ocorre significativa
melhora nas doenças associadas à obesidade”.
Hospital
SAHA
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