Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam mais de 36 mil nascimentos anuais por meio de tratamentos de fertilização. Somente no Brasil foram feitas cerca de 40 mil fertilizações in vitro em 2017. Segundo o IBGE, mais de 10 mil crianças são geradas por tratamento de reprodução assistida por ano, no país. Hoje, há cerca de 166 serviços de reprodução assistida cadastrados na Anvisa, que fazem o trabalho de coleta de óvulos, inseminação do espermatozoide no óvulo e transferência do embrião para o útero.
Segundo a ginecologista e obstetra, Dra. Karina Tafner, especialista em endocrinologia ginecológica e reprodução humana pela Santa Casa, e em reprodução assistida pela FEBRASGO; as taxas de sucesso dependem de vários fatores como morfologia uterina, integridade endometrial, resposta ao estímulo ovariano, qualidade do sêmen, idade do homem, reserva ovariana, qualidade do embrião, laboratório utilizado, a causa da infertilidade e, o mais importante, a idade da mulher.
O crescimento pela procura do tratamento, segundo a Rede Mater Dei de Saúde, está relacionado a questões sociais ou problemas de infertilidade. “Outro fator que tem se tornado comum são os casais homossexuais que sonham com filhos e recorrem ao tratamento. Há também casais que querem resguardar os gametas previamente a um tratamento oncológico, o chamado oncofertilidade e os que recorrem ao útero de substituição (popularmente conhecido como barriga de aluguel)”, acrescenta Karina Tafner.
Abaixo, a especialista aponta as características de ambos os
procedimentos:
Inseminação artificial ou intrauterina (IIU)
Chamada de tratamento de baixa complexidade, engloba o coito programado
e a IIU, visando aumentar a chance de gestação através da fecundação dentro do
organismo feminino. A IIU pode ser indicada em mulheres anovuladoras, quando há
fator masculino leve, distúrbios de ereção ou ejaculação, endometriose leve,
uso de sêmen de doador ou sêmen congelado anteriormente e quando não se sabe a
causa da infertilidade do casal, após pesquisa adequada. “Tanto no coito
programado quanto na IIU, os passos iniciais são os mesmos, começando pelos
tratamentos com a estimulação ovariana”.
- Estimulação ovariana: Promove a ovulação em pacientes
com alteração da mesma ou promove o desenvolvimento de múltiplos óvulos em
pacientes com ovulação normal. As medicações podem ser administradas via oral
ou subcutânea. O período de uso da medicação para estímulo ovariano e
crescimento folicular (o folículo consiste em camadas de células que contêm o
óvulo) varia, em média, de 8 a 12 dias.
Durante o período de estímulo ovariano, a paciente deve realizar
ultrassons transvaginais seriados, a fim de acompanhar e avaliar o tamanho dos
folículos em crescimento. Quando esses folículos atingem o tamanho ideal para a
ovulação, é administrada nova medicação que leva à ruptura folicular e
consequente ovulação.
“Até essa etapa, ambos os tratamentos de baixa complexidade são
semelhantes. No coito programado, o casal é orientado a ter relações sexuais em
casa nos dias seguintes. Já na IIU, de 36 a 40 horas após a administração da
medicação para ruptura folicular”, frisa Karina Tafner.
- Inseminação: O sêmen é coletado (por masturbação) e
processado em laboratório especializado. Em posição ginecológica, a paciente
recebe o sêmen, introduzido dentro do útero através de um cateter que passa
pelo colo uterino.
- Pós procedimento: Após a IIU, a paciente permanece em
repouso por cerca de 20 minutos na sala. Depois, é liberada para retomar suas
atividades diárias, sem restrições.
- Taxas de sucesso: Por ser um tratamento mais simples, há
menores taxas de gestação, variando em torno de 10 a 20%.
- Riscos: Os riscos da IIU são praticamente inexistentes.
Os maiores são de gestação gemelar (gêmeos).
- Custo: Inseminação – de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil
Tratamento que inclui consultas, recolhimento e tratamento do esperma e
inserção no útero – de R$ 500 a R$ 2 mil
Hormônios injetáveis – R$ 1 mil
Fertilização in vitro (FIV)
A FIV é um tratamento de alta complexidade, em que a fecundação, ou
seja, a formação do embrião, ocorre no laboratório de reprodução assistida,
fora do organismo feminino. “A FIV é o único tratamento que pode ser realizado
quando há um fator masculino grave ou obstrução das trompas. É indicado após
falha de tratamento de baixa complexidade, quando o tratamento será realizado
com óvulos doados, útero de substituição, casais sorodiscordantes, endometriose
grave, baixa reserva ovariana e para gestar com oócitos congelados
previamente”, diz a especialista. A etapa inicial da FIV também consiste em
estímulo ovariano, para a produção de um maior número de óvulos a serem
manipulados.
