O Brasil será o país sede da Copa do Mundo Feminina de 2027. Será a primeira vez em que o evento acontecerá em uma nação sul-americana. Um evento dessa grandeza traz muita publicidade internacional e deve aumentar o setor do turismo. Mas quais ganhos econômicos a copa traria ao Brasil?
Segundo o professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
(FECAP), Ahmed
El Khatib, a Copa do Mundo Feminina de Futebol tem o potencial de gerar um
impacto financeiro significativo no Brasil.
“Com
a crescente visibilidade e interesse no esporte, a competição pode impulsionar
a economia brasileira através de diversos canais, como o aumento do turismo,
investimentos em infraestrutura esportiva e patrocínios. Além disso, a
realização do evento pode estimular o crescimento do futebol feminino no país,
atraindo mais investimentos e oportunidades para as atletas, o que contribui
para o desenvolvimento do esporte e da indústria relacionada”, afirma.
Na
opinião do docente, a expectativa é que a Copa do Mundo Feminina de 2027,
sediada no Brasil, traga benefícios econômicos substanciais, fortalecendo a
posição do país no cenário esportivo internacional, além de impulsionar a
participação feminina no futebol.
Levantamento feito pelo professor aponta que Copa do Mundo Feminina
gerou impactos significativos em outros países que sediaram o evento
recentemente:
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Na Austrália, sede da Copa de 2023 junto com a Nova Zelândia, são esperados
mais de 55 mil turistas estrangeiros para assistir às 35 partidas, o que deve
adicionar US$ 159 milhões (cerca de R$ 800 milhões) na economia do país;
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Para a Copa de 2023, a Austrália liberou A$ 357 milhões (aproximadamente R$ 1,2
bilhão) para projetos diversos, como mudanças na infraestrutura dos estádios
para torná-los mais inclusivos para mulheres. Atualmente, apenas 41% dessas
estruturas no país são pensadas para o público feminino;
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O plano de legado da Austrália para a Copa de 2023 inclui ainda o aumento de
150% no patrocínio entre 2020 e 2023 e apoio e recursos para desenvolver o
futebol feminino, com expectativa de beneficiar 2 milhões de pessoas.
COPA PODE GERAR R$ 1,5 BILHÃO AO BRASIL
Para
o Brasil, sede da Copa do Mundo Feminina de 2027, a expectativa é de que o
evento possa gerar impactos positivos na economia e no desenvolvimento do
futebol feminino no país na mesma proporção dos demais países, algo em torno de
R$1,5 bilhões para a economia nacional.
O
professor aponta que a Copa do Mundo Feminina poderá contribuir
significativamente para a profissionalização do futebol feminino no Brasil de
diversas maneiras:
Maior visibilidade e interesse do público: a realização da Copa do Mundo em 2027 irá gerar
uma enorme atenção e cobertura midiática para o futebol feminino no Brasil.
Isso pode aumentar o interesse e o engajamento do público, atraindo mais
torcedores e fãs para o esporte;
Investimentos na seleção nacional: com a Copa do Mundo, a Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) tem destinado mais recursos para a preparação e o desenvolvimento
da seleção feminina. Isso inclui melhores condições de treinamento, salários e
estrutura para as jogadoras;
Impacto nos clubes:
o maior destaque e investimento na seleção feminina pode inspirar os clubes
brasileiros a também investirem mais em suas equipes femininas, buscando
profissionalizar a modalidade. Isso pode levar a melhores salários, estrutura e
oportunidades para as atletas;
Políticas públicas e incentivos: o Ministério do Esporte tem indicado que a Copa do Mundo Feminina será
um foco de políticas públicas em 2027, buscando promover a equidade de gênero e
o fortalecimento do futebol feminino no país. Isso pode resultar em mais
incentivos e programas de apoio à modalidade;
Mudança cultural e combate ao preconceito: a maior visibilidade e valorização do futebol
feminino durante a Copa do Mundo pode ajudar a combater o preconceito histórico
que a modalidade enfrentou no Brasil, contribuindo para uma mudança cultural em
relação à participação das mulheres no esporte.
“A
realização da Copa do Mundo Feminina de 2027 no Brasil representa uma
oportunidade única para impulsionar a profissionalização e o desenvolvimento do
futebol feminino no país, com impactos positivos em diversos aspectos”,
completa El Khatib.
DISPARIDADES ENTRE ATLETAS HOMENS E MULHERES
A
análise dos valores movimentados entre o futebol masculino e feminino no Brasil
revela disparidades significativas em diversas áreas. No futebol feminino,
apesar do crescimento, os valores ainda são substancialmente menores em
comparação com o futebol masculino.
Confira algumas disparidades de prêmios e patrocínios:
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Na Copa do Mundo Feminina, as jogadoras recebem consideravelmente menos em
prêmios do que os jogadores na Copa do Mundo Masculina, com uma diferença de
US$ 330 milhões;
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A análise das contas financeiras do Canada Soccer mostra que a federação gasta
mais em times nacionais de futebol masculino do que em times femininos, com um
gasto de US$ 11 milhões para os times masculinos e US$ 5,1 milhões para os
times femininos em 2021. A seleção feminina do Brasil, por exemplo, receberá
quase R$ 8 milhões por premiação e metas atingidas na Copa América;
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O futebol feminino tem mostrado evolução nos valores de vendas de atletas, com
um exemplo no futebol brasileiro de três atletas sendo vendidas por R$ 9,49
milhões em 2023, representando 30% do total movimentado. Em contraste, o
futebol masculino movimenta um total de R$ 52,9 bilhões na economia brasileira,
com a CBF, federações e clubes respondendo por R$ 11 bilhões dessa
movimentação.
“Esses dados evidenciam a disparidade nos valores movimentados entre o futebol masculino e feminino no Brasil, abrangendo prêmios, patrocínios, vendas de atletas e impacto econômico geral, refletindo desafios persistentes em alcançar equidade financeira e reconhecimento no esporte. Além disso, as diferenças salariais são gritantes entre homens e mulheres e a justificativa dada pelos patrocinadores e clubes de futebol é o menor retorno das vendas de camisas, ingressos e planos televisivos; quando comparados com o futebol masculino”, finaliza o professor da FECAP.
Ahmed Sameer El Khatib - Doutor em Administração de Empresas, Doutor em Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC/SP e graduado em Ciências Contábeis pela USP. É pós-doutor em Contabilidade pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Administração pela UNICAMP. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi chefe geral do orçamento da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo entre os anos de 2016 e 2019.
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