Invenção desenvolvida na
Unicamp obtém teobromina e cafeína de cascas de amêndoas de cacau utilizando
mel de abelhas sem ferrão como solvente; método alternativo é mais seguro à
saúde e ao ambienteAs cascas das amêndoas de cacau são ricas em teobromina e cafeína
foto: Wilfredor/Wikimedia Commons
Processo inovador desenvolvido
por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utiliza mel de
abelhas sem ferrão para extrair com mais eficiência das cascas das amêndoas de
cacau teobromina e cafeína – dois compostos que podem ser aplicados em produtos
alimentícios e cosméticos.
Essas cascas são
particularmente ricas em teobromina e cafeína, no entanto, os métodos
convencionais de extração frequentemente envolvem o uso de solventes que podem
ser prejudiciais à saúde e ao ambiente, além de serem, geralmente, complexos e
demorados.
A invenção foi liderada
por Felipe Sanchez Bragagnolo,
que tem como hobby a criação de abelhas sem ferrão (Melipona
quadrifasciata ou mandaçaia), prática conhecida como meliponicultura.
O trabalho, que faz parte do projeto de pós-doutorado de Bragagnolo, contou com
a colaboração de Monique Martins Strieder e Leonardo Mendes de Souza Mesquita,
com a supervisão de Maurício Ariel Rostagno.
O grupo recebe apoio da FAPESP em suas pesquisas (projetos 19/13496-0 e 18/14582-5).Abelha da espécie Melipona quadrifasciata, popularmente conhecida como mandaçaia
foto: Rich Hoyer
“A inovação proposta oferece um método de extração assistida por ultrassom de alta intensidade e utiliza mel de mandaçaia como solvente natural. Essa abordagem não apenas elimina o uso de solventes orgânicos prejudiciais, mas também simplifica o processo de extração, reduzindo o tempo necessário e tornando-o mais sustentável”, explica Rostagno, agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e inventor de 17 patentes. Rostagno também é mestre em ciência de alimentos pela UFLA, mestre em vitivinicultura e doutor em química pela Universidade de Cádiz (Espanha).
Resíduos
valiosos
Os resíduos agrícolas têm sido
cada vez mais reconhecidos como fontes valiosas de compostos de interesse. A
teobromina, estimulante do sistema nervoso central, é o principal composto
presente no cacau, com ação semelhante (embora mais suave) à da cafeína.
“Tradicionalmente esses
resíduos são descartados ou subutilizados. Ao extrair esses compostos não só
reduzimos o volume de resíduos agrícolas, mas também promovemos a economia
circular e mitigamos o impacto ambiental do desperdício”, diz Rostagno, que é
professor associado na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA-Unicamp), no campus
Limeira. Ele atua na área de tecnologia, composição e análise de alimentos, no
Laboratório Multidisciplinar em Alimentos e Saúde (LabMAS).
Um dos princípios da chamada
química verde é eliminar solventes tóxicos e contaminantes de processos e
produtos. “Apesar de o uso de solventes como metanol, acetona e hexano ser
permitido, ainda ficam resíduos no alimento que podem ser prejudiciais à saúde
e devem ser evitados. Não só tendo em vista o consumidor, mas também o pessoal
técnico responsável pelo processo de extração, sujeito à exposição por contato
ou vapores”, explica Rostagno.
O mel de abelhas sem ferrão,
além de ser um solvente natural, apresenta uma série de benefícios à saúde,
como propriedades antibacterianas, antioxidantes e nutritivas. Assim, segundo o
inventor, sua utilização como solvente não apenas torna o processo mais
sustentável, mas também enriquece o produto final com um potencial único de
utilização em uma variedade de produtos. “Pode ser incorporado em formulações
cosméticas, aproveitando suas propriedades para promover a saúde da pele e do
cabelo”, exemplifica o pesquisador. Também pode ser utilizado como ingrediente
em produtos nutracêuticos, fornecendo um impulso natural de energia.
Ao utilizar a técnica de
extração assistida por ultrassom em conjunto com o mel de abelhas sem ferrão, a
eficiência do processo é amplificada, resultando em extrações mais rápidas e
com maior rendimento de teobromina e cafeína. “Além disso, o extrato final não
requer secagem, simplificando ainda mais o processo.”
Há ainda um ganho de marketing,
segundo o pesquisador, visto que, além da eficiência e da sustentabilidade na
extração de compostos valiosos, há uma valorização da biodiversidade local, já
que o mel da abelha mandaçaia é utilizado. “Isso contribui para a diferenciação
e autenticidade dos produtos”, diz Rostagno.
O depósito da patente no
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) foi realizado em março (nº
BR 10 2004 005638 8).
Ricardo Muniz
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/processo-otimiza-extracao-de-compostos-bioativos-de-residuos-agricolas-para-produtos-cosmeticos-e-alimenticios/51861
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