Professores adotam
plataformas que vão das redes sociais a programas de simulação utilizados pelo
MIT para estimular o aprendizado
Quando, em março, as aulas foram suspensas devido à
pandemia de Covid-19, o professor Thuann Wueslley Medeiros, que leciona para a
1ª série do Ensino Médio do Colégio Positivo - Joinville, sentiu que precisaria
de mais do que apenas a criatividade para despertar o interesse dos alunos nas
aulas on-line. Separados por algumas telas de distância, os estudantes tinham à
disposição uma infinidade de opções mais atraentes que o conteúdo de Biologia,
por mais dedicado que fosse o professor.
Para ganhar a atenção e, mais que isso, o interesse
de sua plateia agora virtual, Medeiros foi buscar na tecnologia e nas redes
sociais a inspiração para continuar ensinando os conteúdos em plataformas que
os adolescentes já utilizam diariamente para o entretenimento. Com o celular na
mão, passou a produzir alguns vídeos sobre biologia para o TikTok. “Hoje em dia
chamar a atenção da garotada está se tornando cada vez mais difícil, por isso
acredito que explorar as novas tecnologias é super importante para chegar um
pouco mais próximo dessa galera e da linguagem que eles estão acostumados a
usar”, explica.
Com mais de dois mil seguidores na rede, o
professor compartilha conhecimentos usando a estética de vídeo que conquistou
os mais jovens por lá. O aplicativo, que tem mais de 100 milhões de usuários, é
uma plataforma de vídeos curtos em que os desafios são muito populares.
TikTok para todas as idades
Mas ele não é o único que descobriu no TikTok uma
maneira de manter o foco dos estudantes durante a quarentena. Luciane Denise
Gualdezi trabalha com Educação Infantil no Colégio Positivo - Master, em Ponta
Grossa. Não demorou para que ela entendesse que só teria a participação da
turminha, na faixa dos cinco anos, se estivesse onde eles gostavam de estar.
Assim, ela também aderiu à plataforma para abordar alguns conteúdos.
Foi com um desafio que a professora conseguiu um
engajamento surpreendente da turma. “A aula era sobre óculos e, para ser mais
atrativa, eu disse que seriam óculos mágicos. Coloquei os meus e mostrei que,
com eles, eu podia estar em um reino de princesas, com os dinossauros ou no
Egito antigo. Editei e passei para os alunos, que depois precisavam gravar um
vídeo para me mostrar o que eles imaginavam com os óculos deles”, conta.
Outra adepta do TikTok é a professora Vanessa
Antunes Marinho Rodrigues, que trabalha com o 1º ano no Colégio Positivo -
Jardim Ambiental. “Quando trazemos ferramentas diferentes, proporcionamos uma
ampliação da visão dos estudantes. Existem outras formas de vivenciar os
conteúdos. Assim, a aula se torna mais atrativa, mais interessante e mais
significativa”.
Simulação nível Harvard
Além do aplicativo mais comentado no momento, o
professor Medeiros começou a trabalhar com os estudantes utilizando o Labster,
uma plataforma on-line que simula situações de laboratório e é usada por
instituições de renome internacional como o Massachusetts Institute of
Technology (MIT) e a Universidade de Harvard. “Como a disciplina conta com
aulas práticas, foi interessante levar esse cenário virtual aos alunos. Por ser
uma forma dinâmica e interativa de aprendizado, eles têm um desafio ainda
maior”, explica o professor.
No Labster estão disponíveis conteúdos digitais não
apenas da área da Biologia, mas também de Química, Física, Medicina e
Engenharia. Dentro dos materiais de simulação da seção de Biologia estão mitose
e meiose, hematologia e clonagem molecular. Dessa forma, os estudantes podem
ter uma ideia melhor de como os processos biológicos acontecem, fixando o
conteúdo com mais facilidade.
Luz, câmera, ação
Por sua vez, o professor Leonardo de Araujo, que
leciona para crianças e adolescentes do sexto ao nono ano do Colégio
Positivo, lançou mão de um recurso há muito utilizado pela indústria do
cinema, o chroma key. De costas para um fundo verde, ele passou a dar
aulas não mais na sala de casa, mas em ambientes tão diversos quanto uma
caverna, o fundo do mar ou uma metrópole movimentada.
“Os recursos audiovisuais não servem apenas para um
fim estético, mas para fazer o olho da criança brilhar enquanto ela está em
casa. Servem para que ela se sinta em um ambiente de aprendizado, mesmo que
isso saia do físico e vá para a imaginação”, avalia. Além de seu inseparável chroma key,
Araujo também adquiriu uma mesa digitalizadora e, com ela, passou a desenhar
durante as aulas.
Snap Camera
Sempre que Patricia Zettel começa uma aula, seus
alunos do Infantil V do Colégio Positivo - Jardim Ambiental já ficam esperando
para ver o que vai aparecer no rosto da professora. Desde que as aulas on-line
começaram, ela passou a utilizar regularmente o Snap Camera, aplicativo dos
mesmos criadores do Snapchat que permite a aplicação de filtros e outros
recursos visuais. “Há alguns dias, eu estava dando uma aula sobre aracnídeos e
aí coloquei uma aranha no meu rosto. As crianças acham o máximo, participam
muito mais da aula”, conta.
Dedicada a encontrar formas lúdicas de desenvolver
os conteúdos e, ao mesmo tempo, tornar mais leve este momento complexo para a
Educação, Patricia também usa plataformas de jogos durante as aulas. Ela
garante que, depois de um período de adaptação, hoje estão todos habituados a
esses recursos. “Dependendo das brincadeiras, posso escutar os pais dando
risada junto”, diverte-se.
Vinte mil léguas sem sair de casa
Se a tecnologia é uma ferramenta nova e poderosa
para transportar as crianças para outras realidades e garantir um aprendizado
mais sólido, a professora Crisleine Nóbrega, que leciona para o 4º ano do
Ensino Fundamental, descobriu que a imaginação continua sendo uma aliada tão poderosa
quanto. Usando recursos de vídeo, ela decidiu dar suas aulas por meio de
viagens virtuais.
Ainda que, neste momento, levar sua turma
fisicamente para outros lugares não seja possível, a professora partiu para uma
abordagem interdisciplinar que conta com muita imaginação e uma boa pitada de
tecnologia. “Eu monto roteiros de avião e consigo englobar muitos conteúdos.
Por exemplo, vamos viajar pela tela para observar o relevo do Brasil, então vou
colocando as imagens da planície, do planalto, das montanhas. Exploramos os
sotaques, os biomas, a história de cada lugar”, explica.
Dessa forma, Crisleine tem conseguido a
participação mesmo de alunos que costumavam ser mais quietos nas aulas
presenciais. “Eu percebo que algumas crianças, que são muito tímidas na escola,
falam bastante no ambiente virtual, se soltam, se expressam e aprenderam muita
coisa neste período”.
De todas as experiências, uma conclusão é
unanimidade: a pandemia possibilitou uma verdadeira revolução nas aulas desses
professores, que agora garantem que vão continuar utilizando esses recursos
mesmo depois que ela passar. “Ironicamente, a tecnologia está aí para deixar a
aula mais humana”, completa o professor Leonardo.
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