Transtornos psiquiátricos, histórico de violência familiar, uso de substâncias e até o estresse podem desencadear relações amorosas doentias
Segundo o psiquiatra do CEUB, em relacionamentos conjugais, os abusadores geralmente
exibem uma série de traços que inspiram cuidados, como a
tendência ao controle, ciúmes, sentimento de posse, impulsividade e
animosidade. "Essas pessoas muitas vezes possuem habilidades de
manipulação e desonestidade, junto com uma baixa capacidade de lidar com a
frustração, criando um ambiente de intimidação e violência emocional ou física
na maior parte do tempo", explica.
Alguns transtornos mentais podem estar associados a comportamentos abusivos na vida do casal, entre eles o transtorno de personalidade antissocial, de personalidade narcisista e de borderline. "Esses distúrbios podem influenciar a dinâmica do relacionamento, contribuindo para um ciclo de abuso e violência”, pondera o docente do CEUB. Enquanto pessoas com transtorno antissocial tendem a agir impulsivamente e a buscar controle e manipulação, aquelas com transtorno narcisista são movidas por uma necessidade constante de admiração e senso de grandeza. "Esses comportamentos podem se tornar abusivos, especialmente quando as expectativas deles não são atendidas pelo parceiro."
Outro
fator de alerta é o histórico familiar violento. Lucas Benevides relata que
crianças que crescem em lares abusivos podem enxergar esses comportamentos como
normais ou eficazes, replicando-os em seus próprios relacionamentos ao longo da
vida. "As pessoas aprendem por imitação e a exposição contínua a
comportamentos violentos pode moldar a percepção de que são aceitáveis".
Muito
comum nos tempos atuais, o estresse também pode trazer tensão para os romances.
"O estresse pode diminuir a capacidade de lidar com frustrações e aumentar
a irritabilidade", explica Benevides. Geralmente, para aliviar o estresse,
a pessoa usa substâncias como álcool e outras drogas, o que pode reduzir as
inibições e aumentar a agressividade, a depressão e a ansiedade, intensificando
sentimentos de inadequação e frustração dentro de qualquer relacionamento.
Pelo fim do abuso
“O
tratamento para abusadores difere do tratamento para vítimas de abuso, sendo
primordial a adaptação às necessidades de cada um para interromper o ciclo de
violência", enfatiza Benevides. O foco para os abusadores é modificar
comportamentos e atitudes abusivas, controlar a raiva e desenvolver empatia,
enquanto o tratamento para as vítimas consiste em fornecer apoio emocional,
fortalecer a autoestima, estratégias de segurança e intervenções para traumas e
dependência emocional.
Para
tratar o transgressor, o professor do CEUB relaciona abordagens terapêuticas
eficazes: Terapia Cognitivo-Comportamental, programas de intervenção que
abordam questões de controle e agressividade, terapia individual para lidar com
traumas e inseguranças, além da terapia familiar para abordar dinâmicas
familiares disfuncionais. “A mudança de comportamento deve ser acompanhada do
desenvolvimento da empatia e controle da raiva. Em casos de transtornos com
descontrole de impulsos e risco de violência, podem ser utilizados medicamentos
ansiolíticos e estabilizadores de humor.”
Como a baixa autoestima e dependência emocional levam a vítima a se sentir incapaz de deixar o relacionamento, a ajuda profissional, com terapia e medicamentos, pode ser uma saída. "A dependência emocional torna difícil para a vítima reconhecer sua própria autonomia e valor, mantendo-a presa ao relacionamento abusivo". O especialista em saúde mental recomenda como estratégias da família e rede de apoio para socorrer pessoas em relacionamentos abusivos: oferecer escuta empática, informar sobre recursos disponíveis, ajudar a criar um plano de segurança e evitar julgamentos, respeitando o ritmo da pessoa.
Mulheres como alvo
A maioria das vítimas de relacionamentos abusivos são mulheres. De acordo com dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 32,6% das mulheres brasileiras foram vítimas de violência psicológica, com insultos, humilhações e xingamentos proferidos de forma reiterada (21 milhões). O relatório aponta ainda que 24,5% sofrem agressões físicas (15,7 milhões) e 21,1% relataram manter relações sexuais sem consentimento (13,6 milhões).
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