Em 2020, a ciência se reafirmou como essencial
nas soluções dos grandes desafios da humanidade e na operação do nosso dia a
dia. Desde os estudos em busca de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus
aos recursos tecnológicos que passamos a utilizar com mais frequência em busca
de uma interação social segura. Se antes ela não tinha um palco, agora a
ciência é a estrela.
Todos estão com os olhos voltados para os
cientistas em busca de uma resposta e, nesse processo, estamos trocando mais
informações a respeito. A qualidade dessa troca é uma preocupação comum e é
diretamente afetada pelo modo como lidávamos com esses assuntos anteriormente.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com dados captados entre 17 de
março e 10 de abril revelou que 65% das fake news envolviam curas não
comprovadas para a COVID-19.
As notícias falsas se aproveitam de um vácuo
comunicacional entre o público em geral e as pesquisas que são realizadas. De
acordo com o estudo “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil”
realizado em 2019 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e
pelo Centro de Gestão em Estudos Estratégicos (CCGE), o brasileiro reconhece a
importância sobre a ciência e tecnologia no país, mas conhece pouco.
Outro dado interessante da mesma pesquisa do MCTI
é que a maioria das pessoas afirma ser capaz de entender o conhecimento
científico se ele for bem explicado. Portanto, estamos falando de um problema
de comunicação evidente. É necessário formarmos cientistas comunicadores
expressivos, que defendam e promovam sua pesquisa e que se conectem com a
sociedade.
Devemos deixar de lado a imagem do cientista
enclausurado em seu laboratório e inacessível. O trabalho com as competências
científicas de comunicação é transversal; ele beneficia o projeto de pesquisa,
mas ultrapassa o universo acadêmico e se consolida também como uma competência
para a vida, como competência do Século XXI. Um bom pesquisador deve saber
expressar sua criatividade e seu pensamento crítico e responder aos estímulos
de outras pessoas ao passo que lida com as próprias emoções.
Nesse ano tão simbólico a todos, o FameLab
Brasil, competição de comunicação científica realizada pelo British Council que
visa formar jovens pesquisadores, anunciou pela primeira vez a vitória de uma
mulher. Gabriela Ramos Leal, de 34 anos, médica veterinária, mestre e doutora
em Clínica e Reprodução Animal, também conseguiu pela primeira vez levar o
Brasil tão longe na competição e vai representá-lo na final do evento
Internacional, que acontece no dia 26 de novembro e será transmitida pelo canal do FameLab no Youtube.
Gabriela, que traz consigo também a
representatividade negra, carregará seu legado para além do seu trabalho
científico. Ela será um exemplo para jovens mulheres de todas as etnias, mas
principalmente jovens negras, que não encontram nos meios tradicionais exemplos
de uma realidade onde o ensino superior é possível. A importância de comunicar
a ciência também está aí, nas pessoas, no imaginário e em criar um mundo
possível.
Democratizar e promover a ciência é urgente e
pode começar já, com os nossos pesquisadores desenvolvendo suas habilidades de
comunicação, para que mesmo no pós-pandemia continuemos engajados e com os
olhos voltados para o material extremamente relevante produzido nas
universidades.
Diana Daste -
diretora de Educação do British Council no Brasil
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