- Estímulo ovariano: Tem duração semelhante ao estímulo
dos tratamentos de baixa complexidade. “Porém, quando os folículos atingem o
tamanho desejado, a paciente não sofre a ruptura folicular. É agendada a
aspiração folicular para a captura do óvulo”.
- Aspiração folicular: Ocorre em centro cirúrgico, sob
sedação. Os óvulos são aspirados por agulhas específicas, ligadas ao transdutor
do ultrassom transvaginal. A agulha penetra nos ovários e nos folículos,
aspirando todo o conteúdo folicular. Este é encaminhado imediatamente para o
laboratório de FIV (que costuma ser anexo ao centro cirúrgico). O procedimento
dura cerca de 20 minutos. No mesmo momento, os espermatozoides são colhidos
(por masturbação) e também encaminhados ao laboratório.
- Fertilização: O encontro dos óvulos com os
espermatozoides acontece no laboratório, e o embrião tem seu desenvolvimento
acompanhado por 3 a 5 dias.
- Transferência do embrião para dentro do útero: É feita
através de um cateter que é inserido pelo colo do útero, com a mulher em
posição ginecológica, após 3 ou 5 dias da retirada dos óvulos.
O número de embriões transferidos varia com a idade da mulher: até 35
anos (2 embriões), de 36 a 39 anos (3 embriões) e mais de 40 anos (4 embriões).
- Pós procedimento: Após a punção ovariana e a
transferência de embriões, a paciente deverá permanecer em repouso por 24
horas.
- Taxas de sucesso: As taxas variam em cerca de 50% nas
mulheres com menos de 35 anos até menos de 10% em mulheres com 44 anos. Após
essa idade, a taxa cai drasticamente.
- Riscos: Os maiores riscos na FIV são a síndrome de
Hiperestímulo Ovariano, sangramento durante a punção ovariana, infecção (cerca
de 0.1-3%), lesão de estruturas pélvicas, dor pélvica e abdominal leve à
moderada. Existe um pequeno risco (1%) de gravidez ectópica (tubária).
- Custo: A FIV possui maiores taxas de gestação, mas, em
contrapartida, os custos também são maiores por ser um tratamento de alta
complexidade.
Fertilização in vitro clássica – de R$ 10,5 mil a R$ 14 mil
Tratamento que inclui consultas, exames, fertilização e inserção no
útero – de R$ 7 mil a R$ 9 mil
Hormônios e medicamentos – de R$ 3 mil a R$ 5 mil
Fertilização in vitro com inserção de esperma – de R$ 11,3 mil a R$ 16,5
mil
É o valor da fertilização in vitro clássica, mais o procedimento de
injeção do espermatozoide dentro do óvulo, que custa entre R$ 800 a R$ 2,5 mil
Fertilização in vitro simplificada – aproximadamente R$ 5 mil
Tratamento que inclui consultas, exames, fertilização e inserção no
útero – R$ 3,5 mil.
Hormônios e medicamentos – R$ 1,5 mil
Segundo Karina Tafner, em ambos os casos, os possíveis efeitos
colaterais do estímulo ovariano são:
• Cefaleia
• Irritabilidade
• Aumento da libido
• Hematomas e dor no local da injeção
• Náuseas e, ocasionalmente, vômitos
• Reações alérgicas temporárias no local da injeção (vermelhidão e/ou
coceira)
• Mastalgia (dor mamária)
O teste de gravidez deve ser realizado após 12 dias da transferência do
embrião na FIV e 14 dias na IIU. Assim que a mulher engravida, a gestação
evolui como qualquer outra, independentemente da forma como foi realizada. E a
taxa de aborto espontâneo após a fertilização in vitro é semelhante à taxa após
a concepção natural.
“Vale lembrar que todos os casais com indicação de IIU podem optar por realizar
FIV, devido às maiores taxas de gestação alcançadas com esse procedimento. No
entanto, os casais com indicação específica de FIV não têm outra opção de
tratamento”, finaliza Karina Tafner.
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