Segundo a OMS, a escoliose afeta de 2% a 4% da população mundial, sendo mais de 50 milhões de crianças atingidas. No Brasil, ainda segundo a organização, 1,6 milhão de pessoas sofrem com esta situação – 3% dos brasileiros – e 160 mil precisam passar por tratamentos cirúrgicos. A deformidade musculoesquelética, que causa um desvio lateral na coluna, em formato de “C” ou “S”, pode ser de origem idiopática (sem causa definida, o tipo mais comum - 80% segundo a OMS), congênita, neuromuscular, de início precoce ou degenerativa do adulto. Ao contrário do que muitos acreditam, o problema não é causado por uma simples má postura. Infelizmente a escoliose afeta a autoestima dos pacientes, que em sua maioria são mulheres e meninas que já vivem todo um contexto de pressão estética e exposição por meio das redes sociais. Mas afinal, o que se pode debater neste Junho Verde?
Julia Barroso, autora dos livros “A Menina da Coluna Torta” e “A Mulher da Coluna Torta”, aborda constantemente a sua experiência em busca da conscientização. A escritora, que é formada em Jornalismo e vive em São Paulo, descobriu que sofria de escoliose aos 11 anos. Em seus livros, Julia relata como foi crescer com a deformidade, ser operada para reduzir o desvio de 60º e seguir com os desafios da fase adulta, ao se tornar mãe. A autora traz tanto nos livros quanto no blog o relato que desmistifica e acessibiliza a compreensão da escoliose, com uma linguagem menos técnica e a vivência que gera identificação.
Julia é membro da Sociedade Brasileira de Escoliose (SBE), uma organização sem fins lucrativos que busca promover educação e conscientização sobre escoliose através de diferentes projetos organizados pela sociedade. Dentre eles está a realização do Congresso Brasileiro de Escoliose, que há 4 edições reúne pacientes, familiares, estudantes e profissionais para falar sobre escoliose sob a luz da ciência e do acolhimento durante 3 dias exclusivos.
Além do relato de paciente da Julia, também é interessante trazer profissionais que dão um parâmetro dos avanços e das necessidades no tratamento. Entre os tratamentos possíveis existem a observação, a ortetização com colete e a cirurgia, além de tratamentos complementares através de fisioterapia e exercícios.
O Dr. Alexander Rossato é cirurgião, especialista em cirurgias da coluna vertebral, escolioses infantis e atua na AACD. Ele traz um parâmetro sobre os avanços que as cirurgias tiveram nos últimos anos, tanto em relação aos implantes com o surgimento dos parafusos pediculares e dos growing systems para pacientes ainda em crescimento, quanto em relação à segurança através de técnicas que mitigam hemorragias, novas drogas anestésicas, a monitorização neurofisiológica (que dispensa a necessidade de acordar o paciente durante o procedimento) e a neuronavegação. Todas as técnicas e dispositivos mencionados já estão disponíveis atualmente no Brasil.
Já o Dr. Leonardo Grandi é médico fisiatra, especialista em escoliose pelo ISICO (Itália), e consultor técnico em órteses e próteses. Ele traz o panorama focado no tratamento conservador, que abrange observação, coletes e fisioterapia. A grande maioria dos casos atualmente recebe esse tipo de tratamento, pois o diagnóstico precoce e as boas práticas têm feito com que menos de 20% dos casos avancem para a indicação cirúrgica. Entretanto, ainda há muito o que avançar nesse tópico aqui no Brasil. O Dr. Grandi pode falar sobre essas boas práticas, como, por exemplo, a triagem escolar para o diagnóstico precoce e os mitos que atrapalham a boa recuperação dos pacientes.
Outro tópico são os sensores criados para otimizar o tratamento. Eles são instalados dentro dos coletes e detectam calor ou pressão e servem para apurar quantas horas por dia e a que horas o colete é usado, evitando que o paciente superestime o tempo de uso (ainda que involuntariamente), além de servir para detectar e discutir com paciente e família as dificuldades para o uso. Esse equipamento infelizmente tem um alto custo que o torna pouco viável no Brasil, porém há planos para o desenvolvimento de um sensor e software para análise dos dados feito no Brasil, em Campina Grande. A iniciativa pode tornar o equipamento mais acessível.
Por
fim, completando a gama de profissionais especialistas temos a fisioterapeuta Isis
Navarro, que também é instrutora, membro da International
Society on Scoliosis Orthopaedic and Rehabilitation Treatment, SOSORT, e
presidente da Sociedade Brasileira de Escoliose (SBE) em 2023. Isis
traz a perspectiva do processo de tratamento por meio da fisioterapia, que já
apresenta efeitos perceptíveis no primeiro mês. Os efeitos mais percebidos
pelos pacientes são estéticos, ao recuperar a simetria da coluna vertebral,
alinhando o corpo. Ela também esclarece que independente de outros fatores, os
pacientes comprometidos, que fazem seus exercícios de casa diariamente, usam o
colete pelo tempo prescrito (em geral 23 horas diárias) e que fazem as
consultas de reavaliação periodicamente são os que apresentam melhores
resultados.
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